ANDRÉ AVELAR – estadão.com.br

Hassan Ammar/AP

Jacob Zuma e Joseph Blatter na abertura da cerimônia de abertura da Copa

SÃO PAULO – A bola ainda não começou a rolar, é verdade. Ainda assim, a África do Sul já deu nesta quinta-feira, 10, mostras do que será a 19.ª edição da Copa do Mundo Fifa. Em uma cerimônia de abertura cercada de orgulho e colorido, no Orlando Stadium, em Soweto, cerca de 30 mil pessoas foram ao delírio em um misto de show, política, mas sobretudo, alegria por receber pela primeira vez o evento.

Eterno líder revolucionário, o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela não compareceu ao estádio. Aos 91 anos e com a saúde debilitada, suas aparições daqui em diante serão cada vez mais raras. No entanto, o símbolo do fim do regime do apartheid é aguardado na partida inaugural.

Primeira vez no continente africano, foi a primeira vez também que a cerimônia de abertura não aconteceu no mesmo dia do jogo de abertura – a organização temia estragos demasiados no gramado. Nesta sexta, a anfitriã África do Sul enfrenta o México, no Soccer City, às 11 horas. Às 15h30, também pelo Grupo A, é a vez do Uruguai encarar a França, no Green Point Stadium.

Show. A cerimônia começou pontualmente às 20 horas (15 horas de Brasília). Tambores tribais abriram os trabalhos com ritmos e cores variados no palco. Em seguida, o internacionalmente conhecido sucesso Pata pata, na voz da jovem revelação local Lira, ao lado do trompetista Hugh Masekela.

Uma enxurrada de artistas locais ainda fariam suas apresentações. Mas a plateia foi mesmo ao delírio com o pop do Black Eyed Peas, de Alicia Keys. A dançante Waka waka – Time for Africa, da colombiana Shakira encerrou a festa em grande estilo.

Will.i.am deu uma singela demonstração do carinho de todos com a seleção brasileira. Enquanto cantava Wavin` Flags, a música que promete embalar toda a Copa do Mundo, ele acenava com uma bandeira do País. O ex-jogador Sócrates também esteve no palco.

As apresentações – ensaiadas tão secretamente quanto o esquema tático de Coreia do Norte, Eslovênia ou Nova Zelândia – não encantaram pela pirotecnia ou efeitos especiais. Nem de longe se compara, por exemplo, com a grandiosidade vista no Ninho de Pássaro, nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Muito mais o valor simbólico estava presente no rosto de cada torcedor da “nação arco-íris”.

Política. “Futebol não é só um jogo. Futebol conecta as pessoas”, disse o presidente da Fifa Joseph Blatter. “E, claro, futebol tem tudo a ver com música. Estou muito feliz por estar em Soweto.” O presidente Jacob Zuma foi além. Pediu que seu povo demonstrasse “todo esse calor até eles [os visitantes] deixarem a África.”

“A África está mostrando ao mundo que tem a capacidade de lidar com qualquer assunto do mundo. Estamos muito feliz em realizar a Copa 2010. Gostaríamos de agradecer a Fifa por ter tomado a decisão de ter trazido a Copa para cá”, disse Zuma. A Copa do Mundo em todos os continentes foi um sonho que começou ainda quando João Havelange era presidente da entidade máxima do futebol.

Alegria. Nem o alto preços do ingresso – cuja renda promete ser revertida para a Fundação “1 Goal”, mantida pela Fifa – e a proibição das tão tradicionais quanto barulhentas vuvuzelas encobriram a noite de festa. Os torcedores pagaram 459 rands (aproximadamente R$ 100) pela entrada mais barata. Nas arquibancadas, um clima de celebração tomava conta.

Prêmio Nobel da Paz de 1984, o arcebispo Desmond Tutu, companheiro de Mandela desde os tempos da segregação racial no país, roubou a cena. Com um gingado atípico para um senhor de 78 anos, ele emocionou a todos ao contar sua história sem cair em pieguice.

“Sejam bem vindos à África sagrada. Antes de falar quem estará na final (risos)… Acho que temos que fazer uma homenagem ao homem a que devemos tudo isso. Ele está em Johanesburgo e se todos nós gritarmos bem alto, ele poderá ouvir: viva Nelson Madiba Mandela!”, puxou Tutu.

Gero Breloer/AP
Cerca de 30 mil espectadores acompanharam o show no Orlando StadiumHassan Ammar/AP
A cantora colombiana Shakira encerrou o show com o sucesso ‘Waka Waka’

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