Transporte da cestaria Baniwa, Comunidade Santa Rosa, Içana, (AM). Foto: Beto Ricardo, 1999

A região do Noroeste Amazônico, que abrange a bacia do Alto Rio Negro, onde a linha fronteiriça entre o Brasil e a Colômbia faz um desenho que lembra uma cabeça de cachorro, é habitada tradicionalmente há pelo menos dois mil anos por etnias que falam idiomas pertencentes a três famílias lingüísticas: Aruak, Maku e Tukano.

A despeito do multilingüismo e de diferenças culturais, as 27 etnias que habitam a região – 22 presentes no Brasil – compõem uma mesma área cultural, estando em grande medida articuladas numa rede de trocas e identificadas no que diz respeito à cultura material, à organização social e à visão de mundo. Esta área cultural é, ainda, subdividida em Etnias do Rio Içana, Etnias Maku, Etnias do Rio Uaupés e Etnias do Rio Xié e Alto Rio Negro.

A maior parte da região é constituída por terras da União (Terras Indígenas e um Parque Nacional). A população indígena atual constitui pelo menos 90% do total, embora os mais de dois séculos de contato e comércio entre os povos nativos e os “brancos” tenha forçado a ida de muitos índios para o Baixo Rio Negro ou para as cidades de Manaus e Belém, bem como levado pessoas de outras origens a se estabelecerem ali. A presença de nordestinos, paraenses e pessoas de outras partes do Brasil, e do Amazonas, se concentra nos poucos centros urbanos regionais. É possível dizer que no Alto e Médio Rio Negro existem atualmente 732 povoações, desde pequenos sítios habitados por apenas um casal até grandes povoados e sítios espalhados pelos rios da região. O censo da população indígena da região conta aproximadamente 31 mil índios, número que inclui aqueles que vivem na cidade de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel.

Nesse contexto de diversidade cultural existem muitas características comuns entre as etnias, principalmente no que diz respeito aos mitos, atividades de subsistência, arquitetura tradicional e cultura material. Tais características comuns são mais evidentes entre os Tukano, Baniwa, Tariana e Baré, por um lado, e os Maku, por outro. Por essa razão, os primeiros são por vezes identificados como “índios do rio”. Em contraste, os índios da família lingüística Maku, que possuem uma série de peculiaridades sócio-culturais, podem ser chamados “índios da floresta”. Vivendo longe das margens dos rios navegáveis, os Maku se articulam com os índios do rio, mas não do mesmo modo que estes se relacionam entre si. Os Maku, exímios caçadores, em geral fornecem carne aos índios do rio e também lhes prestam serviços em troca de outros alimentos, como mandioca e peixe.

O principal rio que corta essa região é o Negro, afluente do Amazonas que, antes de entrar no Brasil, tem o nome de Guainía e separa a Colômbia da Venezuela. No seu alto curso, ele recebe, pela margem direita, o Içana e o Uaupés (chamado de Vaupés na Colômbia). Abrange também o Rio Apapóris e seus afluentes, tributário quase inteiramente colombiano do Caquetá, uma vez que desemboca neste último após marcar um pequeno trecho da fronteira com o Brasil. Daí para baixo, o Caquetá passa a denominar-se Japurá.

Manejo do Mundo: comunidades do Rio Negro se encontram

Com o tema Manejo do Mundo: conhecimentos e práticas dos povos indígenas do Rio Negro, o seminário que aconteceu entre 9 e 13 de abril, teve como objetivo propiciar o diálogo entre várias concepções indígenas sobre manejo de recursos naturais, práticas de observação da natureza na constituição de calendários ecológicos, ciclo de vida dos animais e das pessoas, além de práticas de manejo ambiental desenvolvidas pelas associações indígenas locais, educação indígena e articulações com diversos atores sejam cientistas, políticos, sociedade civil em torno da problemática das mudanças climáticas.

O próximo seminário. que vai dar continuidade à discussão sobre o ensino superior indígena do Rio Negro, está previsto para acontecer na segunda quinzena de novembro. A iniciativa é da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e Instituto Socioambiental (ISA), com apoio do Instituto Arapyaú.

Quer conhecer mais os grupos que habitam esta região? No site Povos Indígenas no Brasil está o verbete completo sobre estas etnias.

Globo Amazônia

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