No dia 16 de junho deste ano, às vésperas do recesso parlamentar, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixou o assento principal da Mesa Diretora e, com o uso da palavra no plenário, fez elogios à gestão do ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT). Candidato a uma vaga de senador nas eleições de outubro, Waldez foi preso nesta sexta-feira (10) pela Polícia Federal, na deflagração da operação Mãos Limpas, depois de ter prisão temporária decretada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Waldez é acusado de desvio de verbas públicas no estado, mesma denúncia que pesa contra o atual governador, Pedro Paulo Dias (PP), o secretário de Segurança Pública do Amapá, Aldo Alves Ferreira, o presidente do Tribunal de Contas (TCE-AP), José Júlio Miranda, e outros 14 agentes públicos. Todos foram presos por ordem do STJ. O processo corre sob sigilo e é relatado pelo ministro João Otávio de Noronha. Segundo nota da Polícia Federal, as investigações começaram em agosto de 2009 e revelaram indícios de esquema de desvio de recursos da União que eram repassados à Secretaria de Educação do Amapá.

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Mas o esquema de corrupção não impediu os elogios de Sarney ao colega de estado. “Administração pacífica” e “espírito público” foram alguns dos termos usados pelo ex-presidente da República. “Ele realizou uma obra política reconhecida por todos amapaenses e por toda a classe política do Amapá. Ele promoveu a paz entre todos aqueles que transformavam a luta política no nosso estado numa guerra. Ele, com seu temperamento, com seu espírito público, foi capaz de estabelecer uma união de forças políticas de tal modo que a bancada federal, seus deputados, quase unanimemente, e também os senadores, apoiavam todas as iniciativas tomadas pelo governo e, de comum acordo, aprovaram os planos que possibilitaram o Governo do Amapá realizar grandes obras”, declarou Sarney.

O discurso foi proferido às 16h30 de uma quarta-feira de sessão deliberativa (reservada à votação de proposições). Sarney aproveitou a movimentação de senadores que estavam em Brasília e pediu o registro de suas palavras nos anais da Casa, dizendo que o fazia por “dever de lealdade e justiça” e “testemunho de verdade”.

“Essas obras realizadas pelo governador Waldez Góes estão relacionadas aqui em um relatório que peço que vossa excelência [referência a Mão Santa, PSC-PI, que presidia a sessão] mande publicar como adendo das palavras que estou aqui proferindo, justamente louvando a sua ação de homem público, a correção com que ele se houve à frente do Governo do Estado e o grande avanço econômico que o Amapá alcançou nos anos do seu governo”, emendou Sarney, em menção ao apoio dado à criação da Zona de Livre Comércio e da Zona de Processamento de Exportação, bem como de rodovias e linhas de transmissão de comunicação e telefonia.

“Acho que estou, neste ponto, expressando o que pensa toda a bancada [do Amapá no Senado e na Câmara] e o testemunho de todo o povo amapaense”, finalizou o senador, acrescentando que “política deve ser feita dentro sempre de um espaço comum, em que os homens públicos possam estar unidos em favor do bem-estar da população”. Do Congresso em Foco

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