Notas fiscais emitidas pela empresa 404 Comunicações Ltda., de propriedade de Frederico Costa Flores de Carvalho – um dos acusados de torturar e executar dois empresários – foram usadas para justificar gastos de verba indenizatória de deputado, demonstrando o grande trânsito do estudante de direito em diferentes setores da sociedade. Até agora, pelo menos duas delas, cada uma no valor R$ 3,8 mil, estão à disposição dos eleitores na contabilidade do deputado Carlos Gomes (PT). Além do Legislativo, Frederico transitou com muita desenvoltura entre diferentes movimentos sindicais na capital e no interior. Notas fiscais da 404 – que teriam como finalidade prestação de serviço de comunicação e agência de publicidade –, foram anexadas à contabilidade da Força Sindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e até mesmo da desconhecida União Geral dos Trabalhadores.

Entenda o macabro caso

Para facilitar o acesso aos sindicatos, Frederico contou com o importante apoio de Carlos Calazans, ex-presidente da CUT e ex-delegado Regional do Trabalho, de acordo com vários sindicalistas ouvidos pelo Estado de Minas. Na segunda-feira, Calazans prestou depoimento espontâneo à titular da Delegacia de Homicídios Sul, delegada Elenice Batista Ferreira, para dizer que também foi vítima do grupo do estudante, que teria tentado extorquir R$ 1 milhão dele mediante ameaça e tortura, em setembro passado. Inclusive, depois do ocorrido, segundo o próprio Calazans, “nenhum sindicato teria contratado as empresas de Frederico”, pois ele teria espalhado no meio sindical todo o caso. “Isso rodou o movimento. Depois disso, ninguém mais teve contato com ele”, disse o ex-sindicalista, que, apesar de confirmar ter apresentado o primo a “muitos amigos, de vários lugares”, nega tê-los incentivado a assinar contratos com a 404 Comunicações.

O último contrato do qual o EM tem conhecimento entre a empresa e sindicatos e deputados é de maio do ano passado, quando a Força Sindical contratou a 404 para elaboração de material de publicidade para as festividades do 1º de Maio, Dia do Trabalhador – maior evento sindical do país. “O contrato assinado é de R$ 10 mil para produção de bunner, testeira e porteira”, diz o atual presidente da Força, Rogério Fernandes, em referência a produtos de publicidade típicos de eventos de grande porte. Ele nega saber de qualquer esquema de Frederico e diz tê-lo conhecido em um prédio no Centro de BH, onde a mãe do acusado, a advogada Maria Izabel Costa Flores de Carvalho, tem escritório. “Se persistissem esses contratos, eu seria uma vítima em potencial”, diz o sindicalista.

Formalmente, a 404 Comunicações não estava registrada em nome de Frederico, mas no de Vinicius Miranda Mol, dono de 90% das ações, e da ex-mulher do estudante, Andréa de Oliveira Alves, com 10%. Era ele quem tinha maior contato com os sindicatos depois da assinatura de contratos – função do bem articulado Frederico Flores. A partir de setembro de 2008, o Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Contagem (Sindiscon) e a Federação Interestadual dos Servidores Públicos Municipais e Estaduais (Fesempre) fecharam contratos de R$ 800 e de R$ 1,5 mil, respectivamente, com a empresa, para prestação de serviços publicitários e de imagem. “Eles eram responsáveis pela criação visual e de arte dos bunners e panfletos. E para a Fesempre eles elaboraram o site”, confirma o presidente dos dois sindicatos, Aldo Liberato. Depois de encerrados os contratos, com duração de um ano e um ano e meio, respectivamente, os serviços não foram renovados, segundo o sindicalista.

Sumiço

Montar o quebra-cabeça para formatar as atividades de Frederico Flores é um verdadeiro desafio, pois ele não tem nenhuma empresa registrada em seu nome. O único registro existente é na Editora Flores, com endereço na rua Guajajaras, no Centro, criada em 2003, também em sociedade com a ex-mulher, com os mesmos 10%, mas cancelada em 8 de fevereiro. Na segunda-feira, o delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigações, apresentou o material apreendido na casa do acusado, que inclui material sobre o nazismo de Adolf Hitler.

Por meio de sua assessoria, o deputado Carlos Gomes confirmou ter assinado contrato com a 404 Comunicações, mas disse jamais ter tido contato com Frederico. “Fomos procurados pelo sócio dele, o Vinícius Mol, que nos ofereceu serviços para montagem do site e publicidade, entre outros. Firmamos um contrato de seis meses, mas fomos obrigados cancelá-lo porque o Vinicius sumiu. Faliu”, disse. Ele contou ainda que o sócio de Frederico foi apresentado aos seus assessores por uma jornalista identificada apenas como Rafaela, estagiária do gabinete do ex-deputado Rogério Corrêa (PT-MG), funcionária da agência de publicidade e apontada como antiga namorada de Fred.

Por motivo semelhante, o Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco cancelou contrato com a 404. Às vésperas do dia firmado para entrega do material – vídeo institucional e serviços de cerimonial – que seria veiculado na posse da nova diretoria, em agosto de 2008, Frederico e Vinícius não haviam entregue o que fora combinado. “O Fred era sempre visto em eventos da Força Sindical. Em contato antigo com o Calazans, ele nos foi apresentado e depois veio com a proposta de promover a posse da nova diretoria”, afirma o presidente do sindicato, Raimundo Nonato Roque Carvalho, que não sabe o valor combinado do contrato.

Estado de Minas

Compartilhe