Agência o Globo

imagem de orlando zapata tamayo na entrada de uma casa em havana marca velório simbólico - ap

HAVANA – após ser adiado para as 7h desta quinta-feira (9h de Brasília), o enterro do preso político cubano Orlando Zapata Tamayo, que morreu na terça-feira após 85 dias de greve de fome, será marcado pela detenção, na véspera, de opositores do governo Castro que não poderão comparecer à cerimônia e pela presença de agentes de segurança do regime. Por decisão de sua mãe, Reina Luisa Tamayo, o dissidente será enterrado em sua cidade natal, a 700 quilômetros de Havana, onde, segundo ela, policiais à paisana se instalaram nas entradas da cidade, nos arredores do cemitério e perto de sua casa.

 O corpo de Zapata foi escoltado pelas forças de segurança de Havana até Banes, na província de Holguín, onde chegou na quarta-feira, quando cerca de 30 dissidentes que tentavam se deslocar para a região foram presos provisoriamente para que não pudessem comparecer ao funeral. Muitos teriam sido mantidos presos em suas próprias casa, mas há relatos de que vários conseguiram viajar a Holguín.

A mãe de zapata afirmou que seu filho foi torturado e disse que sua morte foi um “assassinato premeditado” . Durante um discurso ao lado do presidente luiz inácio lula da silva, que fazia sua quarta e última visita oficial à ilha, o presidente de Cuba, Raúl Castro, responsabilizou na quarta-feira os Estados Unidos pela morte do preso político, e afirmou que só há tortura no país dentro da base americana de Guantánamo.

fidel castro recebe o presidente lula, na quarta-feira, em havana - ricardo stuckert/ presidência

– Lamentamos muito. Ele teve problemas na prisão, foi levado a nossos melhores hospitais. Morreu. Isso se deve à confrontação que temos com os Estados Unidos. Perdemos milhares de cubanos, sobretudo na primeira década, vítimas do terrorismo de Estado – disse Raúl, ao lado de Lula, que também lamentou a morte, mas criticou a greve de fome do cubano.

Na presidência da UE, Zapatero critica Cuba e exige libertação de presos

 Em Madri, o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, que ocupa a presidência rotativa da União Europeia, exigiu nesta quinta-feira a libertação de todos os presos políticos cubanos.

– Podemos imaginar o sofrimiento dos presos políticos cubanos e devemos exigir do regime cubano que devolva a liberdade aos presos de consciência e respeite os direitos humanos – disse Zapatero em nome da EU, na presença dos presidentes das comissões parlamentares das Relações Exteriores dos países membros do bloco, fazendo uma crítica à ilha pouco comum durante seu governo.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, Elizardo Sánchez contou ao GLOBO que houve “30 casos de prisão relacionados à morte de Zapata e outros 30 de prisão domiciliar”. Para Sánchez, Zapata foi vítima de “um crime horrendo”.

– Ele foi mantido num hospital para presos sem UTI e só na véspera de sua morte foi transferido para um hospital melhor, em Havana, quando já era tarde demais.

Curiosamente, antes de ser preso por desacato, em 2003, Zapata não era um dos dissidentes mais conhecidos. Mas seus dias na prisão e a greve de fome por melhores condições motivaram apelos de governos e organismos internacionais. Ele se tornou o primeiro preso político a morrer em greve de fome em 40 anos.

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