BAGDÁ – Vários ataques com bombas mataram 38 pessoas em Bagdá e outras regiões de maioria sunita do Iraque neste domingo, dia da segunda votação iraquiana para eleger um Parlamento desde a invasão liderada pelos EUA em 2003.

Entretanto, a violência não impediu os cidadãos de irem às urnas escolher 325 parlamentares. Segundo uma fonte oficial do governo americano, 55% dos eleitores devem ter votado hoje. Todavia, os atentados, atribuídos a extremistas sunitas, mostram que ainda são muitos os desafios para a estabilização do país antes das tropas dos Estados Unidos saíram da região de uma vez.

Neste domingo, as urnas foram fechadas às 17h (horário local), mas as pessoas que ainda estavam na fila puderam votar. Havia longas filas em várias zonas eleitorais, em diversas cidades.

No dia anterior, um atentado com um carro-bomba matou quatro peregrinos iranianos e deixou 54 feridos na cidade santa de Najaf.

O rumo político do Iraque é decisivo para os planos do presidente americano de reduzir para metade as tropas americanas durante os próximos cinco meses e abandonar o país completamente no final de 2011.

No ataque mais violento do dia, 25 pessoas morreram em uma explosão em prédio residencial em Bagdá. Outras quatro vítimas fatais foram feitas no ataque a um bloco de apartamento na capital. Um míssil matou quatro pessoas em outro ponto da cidade. Pelo menos 65 pessoas ficaram feridas nestes ataques.

O responsável pela segurança de Bagdá, o general Qasim al Musaui, disse que a maioria dos ataques com mísseis e bombas foram feitos a partir de regiões sunitas da cidade e arredores.

– Estamos em um estado de combate. Estamos operando em um campo de batalha e nossos guerreiros esperam o pior – declarou.

O Estado Islâmico do Iraque, um ramo da Al-Qaeda, advertiu os iraquianos para não votem e prometeu atacar quem o fizer. Os eleitores do país, divididos étnica e religiosamente, têm a chance de escolher entre os partidos islâmicos xiitas que dominaram o Iraque desde a queda de Saddam Hussein e seus rivais laicos.

O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, um xiita, convocou todos a aceitar os resultados da eleição.

– Quem ganha hoje pode perder amanhã. Quem perde hoje, pode ganhar amanhã – disse, depois de depositar seu voto em uma urna na zona verde de Bagdá.

Um dos rivais de Malik, o ex-primeiro- ministro Iyad Allawi, queixou-se de irregularidades no início da votação. O candidato está apelando ao cansaço das pessoas com os anos de conflitos, maus serviços públicos e corrupção e espera conseguir apoio da minoria sunita.

Cerca de 2.600 candidatos de 86 facções disputam 325 vagas do Parlamento. Não se espera que nenhum bloco consiga maioria e a formação de um governo pode levar meses, arriscando a existência de um vazio que grupos armados como o ramo da Al-Qaeda podem explorar.

Eleições disputadas

Poucas eleições no Oriente Médio foram tão disputadas como esta. Seu resultado pode determinar como a democracia do Iraque vai influenciar a região, acostumada a reis e presidentes vitalícios.

– Hoje é o dia no qual os iraquianos falam, enquanto outros guardam silêncio – declarou Ammar al-Hakim, líder xiita do Conselho Supremo Islâmico Iraquiano (ISCI, sigla em inglês), depois de votar.

Maliki, cuja coalizão Estado da Lei se atribui o crédito pela melhoria da situação da segurança desde que o conflito sectário atingiu seu ápice em 2006-07, enfrenta a oposição do ISCI e seus ex-aliados xiitas, que são criticados pelos milicianos sunitas como peões do vizinho Irã.

Ao contrário do que aconteceu na eleição de 2005, os iraquianos desta vez podem votar por candidatos individuais, não apenas em listas de partidos.

– A democracia é caótica no Iraque. Todos mentem – diz Abdul Rasheed al-Tamimi, um trabalhador da cidade xiita de Najaf.

– A única razão por que voto é por ser uma lista aberta e conhece o candidato pessoalmente. Posso cobrar dele se não cumprir suas promessas – acrescentou.

Em Kirkuk, uma cidade disputada por curdos e árabes, Bushra Qassim disse que votava para garantir um futuro melhor para o Iraque.

– Esta eleição é a última oportunidade para que os iraquianos mudem a realidade em que vivem, para não repetir o terrorismo que eu e muitos outros sofremos – disse a mulher de 40 anos, com cicatrizes no rosto, fruto de um ataque com carro-bomba do qual foi vítima em 2008, no qual morreu um de seus filhos e outros três ficaram feridos.

Reuters

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