Luciana Xavier – O Estado de S.Paulo

Apesar de a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) terem criado um pacote de 750 bilhões contra crises, para tentar evitar um contágio dos problemas fiscais da Grécia sobre outros países da região e proteger o euro, o bloco europeu ainda tem um longo caminho pela frente, em que um novo mergulho na recessão se mostra inevitável, acredita o economista Barry Eichengreen.

 Professor de Economia e Ciência Política na Universidade Califórnia, Berkeley, Eichengreen é considerado um dos maiores especialistas na história e no funcionamento do sistema financeiro e monetário internacional.

“Os governos não tomaram medidas para consolidação fiscal e a União Europeia não adotou o pacote de resgate até que fosse tarde demais”, disse. “Agora chegou-se a um ponto em que é praticamente inevitável uma maior desaceleração da economia europeia”, disse o professor à Agência Estado.

O pacote de 750 bilhões pode ajudar a resolver os problemas da Europa?

Essa história não acabou. O pacote ainda está em andamento. O Parlamento europeu tem de concordar e, para ter acesso ao dinheiro, os países terão de negociar um programa com o FMI, o que eles não querem fazer. A parte importante não foi o pacote, mas a decisão do Banco Central Europeu de comprar bônus de Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda. Isso permitiu que o mercado da dívida se acalmasse e deu algum tempo aos governos. Espanha e Portugal anunciaram medidas fiscais.

O medo continua rondando os investidores. Essas preocupações têm fundamento?

Ainda há incertezas sobre o que os Parlamentos da Espanha e de Portugal vão fazer. Ainda haverá desaceleração econômica na Europa e recessão nos países mais ao sul. Mas a volatilidade deve acabar.

O sr. está otimista de que o euro vai sobreviver?

O euro foi punido pela crise, mas ele ainda é melhor do que qualquer outra alternativa.

O economista Kenneth Rogoff sugeriu que Grécia e Portugal devem ser colocados para fora da zona do euro e fala-se que o presidente Sarkozy teria ameaçado sair do bloco. Há risco de fragmentação da zona do euro?

Os últimos anos nos ensinaram que tudo é possível. Mas acho que a fragmentação é pouco provável. Um default (calote) grego é mais provável. Reestruturar dívida não é o mesmo que abandonar o euro e reintroduzir o dracma (moeda grega). Os problemas da Grécia não vão ser solucionados se o país deixar a zona do euro. O país terá de reestruturar sua dívida.

Quando o BCE pode começar a elevar os juros?

A Europa deve ter duplo mergulho na recessão e não haverá suporte fiscal para crescimento. O juro não subirá tão cedo.

O que ainda pode ser feito para evitar recessão na Europa?

É muito tarde para evitar uma dupla recessão. Os governos não tomaram medidas para consolidação fiscal necessária, a UE não adotou seu pacote de resgate até que fosse tarde demais e agora chegou-se a um ponto em que é praticamente inevitável a desaceleração da economia.

Quanto tempo levará então para a Europa se recuperar?

Depende das reformas, mas estamos falando de anos.

Até que ponto os EUA estão a salvo?

Os indicadores mostram que a retomada está se acelerando e a Europa não vai ajudar nesse processo. A pior coisa que poderia acontecer seria Europa e China desacelerando ao mesmo tempo. Vamos torcer para a China continuar indo bem.

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