Juscelino Souza | A TARDE

Em Vitória da Conquista, uma ocupação desordenada deu lugar a 14 bairros ao longo da Serra do Periperi. A prefeitura não tem controle sobre o número de residentes nessa área, já que inexiste cadastro.

Em uma das casas mora a diarista Ana Paula Santos Ribeiro, 35 anos, protegida por um pequeno muro de alvenaria que a protege de um barranco. Os riscos de desabamento não atingem somente a área onde ela vive, com o marido e três filhos.

A maioria dos dez mil moradores do bairro Nossa Senhora Aparecida padecem do mesmo drama, que aumenta a cada temporal. Os vizinhos também sofrem com outros problemas causados pela erosão, como rachaduras nas paredes e ruptura no chão das casas.

“A gente vê a hora disso aqui tudo desabar e a gente despencar ladeira abaixo.”, diz a moradora Cleide Novais.

A Defesa Civil do município sustenta em nota que “monitora a Serra do Periperi para coibir a construção, proibida, de casas nas encostas e avaliar as condições das residências mais próximas à serra”.

Degradação Além do Aparecida, outros 13 bairros irregulares formam o cinturão de casas no entorno da Serra do Periperi, área de preservação ambiental, mas que nem por isso escapou da degradação ao longo de 20 anos.

Nesse período, a única ação de desocupação aconteceu em2000 com a retirada de 12 famílias que desmataram para erguer barracos e passaram a extrair areia e cascalho.

“A serra está desestruturada para reter a água da chuva, daí o risco de uma catástrofe não estar descartado”, adverte André Cairo, ambientalista presidente do Movimento Contra a Morte Prematura (MCMP).

O município não possui dados exatos sobre o número de moradores, porém o ambientalista garantequemaisde70 mil pessoas vivem em áreas consideradas de risco. Faltam escolas, postos de saúde, creches, oportunidade de emprego e programa habitacional.

O ambientalista calcula que, para suprir essa lacuna habitacional, incluindo sem-teto, pessoas que “moram de favor” ou aluguel de áreas críticas, seriam necessárias pelo menos 30 mil novas moradias em Vitória da Conquista.

Sememprego,maisde60% dos moradores dependem exclusivamente de transferência de renda por meio de programas como o Bolsa Família.

“Antigamente90%das águas das chuvas ficavam retidas pela vegetação alta na parte baixa e rasteira na parte alta da serra, mas tudo foi extraído para dar lugar a esses 14 bairros, quando na verdade não deveria existir um sequer”, assinala Cairo.

Desaparecimento As estruturas destruídas acabaram obstruindo minadouros.

Eram 104 mananciais até 1990. Agora, segundo cálculos do MCMP, só existem 19 pontos d’água. Cortada pela BR 116 e tombada em 1996 para criação de uma reserva ambiental, a Serra do Periperi tem18kmdeextensão e cerca de um km de largura com ponto culminante na área do “Cristo Crucificado”, obra de Mário Cravo Júnior, com 33 metros de altura.

O que restou das florestas, estimadas em três mil hectares, é hoje a chamada Mata do Poço Escuro, uma área de apenas 15 hectares. É o único local ainda preservado, onde o Ibama introduziu macacos, preguiça, arara, quati, sagui, tamanduá e jiboia.

A Prefeitura de Conquista informou, por meio de nota emitida pela Secretaria de Comunicação, que, “a partir da promulgação da Lei Municipal de Habitação (Lei 1.186/2003), as ocupações irregulares em áreas no entorno da Serra do Periperi não são permitidas e que as áreas ocupadas antes da lei estão em processo de regularização fundiária”.

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