Por VC

O arquiteto verde é amigo íntimo do arquiteto Oscar Niemeyer. Foto: Zé Silva

Aconteceu na noite desta terça-feira (16), no auditório da Faculdade Independente do Nordeste (Fainor), uma palestra com o arquiteto venezuelano, Dr. Fruto Vivas. Com o tema “O papel da arquitetura ecológica no desenvolvimento sustentável das cidades e o crescimento do mercado imobiliário”, Dr. Vivas falou ao público sobre a ligação da arquitetura com a preservação do meio ambiente.

Vitória da Conquista foi a primeira cidade do interior da Brasil a receber o Dr. Fruto Vivas. Hoje com 83 anos, é conhecido internacionalmente como o arquiteto verde, porque há 55 anos trabalha com a arquitetura ecológica. Amigo íntimo do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, e ganhador de vários prêmios na Venezuela e Alemanha, Dr. Vivas se consagra a uma das maiores autoridades sobre arquitetura e sustentabilidade do mundo. Para saber mais sobre o trabalho do arquiteto verde, confira a entrevista exclusiva cedida ao Site da Cidade.

Como o senhor começou a trabalhar nessa área de arquitetura verde?

Na Venezuela, temos uma crise ecológica muito grande, como em todos os países, e desde sempre me preocupo com o dano que se causa ao Meio Ambiente e as consequências que o mundo está gerando nessa área. Na Venezuela e muitos países do mundo já existem movimentos mundiais nesse sentido, porque nesse momento o planeta começa a ter uma crise muito grave. Então isso nos obriga a fazer uma arquitetura que se relaciona intimamente com a natureza. Por isso, comecei criando uma arquitetura integrada à natureza e essa integração me levou a desenhar projetos dedicados estritamente a relacionar a natureza e arquitetura em uma única coisa. Batizei o meu trabalho em Árvores para Viver, numa cultura de arquitetura verde em que meus prédios são imitações das árvores, do comportamento de uma árvore. Como uma árvore gera três coisas fundamentais que são: oxigênio, comida e clima, então, se conseguirmos fazer edifícios que tenham essas três estruturas, estamos fazendo um edifício que está totalmente integrado a gente. Temos enfrentado a sistemas mecânicos da construção, principalmente o ar condicionado, mas tratamos de resolver o problema do ar – não de maneira natural -, em que os edifícios podem funcionar com chaminés que o ar se mova por sua estrutura sem precisar de mecanismos, de ter máquinas que consumam muita energia. Para que um edifício tenha ar condicionado, o volume de energia consumida é altíssima, então queremos ajudar para que nossos edifícios tenham uma ventilação natural. Outro problema que faz parte dessa realidade é o ar sujo da cidade, um ar envenenado que temos que chupa ar para entrar. Os filtros apenas filtram os materiais sólidos e não os gases. O gás mais letal que temos é o monóxido de carbono, que é produzido pelos automóveis. Então, se um edifício tem ar condicionado, ele é fresco, porém é sujo. Isso é parte da filosofia de choque com os sistemas mecânicos do ar condicionado.

 

 

 

Foto: Zé SilvaO senhor disse que começou em Venezuela. Depois qual o país que aceitou seu trabalho?

Eu trabalhei em muitos países, como na Colômbia, Nicarágua, Cuba e ministrei conferências em quase toda a América Latina. Sou convidado com muita frequência por universidades, e isso me permite ter uma relação direta com o processo extraordinário que existe na América Latina.

Aqui, no Brasil, qual prédio foi projetado pelo senhor?

No Brasil não houve nenhum projeto meu. Hoje eu estou desenhando apenas, como um projeto em Santos, e vou fazer em Santa Catarina alguns projetos com essa característica, Árvores para Viver. Eu já criei uma equipe de trabalho aqui no Brasil para dar forma a essas ideias.

O que tem a dizer sobre o convite de ministrar palestra em Vitória da Conquista? Gostou da cidade?

Para mim, foi uma surpresa muito grande. E foi muito bom conhecer uma cidade preciosa como Conquista, porque é uma cidade que se encontra em estado de desenvolvimento, não é um monstro como o Rio de Janeiro. Porém, o mais importante não é isso, é a possibilidade de trocar ideias fundamentais com as comunidades. E o meu trabalho é muito dedicado à vida social, a trabalhar pela comunidade, a fazer uma arquitetura que sirva a todos, uma arquitetura que o povo possa fazer, e que possa construir com tudo ao alcance. Esse é o trabalho principal.

Vitória da Conquista é uma cidade que está vive em plena expansão na área de construção civil. O que pensa sobre isso?

É um momento fundamental para a se ter. O Brasil tem modelos urbanos único por todo o mundo. Um e o mais importante é Curitiba, que é uma cidade modelo. Conheci a cidade em 1980 e todas as contribuições da cidade de Curitiba quanto ao transporte, quanto à organização urbana, quanto aos serviços oferecidos pela cidade, quanto às questões fundamentais e acredito que cidades jovens como Vitória da Conquista devem aproveitar o conhecimento e as experiências de Curitiba, que é única no mundo. O modelo já é copiado por Bogotá, Guiaqui, Medin e Quito e acredito que vocês podem fazer exatamente coisas similares. E algo muito importante é que o processo de desenvolvimento urbano, em nossas cidades, está muito envenenado pelos grandes monopólios urbanos que conduzem a cidade à construção de arranha-céus horríveis que venha prejudicá-la. E eu não quero que aqui em Conquista aconteça isso. Vocês têm cidades verdadeiramente desastrosas como São Paulo, que cresceu e se transformou em um mostro gigantesco de arranha-céus, onde malícia do comércio fez com que ela se transformasse em um negócio gigantesco, porém a vida, as pessoas que vivem lá, não usufruem de espaços urbanos de qualidade. Nesse sentido é importantíssimo que tomem conta disso. Há uma referência fundamental na arquitetura do Brasil que é Oscar Niemeyer. Trabalhei com ele desde 1954, quando fizemos o museu de arte moderna no país. E com ele, vivi toda a experiência de Brasília, de como se formou e como nasceu Brasília. Essas são as coisas que temos de ver aqui. São os exemplos que temos de questionamentos: Como deve ser o futuro da Cidade? Nosso propósito, o propósito de arquiteto é dar a máxima felicidade não de maneira antagônica, ligando a qualidade de vida com prédios bem estruturados.

Saiba Mais sobre Dr. Fruto Vivas

Depois de Vitória da Conquista o arquiteto viaja para as capitais São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro, onde tem reuniões e palestras agendadas.

A última vez em que Fruto Vivas veio ao Brasil foi em novembro de 2010, ao Rio de Janeiro, para firmar uma parceria com o amigo Oscar Niemeyer para a construção do Parlamento Indígena das Américas. Outro grande projeto de Vivas, visitado por turistas do mundo inteiro, é a Flor de Venezuela, uma enorme flor de 18 metros de altura. As informações são do site: www.vitoriadaconquista.com.br

Com colaboração e tradução de George Lacerda 

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