A Polícia Civil de Goiás prendeu neste sábado (10/4) um pedreiro que teria confessado o assassinato dos seis jovens desaparecidos em Luziânia. Admar de Jesus, 40 anos, levou os investigadores a uma área de mata na saída da cidade para Cristalina (GO) e apontou onde estavam os corpos de duas das seis vítimas. A busca pelos restos mortais dos outros adolescentes terá início ainda nesta manhã, com o auxílio de um helicóptero cedido pela Polícia Federal. A perícia da PF vai ajudar a identificar as vítimas, por meio de exames de DNA.
Admar – que cumpriu pena na Papuda por crimes sexuais contra menor – vinha sendo monitorado havia 10 dias. A polícia chegou até o pedreiro porque uma irmã dele passou a usar o celular que pertencia a um dos meninos. Mais quatro pessoas estão detidas. A Polícia Federal, que apoia a Polícia Civil de Goiás nas investigações, efetuou três prisões em Brasília. Os policiais goianos, uma – a da irmã de Admar. Todas foram encaminhados para a 5ª Delegacia Regional de Luziânia (Centro), onde passariam a noite prestando depoimento.

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, Aredes Correia Pires, o suspeito foi identificado por foto. “No começo desta semana, um menor que conseguiu escapar da abordagem foi trazido para a sede da PF em Brasília, onde viu uma imagem de Admar e o reconheceu”, explicou. %u201CPara nós, o crime está solucionado, temos uma confissão e dois corpos”, disse Pires.

Admar foi preso no Parque Estrela Dalva 4, onde mora sozinho. Só recebia a visita da irmã nos fins de semana. Dois dos seis adolescentes desaparecidos viviam no mesmo bairro: Diego Alves Rodrigues, 13 anos, o primeiro desaparecido, e Márcio Luiz de Souza Lopes, 19. O local também fica perto do bairro Parque Estrela Dalva 8, onde outra vítima – George Rabelo dos Santos, 17 – morava. Os demais garotos que sumiram são Fábio Augusto dos Santos, 14 anos, Divino Luiz Lopes da Silva, 16, e Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16. Todos eles moram em algum setor do Parque Estrela Dalva. Na noite de ontem, bicicletas que seriam dos garotos foram encaminhas à delegacia. Elas teriam sido encontradas com os suspeitos detidos.

Dinheiro

Segunda a polícia, o pedreiro atraía as vítimas oferecendo-lhe dinheiro. “Para esse tipo de crime (sexual), acho que não há recuperação. Ele foi solto em 23 de dezembro e, uma semana depois começou a fazer, começou a fazer vítimas em Luziânia”, comentou o delegado Aredes Pires.

Ao saber da prisão de Ademar, Sirlene Gomes de Jesus, 42 anos, mãe de George, afirmou que pouco antes de sumir, o filho trabalhou para Luciano ajudando-o na reforma de uma casa.

Na manhã de ontem, embora as prisões ainda não tivessem sido confirmadas, a notícia de uma suposta solução para o caso dos desaparecidos já circulava na cidade. Os familiares dos adolescentes estavam apreensivos. Mariza Lopes, 42 anos, mãe de Divino Luiz da Silva, 16, não aceitava a possibilidade de o filho estar morto. “Eles são rapazes muito fortes. Para mim, é uma coisa maior.” Para Mariza, o sumiço estava ligado a sequestros ou tráfico de pessoas: “Agora, o que tem que descobrir é onde eles estão e com quem”.

Márcio Luiz de Sousa Lopes, 19 anos, fará 20 anos no próximo dia 18. O mês de abril, para sua família, é um dos mais esperados, pois todos os primos fazem aniversário praticamente juntos. No entanto, a irmã do rapaz, Lúcia Maria de Souza Lopes, 25, conta que ninguém sabe como será a vida sem o rapaz. “Minha mãe está desconsolada, só fica pensativa e quieta. A gente tem que se preparar para tudo. Se ele estiver vivo, graças a Deus, se não estiver, ao menos saberemos onde ele está. Mas, se for isso, vai ser muito doloroso”, contou.

O desaparecimento de George Rabelo dos Santos, 17 anos, completou três meses ontem. A mãe, Sirlene, chegou a mudar de casa, na tentativa de amenizar o sofrimento. Para ela, o pior é ficar na dúvida, sem saber se o filho está vivo, ou morto: “Peço a Deus, todos os dias, para saber o que aconteceu. Por mais doída que seja a resposta, eu quero saber”.

Aldenira Alves de Sousa, 51 anos, e Gláucia Gomes de Sousa, 24, respectivamente mãe e irmã de Diego Alves Rodrigues, 13, o mais novo entre os desaparecidos, também não queriam acreditar na hipótese de o rapaz estar morto. “Temos esperança de ter uma resposta boa”, disse a mãe.

Cronologia
16 de janeiro
O Correio revela com exclusividade o sumiço de quatro adolescentes, em menos de 15 dias, no Bairro Parque Estrela Dalva, em Luziânia.

20 de janeiro
Confirmado o quinto desaparecimento no Parque Estrela Dalva.

24 de janeiro
A Polícia Civil de Goiás atesta o sexto desaparecimento.

1º de fevereiro
Comitiva formada por membros do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa visita mães de desaparecidos e pede esclarecimentos da
Polícia Civil.

3 de fevereiro
A CPI do Desaparecimento de Crianças e Adolescentes, da Câmara dos Deputados, se reúne com as mães dos seis jovens sumidos e sugere intervenção federal.

4 de fevereiro
Familiares fazem passeata na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pedindo intervenção federal no caso.

9 de fevereiro
Ministro da Justiça, Tarso Genro, recebe mães dos familiares e anuncia a entrada da Polícia Federal no caso.

24 de março
Mães participam de audiência pública no Senado Federal e pedem a criação de um Fundo de Amparo às Famílias de Vítimas de Desaparecimento.

Quem sumiu

Márcio Luiz de Souza Lopes,
19 anos
O ajudante de serralheiro foi visto pela última vez às 18h de 29 de janeiro, quando saiu de casa, no Parque Estrela Dalva 4, para andar de bicicleta.

Flávio Augusto dos Santos,
14 anos
O aluno do 8º ano do ensino fundamental mora no Parque Estrela Dalva 7 e desapareceu na manhã de 18 de janeiro após ir a uma oficina de bicicletas no mesmo bairro.

Divino Luiz Lopes da Silva,
16 anos
O estudante da 6ª série do ensino fundamental saiu de casa em 13 de janeiro, por volta das 10h, para brincar com os amigos do Parque Estrela Dalva 5. Não voltou mais para casa.

George Rabelo dos Santos,
17 anos
Em 10 de janeiro, saiu de casa às 11h para encontrar a namorada no Parque Estrela Dalva 4. O aluno da 5ª série do ensino fundamental desapareceu depois de deixar a residência da garota.

Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima,
16 anos
Às 9h40 de 4 de janeiro, o aluno do 5º ano do ensino fundamental saiu de casa para pagar uma conta na lotérica do Parque Estrela Dalva 7. Nunca
mais foi visto.

Diego Alves Rodrigues,
13 anos
O aluno do 9º ano do ensino fundamental sumiu em 30 de dezembro, por volta das 12h, no Parque Estrela Dalva 4. Ele havia saído da residência para ir a uma oficina no bairro.

Correio Braziliense

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