Traficantes realizam diariamente uma feira atacadista no largo do Coqueiro, na parte alta do complexo de favelas do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. Segundo um policial civil que pediu anonimato, algumas das favelas da facção criminosa que age no Alemão e é chefiada pelo traficante Fernandinho Beira-Mar contam com uma tenda de plástico onde recebem os chamados matutos – fornecedores que trazem mercadorias de países vizinhos – para a compra de armas e drogas.
Policiais informaram à reportagem do R7 que, no Complexo do Alemão, os criminosos têm de três a cinco esconderijos subterrâneos, conhecidos como bunkers. Esses bunkers, segundo um agente da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), são considerados “área vip” na favela e só são frequentados pelos chefões da organização criminosa, entre eles, Marcelinho Niterói, homem de confiança de Beira-Mar, traficante preso na penitenciária de Campo Grande (MS). Os traficantes, segundo policiais, construíram até túneis que ligam os seus principais esconderijos.
Um agente da DRAE (Delegacia de Repressão à Armas e Explosivos) estima que, em todo o complexo, os traficantes tenham cerca de 400 armas pesadas, entre fuzis e metralhadoras antiaéreas. Considerado base da maior facção do tráfico no Rio, o complexo do Alemão não recebe uma grande operação policial desde setembro de 2008, quando a favela foi ocupada para a procura do então chefe do local, o traficante Tota, que teria sido morto por antigos aliados.
O largo do Coqueiro é o “quartel-general” do complexo do Alemão. No local, os traficantes fazem churrascos e várias festas. Imagens feitas em 2008 mostram o atual chefe do tráfico na favela, conhecido como Pezão, comemorando a suposta morte de Tota rodeado por vários bandidos armados. Pezão segue as ordens do criminoso Marcinho VP, atualmente preso na penitenciária federal de Catanduvas (PR).
Policiais ainda contam que criminosos do alto escalão da organização criminosa baleados em confrontos são levados para o Coqueiro, onde são atendidos por médicos e permanecem durante a recuperação. Por lá, também recebem a visita de prostitutas.
Tráfico na Penha
Vizinho ao Alemão e vinculado à mesma facção, o complexo de favelas da Penha, também não recebe uma grande operação policial há meses. Informações de um agente da delegacia de Brás de Pina (38ª DP) dão conta que os traficantes estão preparados para a “guerra”. Segundo ele, os criminosos montaram barricadas usando botijões de gás e granadas para dificultar qualquer ação policial.
Procurada pelo R7, a Secretaria de Segurança Pública informou que, quando a polícia tiver informações concretas sobre o tráfico nessas comunidades, vai realizar operações para tentar capturar os bandidos, como aconteceu na favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul, na semana passada, que resultou na morte de sete supostos traficantes.
A pasta informou ainda que o complexo do Alemão está nos planos para receber uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), mas ainda não há data certa para a implantação.
Polêmica
A falta de operações no complexo do Alemão vem causando polêmica. Nesta semana, a delegacia da Penha (21ª DP) recebeu um pedido do Ministério Público Estadual para abrir procedimento investigatório sobre um oficial do batalhão de Olaria, na zona norte.
O problema, segundo um agente, começou depois que o batalhão teve que cumprir um mandado de prisão contra um traficante no Alemão. O oficial não se recusou a ir, mas comunicou a Promotoria que, para prender o suspeito, precisava montar um grande aparato policial, com a ajuda de helicópteros. Por causa disso, a Justiça determinou ao Ministério Público que solicitasse à polícia a abertura de uma investigação para apurar a conduta do policial.
R7