O Flamengo se classificou às oitavas de final da Libertadores no sufoco, com a pior campanha entre os 16 times que avançaram. Por conta disso, pegou logo de cara a equipe de melhor desempenho na fase de classificação, o Corinthians. E não se importou. Nesta quarta-feira, o atual campeão brasileiro foi para o intervalo do jogo no Pacaembu perdendo por 2 a 0. Mas o Rubro-Negro mostrou poder de reação, fez o gol de que precisava e, mesmo derrotado por 2 a 1, avançou às quartas. E impediu o Timão de realizar o sonho de ganhar o título do torneio internacional no ano do seu centenário.

Graças a Adriano e Vagner Love. No primeiro jogo, na vitória por 1 a 0 no Rio de Janeiro, o Imperador foi decisivo. Marcou de pênalti o gol do triunfo. Nesta quarta-feira, diante de mais de 35 mil fiéis alvinegros, foi a vez de Love decidir. Após o Corinthians abrir vantagem de maneira avassaladora no primeiro tempo, o Flamengo jogou com o regulamento, demonstrou raça, fez um gol como visitante e avançou para as quartas.

Diferentemente do jogo no Maracanã, que no primeiro tempo mais parecia pólo aquático do que futebol, o duelo desta noite, na capital paulista, foi digno da grandeza de Corinthians e Flamengo. Não houve, é verdade, uma apresentação individual que deixasse o público boquiaberto. Mas emoção não faltou a corintianos e flamenguistas. A bela disputa foi reconhecida pela exigente Fiel, que aplaudiu os alvinegros ao fim do jogo apesar do resultado insatisfatório.

Agora, o Flamengo encara o vencedor do duelo entre Alianza Lima e Universidad de Chile, que se enfrentam nesta quinta, em Santiago. O time chileno venceu por 1 a 0 em Lima. Como teve a pior campanha entre os classificados, o Rubro-Negro faz o primeiro jogo no Maracanã e decide a vaga na semifinal em campo adversário.

Ao Corinthians, restou se consolar com a eliminação do rival Palmeiras na Copa do Brasil e curtir o reconhecimento do torcedor no Pacaembu. 

Não para, não para, não para

Um Corinthians vibrante e competente contra um Flamengo desorganizado e apático. Esse foi o cenário do primeiro tempo do duelo entre paulistas e cariocas. Com o atacante Jorge Henrique no lugar do volante Jucilei, Mano Menezes mandou a campo um time mais ofensivo, o que já era esperado. 

Embalado, o Timão disputou cada bola como se fosse a última do jogo. Pressionado, o Rubro-Negro recuou. Não à toa o goleiro Bruno sofreu um bombardeio nos primeiros dez minutos. Jorge Henrique mandou por cima, Ronaldo tentou de cabeça, Roberto Carlos soltou sua bomba…

Quando tinha a posse de bola, o que era raro, o Flamengo cometia erros bobos. Enquanto isso, Ralf e Elias ganhavam todas as bolas dos rubro-negros no meio campo. Melhor para Danilo e Dentinho, os principais criadores do Timão na etapa inicial. Do outro lado, uma equipe sem cérebro.

Tanto que o primeiro chute a gol dos cariocas só ocorreu aos 18 minutos, quando Jorge Henrique falhou, Adriano avançou no contra-ataque e a bola sobrou para Vinicius Pacheco mandar por cima do gol de Felipe. Por falar no goleiro alvinegro, a cada defesa ou intervenção, ele vibrava como se tivesse marcado um gol.

Essa, aliás, foi uma característica constante nos alvinegros durante o primeiro tempo. A cada lance de perigo, um jogador, fosse ele Dentinho, Elias, Chicão ou Roberto Carlos, olhava para a torcida, com os punhos cerrados, e vibrava. Postura bem diferente da dos jogadores do Flamengo, perdidos em campo.

Confira a galeria de fotos de Corinthians x Flamengo!

O resultado disso tudo só poderia ser o gol do Corinthians. Aos 27 minutos, Danilo fez boa jogada individual pela esquerda e mandou para área, na tentativa de acionar Ronaldo. Mas o zagueiro David chegou primeiro, desviou e marcou contra. A bola ainda bateu na mão do Fenômeno antes de entrar, mas o juiz não viu. 

Marcos Renato/GLOBOESPORTE.COM Marcos Renato/GLOBOESPORTE.COM

Ronaldo comemora com Dentinho o segundo gol corintiano no Pacaembu

Ronaldo, por sinal, mostrou ter assimilado a pressão da torcida e a cobrança do técnico Mano Menezes. Esteve mais presente. Tanto que depois de arriscar de fora da área, de dentro, rasteiro, colocado, ele fez o segundo do Timão. Aos 39 minutos, após excelente jogada de Dentinho pela esquerda, o camisa 9 marcou de cabeça: 2 a 0, numa cabeçada forte, para o chão.

