Milhares de oficiais, soldados e civis se reuniram nesta quarta-feira em cerimônias em toda a China para prestar homenagem às 2.064 vítimas mortas após uma série de terremotos que atingiu a Província de Qinghai na terça-feira passada (13).

As cerimônias foram transmitidas pela TV, e não era possível ver nenhum monge budista tibetano nas imagens. Os monges disseram nesta quarta-feira que foram obrigadas a deixar a área, mesmo tendo sido os primeiros a prestar socorro na área atingida pelo terremoto.

  AP  
Jovens chineses prestam homenagem aos 2,064 mortos em terremoto; houve cerimônias por todo o país
Jovens chineses prestam homenagem aos 2,064 mortos em terremoto; houve cerimônias por todo o país

No epicentro do terremoto, na cidade de Yushu, Província de Qinghai, centenas de trabalhadores do resgate, moradores e crianças vestindo uniformes escolares permaneceram em silêncio para uma cerimônia transmitida nacionalmente pela TV, em um monte onde era possível ver os destroços deixados pelo tremor.

Bandeiras vermelhas da China foram postas a meio palmo, enquanto as sirenes e buzinas de carros, veículos policiais e ambulâncias soaram ao fundo, após três minutos de silêncio que começou às 10h desta quarta-feira (23h de terça-feira em Brasília).

Vestido de preto, com uma flor branca presa na lapela, o secretário do Partido Comunista para a Província de Qinghai, Qiang Wei, pediu que as pessoas se unam para reconstruir o local após o tremor, que deixou também mais de 12 mil feridos.

“O terremoto não teve misericórdia, mas nós temos amor. Vamos enxugar nossas lágrimas e batalhar por umm futuro mais brilhante.”

Em Pequim, o dirigente chinês, Hu Jintao, comandou um tributo silencioso “para expressar nossas profundas condolências”.

O governo ordenou a suspensão de todo tipo de entretenimento, incluindo jogos pela internet e eventos esportivos, para o dia nacional de luto. Os jornais do país foram impressos em preto e branco, em vez de coloridos.

Monges excluídos

Yixi Luoren, chefe do monastério de Gengqing, na Província de Sichuan, disse que 150 monges daquele templo foram enviados à região do tremor, mas 120 deixaram o local até esta quarta-feira por ordem do departamento da Frente Unida do Partido Comunista e do Centro de Relações Religiosas na prefeitura de Ganzi, onde fica o monastério.

“Eles nos pediram isso por telefone”, disse ele. “As autoridades não nos disseram o motivo, mas nós concluimos que eles devem estar preocupados que há muitas pessoas lá e queriam que voltássemos para casa em segurança.”

Woeser, poeta e ativista tibetana baseada em Pequim, disse que conhecidos seus do Tibete e de Han lhe contaram que ordens semelhantes foram dadas a monges de vários outros monastérios. Ela disse que os monges ficaram nervosos e não queriam ir embora, mas não tiveram escolha.

“Oficiais locais disseram a eles, por meio de tradutores em tibetano: ‘Vocês já fizeram tudo. Vocês já fizeram muito. Vocês têm de deixar Yushu agora, ou vai haver problema”, disse ela.

Os monges trabalharam em conjunto com os soldados ajudando a resgatar sobreviventes e a preparar o funeral dos mortos, mas a mídia estatal chinesa tentou diminuir a atuação deles, focando nos esforços da polícia e dos militares.

No passado, Pequim tentou demonizar os monges tibetanos por sua lealdade ao Dalai Laima, seu líder espiritual, que o governo insiste que está tentando lutar pela independência do Tibete.

Tremores

O primeiro terremoto, de magnitude 5, atingiu a região de Qinghai às 18h40 da última terça-feira (13), segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), que monitora a atividade sísmica mundial. O tremor teve profundidade de 18,9 km e epicentro a 230 km de Qamdo, na região do Tibete.

  Arte/Folha  

Na sequência, outros seis tremores de grande magnitude atingiram o mesmo local. O mais forte deles foi registrado com magnitude 6,9 e atingiu a mesma região às 20h49, também segundo o USGS. O instituto afirma que o tremor foi registrado a uma profundidade de apenas 10 km e epicentro a 240 km de Qamdo.

Qinghai é habitada principalmente por tibetanos, mongóis, hui (muçulmanos) e chineses da etnia majoritária han.

Esta foi uma das zonas afetadas pelo terremoto que, em maio de 2008, atingiu o norte da vizinha Província de Sichuan, deixando cerca de 87 mil mortos e desaparecidos. Entre as vítimas estavam milhares de estudantes de escolas primárias.

Cinco milhões de pessoas perderam suas casas no tremor e as autoridades estimaram que o trabalho de reconstrução levaria três anos.

Folha

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