Alexandre Rodrigues / RIO – O Estado de S.Paulo

Com os corredores climatizados cada vez mais cheios, a indústria de shopping centers aumenta a velocidade de sua expansão no Brasil ao sabor da maré mais favorável já vivida pelo setor. Após a inauguração de quatro grandes shoppings no primeiro semestre, outros 12 abrirão as portas até o fim do ano. Em 2011, serão pelo menos mais 29 shoppings, totalizando 439 em todo o País. Atualmente, há 396 empreendimentos desse tipo.

A conta é da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que só considera empreendimentos com mais de 5 mil metros quadrados de área locável. Incluindo shoppings menores, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) prevê que o País fechará 2010 com mais de 750 centros em funcionamento e ganhará outros 200 até 2015, ou seja, 40 por ano.

O principal impulso do movimento vem da explosão de consumo provocada pela alta do crédito e da renda do brasileiro, que resistiu à crise e tem ajudado as vendas dos shoppings crescerem acima do comércio em geral. Em 2009, o varejo cresceu 5,9%. Os shoppings tiveram alta nas vendas de 10% e faturamento de R$ 71 bilhões. Para 2010, a previsão é de alta de 12%.

Não são apenas os consumidores que estão de bolso cheio. Outro fator que influencia o investimento em novos shoppings é a musculatura financeira que as administradoras de shoppings alcançaram no mercado de capitais. Os principais grupos brasileiros abriram capital nos últimos anos e arrecadaram mais de R$ 4 bilhões na bolsa.

“O crescimento atual é o dobro da média dos últimos cinco anos, o que mostra a pujança do setor”, diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop. “Depois que abriram capital, as empresas ficaram com caixa, estocaram terrenos e estão com todas as condições para os investimentos.”

Só a Multiplan, uma das primeiras empresas do setor a ir à Bolsa, tem plano de investimentos de R$ 1,3 bilhão até 2012 para erguer seis novos shoppings e ampliar dois de seu atual portfólio de 13. Boa parte do orçamento vem dos quase R$ 800 milhões gerados em 2009 pelo aumento de 25% para 36,9% do capital negociado em bolsa. As ações já valorizaram mais de 30%.

Com um caixa cheio e livre de dívidas, a Multiplan ainda quer comprar. Na semana passada, investiu R$ 51,8 milhões para aumentar de 80,9% para 96,5% sua participação no Shopping Pátio Savassi, de Belo Horizonte (MG), cujo controle adquiriu em 2007. Ao mesmo tempo, a empresa pagou R$ 4,2 milhões por terrenos no entorno do shopping para futuras expansões.

A BR Malls, que tem participações em 35 shoppings, iniciou o ano com R$ 1 bilhão em caixa para aquisições. Na semana passada, ampliou a participação no Minas Shopping, de Belo Horizonte. A empresa investe R$ 383,6 milhões na expansão de sete shoppings e participa de outros cinco projetos. O Grupo Iguatemi, que em março inaugurou um shopping em Brasília, tem cinco projetos, de R$ 790 milhões.

A Aliansce fez em janeiro sua primeira oferta de ações. Captou R$ 450 milhões, elevando o capital social para R$ 916,3 milhões. Até agora, as ações valorizaram quase 30%. A empresa abre este ano um shopping em Belo Horizonte e tem planos para outros em cidades como Belém (PA) e Maceió (AL).

Lei do inquilinato. Além da capitalização das empresas, a indústria de shoppings se beneficia do bom momento da construção civil – com construtoras interessadas em se associar aos empreendimentos -, e da nova lei do inquilinato, que dá mais garantia à rentabilidade.

Além disso, os shoppings são cada vez mais vistos como opção de lazer e segurança. “É difícil definir as causas do sucesso. Acho que o conjunto é que faz esse círculo virtuoso. A verdade é que poucas vezes tivemos um momento tão extraordinário como este para a indústria de shoppings”, observa Luiz Fernando Veiga, presidente da Abrasce.

“Em três anos, entre 2009 e 2011, temos mais de 60 novos lançamentos no Brasil.” Com a lei do inquilinato em vigor desde janeiro, os shoppings conseguem em quatro meses o despejo de lojistas inadimplentes. Antes, as ações levavam pelo menos um ano. Com a atratividade crescente do segmento, não faltam lojistas em busca dos espaços livres.

Segundo a Abrasce, a taxa de vacância caiu do patamar tradicional de 5% a 6% para 2% este ano. Com isso, o valor do aluguel subiu em média 7,5% só entre janeiro e maio. Veiga lembra que as vendas subiram 15,2% nesse período.

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