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Estado realizou a primeira eleição majoritária sem a presença física de ACM. Ausência do falecido cacique baiano confundiu ex-aliados e pavimentou caminho do PT à vitória.

 

ACM cumprimenta o então governador da Bahia, Paulo Souto, durante evento religioso em 2006

Pela primeira vez na história recente da política baiana, uma eleição para o governo do Estado não terá a presença de Antônio Carlos Magalhães. Ausente desde 2007, quando morreu em São Paulo vítima de infecção generalizada, o ex-senador teve sua ausência sentida por seus antigos aliados e a dissolução de seu bem-sucedido modelo político, o ‘carlismo’, tornou a política baiana mais complexa e bem menos polarizada nos últimos três anos.

 

O falecido senador fez parte do cenário político estadual de 1954 até 2007, um ano depois de ter visto o maior revés de sua carreira: a eleição de Jaques Wagner (PT) para o governo do Estado no 1º turno em cima de seu candidato, Paulo Souto (DEM). Agora, sem sua influência e prestígio junto ao eleitorado, a Bahia aprende a ouvir outras vozes e eleger novos líderes, ao mesmo tempo em que assiste a uma desorientação dos antigos ‘carlistas’.

Do antigo grupo de ACM, nem todos migraram para o DEM. Um exemplo é o senador César Borges (PR), que é aliado nacional do presidente Lula. Já Otto Alencar, que chegou a ser governador em 2001 em substituição a Borges, considerado um dos pefelistas mais influentes do grupo, fechou apoio a Jaques Wagner no ano passado e agora concorre ao pleito como candidato a vice do ex-sindicalista. Os que permaneceram, parecem ainda indecisos sobre seguir o legado de seu antigo líder.

Durante toda a campanha, ACM permaneceu apenas como um “fantasma” que pairava sobre os demistas baianos, uma vez que não foi citado em nenhuma propaganda eleitoral, com exceção esperada do herdeiro ACM Neto, candidato à reeleição para a Câmara. Ao mesmo tempo em que não invocavam a imagem do antigo coronel, Paulo Souto – candidato ao governo -, José Carlos Aleluia e José Ronaldo – postulantes ao Senado – e inúmeros outros candidatos do partido permaneceram sob a desconfiança do eleitorado em relação ao que fariam com o passado recente de vanguarda da antiga política que reinou por décadas na Bahia.

10/12/1998 – Antônio Carlos Magalhães (d) e Michel Temer, atual candidato a vice de Dilma, de mãos dadas na missa de confraternização de natal 

A debandada geral do grupo se refletiu inclusive no número de partidos com os quais o DEM baiano se coligou. Normalmente acostumado a formar coalizões de quase 10 legendas, desta vez os pefelistas tiveram que se contentar com o apoio único do PSDB, que na Bahia, durante tempos, exerceu o papel de grupo moderado e de bom relacionamento com os petistas baianos. É, inclusive, dos tucanos a maioria do tempo de TV e rádio que a coligação dispõe em 2010.

O racha PMDB-PT

 A desorientação dos adversários pavimentou o caminho do PT, que exibiu durante toda a campanha a tendência de reeleição tranquila de Jaques Wagner. O governo do carioca radicado em Salvador não teve boa avaliação nos dois primeiros anos da gestão, mas protagonizou uma virada notável a partir do momento em que o PMDB, partido que participou do grupo que derrotou ACM em 2006, deixou a aliança em 2009.

Os dois partidos viviam rusgas desde a eleição para prefeito de Salvador em 2008, quando o PT foi acusado pelo PMDB de trair a gestão de João Henrique e abandonar o governo às vésperas do pleito e lançar candidatura própria. Os petistas, por sua vez, acusavam os peemedebistas de sabotar a máquina estadual na tentativa de viabilizar o nome de Geddel Vieira Lima, então ministro da Integração Nacional, para a sucessão em 2010.

O estopim para o racha foi uma carta oficial enviada pelo PMDB ao governador Wagner em 2009 com um diagnóstico da gestão e sugestões para a melhoria do governo. A missiva foi ignorada pelo chefe do Executivo estadual e irritou os aliados, que decidiram, enfim, deixar o grupo e seguir seu próprio caminho, engrossando as fileiras da oposição na Assembleia Legislativa. Para suprir cargos estratégicos deixados vagos pelo PMDB no governo, Wagner montou uma estratégia dupla que assegurou recuperação de prestígio tanto eleitoral quanto político.

Candidatos preparados para debate nos estúdios da Band na Bahia 

Para compor o time da ‘nova’ gestão, trouxe de Brasília quadros do partido e de aliados com perfil mais qualificado de administração, como os deputados federais Walter Pinheiro e Nelson Pellegrino (ambos do PT, deslocados para a s secretarias de Administração e Justiça) e João Leão (PP, enviado à pasta da Infraestrutura). Wagner substituiu ainda outros titulares e implantou uma política de enxugamento da máquina pública.

Politicamente, passou cerca de um ano em busca de apoio de diversos partidos e, especialmente, no esforço de convencer prefeitos do interior do Estado a apoiá-lo. Este último empenho foi especialmente facilitado depois que o governador persuadiu o ex-governador Otto Alencar (PP), então aposentado da política e conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, a voltar à ativa. Notavelmente influente, Otto assegurou centenas de políticos à chapa futura de reeleição do governador e pessoalmente legou a vaga de candidato a vice.

A estratégia assegurou o apoio de boa parte da população para sua permanência no Palácio de Ondina. Sem a mesma quantidade de aliados, Paulo Souto e Geddel Vieira Lima apostaram nos representantes de seus partidos espalhados pelos 417 municípios baianos. Entretanto, sem o trabalho de base política antecipado, como o realizado pelos petistas, só poderão surpreender caso as pesquisas eleitorais se revelem equivocadas, como em 2006.

2006 – Pesquisas equivocadas

 Naquele ano, Paulo Souto tinha, na maioria das consultas, quase 60% de intenções de voto e venceria o pleito com mais de 50% dos votos válidos. Entretanto, foi surpreendido pela vitória de Wagner no 1º turno. Em 2010, o governador oscila entre números que vão de 47% a 52% de preferência do eleitorado, o que asseguraria sua reeleição tranquila. Entretanto, o fantasma de 2006 o assombra e anima os adversários.

Caso o mesmo fenômeno volte a acontecer, a Bahia voltará a demonstrar que, em seus domínios, pesquisas eleitorais são previsões inúteis, realidade que os petistas lutam para desmentir pelo bem de seu projeto político. O fato ajudaria também a reforçar uma das mais célebres falas do ex-governador Octávio Mangabeira e que já virou folclórica em relação ao Estado de uma maneira geral: “Pense num absurdo. Na Bahia, tem precedente”.

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