Do G1

Começa nesta sexta-feira (11) a campanha no rádio e na TV das frentes contra e a favor a criação dos estados de Carajás e Tapajós. O plebiscito que vai definir se os paraenses querem ou não o desmembramento do estado será realizado no dia 11 de dezembro.

Os eleitores do Pará irão à urnas para responder a duas perguntas: “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”.

Em um possível cenário de divisão do Pará, o futuro estado de Carajás será composto por 39 municípios, tendo Marabá como capital; o estado de Tapajós, 27 municípios, e Santarém como capital; e o novo Pará, 77 municípios, e Belém continuaria sendo a capital.

O G1 percorreu o Pará por dez dias para ouvir o que o povo
pensa sobre a separação. Nos próximos dias, será publicada uma série de
reportagens sobre o assunto.

Os paraenses ouvidos pelo G1 que defendem o “não” afirmam
que todo o Pará sairá perdendo com a separação. Já os moradores de regiões
distantes de Belém, como Marabá e Santarém, defendem que só um governo mais
próximo poderá gerar mais emprego e melhorar a infraestrutura básica, diminuindo
a pobreza e a violência.

belem pescador clementino da silva lisboa (Foto: tahiane stochero/g1)O pescador Clementino da Silva Lisboa, em Belém
(Foto:
Tahiane Stochero/G1)

Caso haja a separação, o novo Pará fica com 64% da população em apenas 17% da
área do atual estado. Já Tapajós será o maior em extensão, com 59% da área
territorial, e abrigará a futura Usina Hidrelétrica de Belo Monte, mas com uma
população e um PIB menores. Carajás, com 24% do território, abriga cidades com
alto fluxo migratório devido às riquezas minerais e aos movimentos rurais.
Segundo dados do Ministério da Justiça, o avanço do crack e do oxi fazem com que
o estado já nasça contendo as cidades mais violentas do país.

Na região metropolitana de Belém, o “não” à separação está estampado em
faixas e cartazes. “Acho que o estado deve continuar unido para crescer. Se
dividir, todo mundo vai perder, porque vão separar todas as riquezas do estado e
só vai gerar mais cargos para os políticos”, acredita a professora Maria
Teodora, de 59 anos. No mercado público Ver-o-Peso, próximo ao porto, moradores
da região discutem o tema. “É claro que quem mora em Belém sai perdendo. As
riquezas ficariam todas com Carajás. Eu vou votar no não”, diz o vendedor
Roberto Gomes Menezes.

Já o pescador Clementino da Silva Lisboa diz que deve estar pescando dourado
no Amazonas no dia do plebiscito. “Sempre fico semanas longe da terra. Acho que
não devo votar. Mas meus filhos vão”, afirma.

belem mercado municipal (Foto: Tahiane Stochero/G1)População conversa no mercado público Ver-o-Peso, em
Belém
(Foto: Tahiane Stochero/G1)

No interior do estado, o “sim” parece prevalescer. As campanhas pró-Carajás e
pró-Tapajós trabalham juntas  e defendem que só a separação fará com que haja
desenvolvimento nas regiões onde a população reclama principalmente de problemas
nas áreas de saúde, segurança e transportes.

Para vencer nas urnas, apesar do menor número de eleitores nessas regiões, os
defensores da criação dos dois novos estados apostam no feriado de Nossa Senhora
da Conceição, em 8 de dezembro. Acreditam que a população do novo Pará,
principalmente de Belém, deve viajar no feriado e ficar longe do domicílio
eleitoral.

marabá porco (Foto: Tahiane Stochero/G1)Mercearia de Raimundo Nonato, em Marabá
(Foto: Tahiane
Stochero/G1)

Em Carajás, a dúvida é se a alta porcentagem de moradores procedentes de
outros estados vota no Pará. Segundo o IBGE, quase um terço da população de
Marabá não nasceu no estado. Na região, até mesmo os “estrangeiros”, a maioria
procedente de Maranhão, Piauí, Goiás e Tocantins, defendem a separação. “É um
absurdo o atraso em que vivemos, sem asfalto, sem esgoto, nessa violência. O
dinheiro vai todo para a capital”, diz o cearense Jai de Sá Crato. “Não tem como
piorar separando. Se os impostos que arrecadarmos ficarem aqui na região, terá
mais investimento. Só pode melhorar. Marabá não tem nada”, desabafa o
comerciante Raimundo Nonato, que expunha em frente a sua mercearia a carne de um
porco recém-abatido.