E o Flamengo? Sem reação, só esperou o fim da etapa inicial. 

Só Love, Só Love…
Em desvantagem, já que a vitória de 2 a 0 levava o Timão às quartas de final, o Flamengo mudou. Rogério Lourenço sacou Vinicius Pacheco, que estava no lugar do suspenso Michael, e mandou a campo o experiente Kleberson. Em seu primeiro toque, o pentacampeão – que sequer fora relacionado para o primeiro jogo, no Rio –  fez mais do que o prata da casa.

Logo no primeiro minuto, Kleberson colocou Léo Moura em ótima condição na direita, mas o lateral rubro-negro cruzou mal. Mas ele seria decisivo logo depois. Aos quatro minutos, o meia deu ótimo passe em profundidade para Vagner Love, oportunista e matador, tocar por baixo das pernas de Felipe.

Agência/AFP

Euforia rubro-negra: Léo Moura e Vagner Love comemoram o gol que deu a vaga ao Flamengo

Com esse placar, o Flamengo estava novamente classificado. Preocupada, a torcida do Corinthians ficou alguns minutos em silêncio, assustada com o gol, sem querer acreditar naquele sofrimento. Aos poucos, porém, as vozes se uniram novamente na arquibancada, e os cantos de apoio voltaram.

Embora melhor em campo no início da etapa final, o Fla não conseguia aproveitar eficientemente esse momento. Continuava a errar infantilmente. O Timão, por sua vez, sem o mesmo ímpeto do primeiro tempo, tentava encontrar espaço. Sem conseguir, arriscou em cobrança de falta de Chicão, aos 13. Susto para os rubro-negros.

Mais bem postada em campo do que na etapa inicial, a equipe carioca tentava explorar os contra-ataques e surpreender o time da casa. Quase conseguiu. Aos 15 minutos, Adriano deu ótimo lançamento para Vagner Love, que já estava com a bola dominada quando o árbitro deu impedimento inexistente.

Aos 21 minutos, preocupado, o técnico Mano Menezes resolveu mudar o Corinthians. Tirou Jorge Henrique e colocou Iarley, na tentativa de dar mais força ao ataque. Mas quem chegou com perigo, aos 23, foi o Fla. Vagner Love colocou Adriano em ótima condição, mas o Imperador, lento, demorou a chutar e mandou para fora.

Logo em seguida, mais uma alteração no Timão: saiu Elias, um dos melhores em campo, e entrou Jucilei. E novamente, na sequência, o Rubro-Negro chegou com perigo. Dessa vez, Adriano lançou Kleberson, que chutou errado, quando o centroavante pedia na área. Se por um lado, o Fla conseguia controlar o jogo, do outro, o Corinthians ficava impaciente.

Melhor para o Fla, que quase ampliou com Vagner Love, aos 31. Curiosamente, o atacante, o melhor do time rubro-negro, deixou o campo em seguida para a entrada de Fierro. Os visitantes, então, perderam a referência. E o Corinthians se renovou em campo com uma cabeçada de Ronaldo na trave, aos 37.

Mas foi uma defesa milagrosa de Bruno, após cobrança de falta de Chicão, aos 46, que selou a classificação épica do Flamengo às quartas de final. E fez muitos corintianos chorarem no Pacaembu, vendo acabar o tão acalentado sonho de marcar os 100 anos do clube com a conquista inédita da Libertadores. 

Rubens Cavallari/Folha Imagem/Folhapress/Folha Imagem

Elias chora com a eliminação do Corinthians em pleno Pacaembu

 Ficha técnica: 

CORINTHIANS 2×1 FLAMENGO
Felipe; Alessandro (Paulinho), Chicão, William e Roberto Carlos; Ralf, Elias (Jucilei) e Danilo; Jorge Henrique (Iarley), Dentinho e Ronaldo. Bruno; Léo Moura, David, Ronaldo Angelim e Juan; Rômulo, Maldonado (Toró), Willians e Vinicius Pacheco (Kleberson); Vagner Love (Fierro) e Adriano.
Técnico: Mano Menezes. Técnico: Rogério Lourenço.
Gols: David, contra, aos 27, Ronaldo, aos 39 minutos do primeiro tempo; Vagner Love, aos quatro minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Iarley (C); Juan, David, Willians, Bruno (F).
Público: 35.561 pagantes. Renda: R$ 2.949.424,00
Estádio: Pacaembu, em São Paulo (SP). Data: 05/05/2010. Árbitro: Roberto Silvera (Uruguai).  Auxiliares: William Casavieja (Uruguai) e Marcelo Costa (Uruguai).
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