O Globo

O governo de Israel começou a deportar um grupo de mais de cem ativistas que tinham sido detidos na operação militar contra seis barcos de uma frota que planejava furar o bloqueio israelense à Faixa de Gaza.

Cento e vinte e três ativistas de 13 países – entre eles Turquia, Malásia, Indonésia, Barein, Kuwait e Paquistão – foram levados de ônibus para a Jordânia, onde uma multidão de simpatizantes os aguardava. Eles foram recebidos com palmas e cantoria depois de 10 horas de espera, informou o correspondente da BBC na fronteira, Dale Gavlak.

Outros 50 ativistas turcos foram libertados da prisão e também serão deportados, informaram as autoridades oficiais.

Centenas de ativistas deverão ser deportados nos próximos dois dias. Ao todo, 670 pessoas tinham sido presas na ação.

O ataque das forças israelenses à frota, que pretendia levar ajuda humanitária a Gaza, deixou nove ativistas mortos e provocou reações negativas de boa parte da comunidade internacional.

O governo de Israel diz que as tropas israelenses agiram em legítima defesa no episódio, depois de serem atacadas. Os ativistas insistem que os soldados israelenses abriram fogo sem motivo e começaram a atirar ainda dos helicópteros que sobrevoavam as embarcações.

Prazo

Na noite de terça-feira, Israel anunciou que pretende deportar todos os detidos até quinta-feira.

“Não queremos ver ativistas estrangeiros em um centro de detenção israelense, então decidimos acelerar o processo de deportação e nossa esperança é ter todos esses ativistas fora do país dentro de 48 horas”, disse o porta-voz do governo israelense Mark Regev.

Um diplomata brasileiro da embaixada em Tel Aviv disse à BBC Brasil esperar que a cineasta brasileira Iara Lee, que estava entre os detidos, possa deixar o país nos próximos dias.

Apesar de atender aos apelos pela libertação dos ativistas estrangeiros, o governo israelense afirmou que o bloqueio na Faixa de Gaza será mantido para evitar o risco de que armas sejam contrabandeadas para a região.

Em Washington, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que o incidente trouxe à luz a “insustentável e inaceitável” situação na Faixa de Gaza, território palestino sujeito a um bloqueio israelense desde que o Hamas assumiu o controle na região, em 2007.

“As legítimas necessidades de segurança israelenses devem ser atendidas, assim como as legítimas necessidades palestinas de assistência humanitária e acesso regular a materiais de construção”, afirmou.

Investigações

Segundo Hllary, os Estados Unidos apoiariam uma investigação israelense sobre o ocorrido, mas acrescentou que esta teria que ser “imparcial, transparente e ter credibilidade”, como tinha sido pedido pelo Conselho de Segurança da ONU.

A secretária de Estado americana fez as declarações horas depois de se encontrar com o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu.

Acredita-se que a Turquia seja o país com o maior número de cidadãos entre os ativistas mortos na operação militar de Israel. No encontro com Hillary, o chanceler turco cobrou dos Estados Unidos uma condenação veemente ao ataque.

Também na terça-feira, o presidente americano Barack Obama teria telefonado ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, para expressar suas condolências pela perda de vidas no navio de bandeira turca.

Erdogan descreveu o ataque como um “massacre sangrento” e disse que os responsáveis têm que ser punidos. Segundo ele, Israel não deve testar a paciência da Turquia.

A Turquia, um dos antigos aliados de Israel, foi um dos países mais críticos ao incidente. Segundo fontes diplomáticas em Ancara, pelo menos quatro dos mortos eram turcos.

Nova ajuda

Desde o incidente, um outro navio transportando ajuda humanitária, da ONG Movimento Gaza Livre, partiu da Irlanda para Gaza em mais um desafio ao bloqueio israelense. Segundo os organizadores, ele deve chegar à região até o fim da semana.

Cinco dos passageiros a bordo são irlandeses, entre eles a prêmio Nobel da Paz Mairead Maguire, o que fez com que o primeiro-ministro irlandês Brian Cowen apelasse por sua segurança.

“Se algum dano for causado a algum de nossos cidadãos, as consequências serão graves”, disse ele ao Parlamento na terça-feira.

Ele disse ainda que Dublin pediu a Israel que garanta que o barco “complete sua viagem desimpedido e possa descarregar sua carga humanitária em Gaza”.

Com o aumento da pressão internacional pelo fim do bloqueio de Israel a Gaza, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, ordenou, na terça-feira, a reabertura da passagem na fronteira do Egito com a cidade de Rafah, na Faixa de Gaza.

O governo egípcio afirmou que o objetivo da medida é permitir a entrada de ajuda humanitária no território palestino, mas não esclareceu se a decisão será permanente ou temporária.

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