Allan Brito, iG São Paulo

O Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul lançou, na última quarta-feira, um livro com várias denúncias de irregularidades na realização da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. A obra é intitulada “Player and Referee: Conflicting Interests and the 2010 FIFA World Cup” (Em tradução livre, “Jogador e árbitro: conflitos de interesse na Copa do Mundo de Futebol de 2010”) e foi resumida pelo jornal norte-americano The New York Times recentemente.

Jornalistas investigativos da África do Sul e do Reino Unido foram os autores do livro, que traz à tona seis situações relacionadas a construção de estádios, seleção de fornecedores oficiais, práticas de concorrência pública e estrutura de fiscalização governamental. Tudo isso teria ocorrido sem qualquer transparência e até com manipulações. São citados casos que envolvem propina, fraude e extorsão.

O setor siderúrgico é um dos principais alvos de denúncias. Existem suspeitas de manipulação de preços, o que teria elevado os custos dos projetos de infraestrutura. O livro cita exemplos: o custo para estádios, ferrovias e outras obras era estimado em US$ 310 milhões (R$ 533,2 milhões), mas cresceu para aproximadamente US$ 2,4 bilhões (R$ 4,1 bilhões), o que gera desconfianças sobre possíveis desvios de verba.

O mais grave é que alguns desses investimentos podem ter sido desnecessários. A população da África do Sul teme que alguns dos estádios construídos para o Mundial se tornem “elefantes brancos”. Ou seja, não tenham utilidade após a Copa. O estádio Green Point, na Cidade do Cabo, é um exemplo disso. Ele teve um custo de aproximadamente R$ 1,15 bilhão e só foi feito porque a Federação Internacional de Futebol (Fifa) teria “forçado a barra”, de acordo com o livro.

 Outro problema foi a pouca concorrência aberta pelos lucros com a construção dos estádios ou até mesmo com os serviços oficiais durante o evento. A Match Hospitality é citada como exemplo de empresa suspeita. Ela tem entre os seus acionistas ninguém menos que Philippe Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Com essa facilidade, ela teria conseguido, sem grandes concorrências, direitos exclusivos para oferecer pacotes de hospitalidade a clientes empresariais.

O livro do Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul também utiliza um estudo de impacto econômico realizado pelo Citibank para mostrar que a Fifa é a principal beneficiária com a Copa. Já o país anfitrião teria que “arcar com uma parcela desproporcional dos custos”. A obra chama atenção ainda para as dificuldades que o país já passa, pois sofre com problemas sociais, como falta de habitação, eletricidade e água.

Já a resenha do The New York Times lembrou outras acusações de corrupção e de falta de transparência enfrentadas pela Fifa anteriormente. O jornal destacou que a Copa do Mundo e outros eventos esportivos de grande porte têm um grande potencial de corrupção, o que certamente preocupou o Brasil, país que sediará o próximo Mundial de futebol, em 2014, e a Olimpíada de 2016.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, ainda não foi encontrado para falar sobre todas as denúncias graves feitas através do livro investigativo. Ele está em uma conferência em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, durante esta semana, e posteriormente deverá se manifestar.

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