Em Santarém, a discussão gerou análises sobre os pontos positivos e negativos
nas comunidades e a campanha pela criação de Tapajós está estampada em casas e é
tema de conversas em barcos na orla. “Eu vou votar no sim. A maioria do povo
viaja de barco, mas para o dia do plebiscito nos programamos para ficar na
comunidade”, diz ao G1 a dona de casa Mariluce Branco, enquanto
embarca para uma viagem de sete horas pelo Rio Tocantins até a comunidade
ribeirinha de Lago Grande.

Divisão do Pará (Foto: Editoria de Arte/G1)

Políticos
O economista Celio Costa, contratado pelas
campanhas pró-separação para analisar a viabilidade de Tapajós e Carajás, diz
que, caso haja a divisão, “os três estados terão sobrevivência financeira e os
dois novos receberão recursos da União que hoje não têm acesso”. Pelos cálculos
de Costa, do total do orçamento do Pará em 2010 (aproximadamente R$ 10,54
bilhões), cerca de 88% foram gastos na área do novo Pará; 8%, em Carajás; e 4%,
em Tapajós, que é o maior em área. Quando se analisam os investimentos (cerca de
R$ 1,03 bi em 2010), 83,5% foram feitos no novo Pará, na região metropolitana de
Belém; 11,5% (cerca de R$ 150 milhões), em Carajás; e 5% (R$ 69 milhões), em
Tapajós, diz o economista com base no balanço do governo do Pará divulgado no
Diário Oficial do estado.

 pobreza belém área de palafitas sem esgooto na beira do rio (Foto: Tahiane Stochero/G1) Area de palafitas sem esgooto na beira do rio, em
Belém
(Foto: Tahiane Stochero/G1)

Líder da frente pró-Carajás, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) afirma que
o desmembramento trará desenvolvimento. “Se separar, o progresso chegará nestas
regiões. É um absurdo a situação de pobreza e falta de esgoto e asfalto nestas
áreas. 40% da população do Pará vive abaixo da linha da pobreza e 20%, na
miséria, com menos de R$ 70 por mês”, afirma.

Defensor da criação de Tapajós, o deputado estadual João Salame (PPS) diz que
só com a separação “o governo ficará mais próximo do povo, entendendo os
problemas e podendo aplicar melhor os recursos”. “Nossa arrecadação fica toda
com o que é o novo Pará”, diz.

Para o deputado estadual Celso Sabino, que chegou a ingressar no STF contra a
realização do plebiscito e está à frente da campanha do “não”, a hipótese de
maior desenvolvimento caso haja a divisão não procede. “O erro começou com o
desenho dos dois novos estados, que foi decidido em um grupo de políticos e não
feito a partir de estudos antropológicos sobre o anseio da população. Os três
estados acabarão mais pobres do que estamos hoje. Não é dividir, mas sim,
endividar”, acredita.

Em Belém, as sedes dos comitês contra a separação funcionam dentro da
Associação Comercial do Pará. “Achamos que o plebiscito só vai acirrar os
ânimos, jogar a população contra si mesma e não trará progresso. Não existe nada
que comprove que o novo Pará irá perder com a separação, mas o que estudamos é
que todo o estado deixa de ganhar”, diz Sérgio Bitar, presidente da
entidade.

Plebiscito
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a
votação no dia 11 de dezembro será feita nas seções eleitorais das 8h às 17h e a
apuração do resultado será iniciada após a conclusão do pleito, de acordo com os
moldes das eleições tradicionais.

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