Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Sérgio Moro

O juiz federal Sérgio Moro, que atua na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, responsável por julgar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros réus da Operação Lava Jato sem foro privilegiado, admite que está em curso uma tentativa de frear os processos contra a corrupção, mas afirma que por enquanto não surtiu efeitos consideráveis. Ele fez a afirmação durante entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, no programa Globonews Entrevista exibido na noite desta terça-feira, 17, pelo canal pago Globo News. O juiz negou de forma enfática que será candidato a qualquer cargo público. “Existem pessoas que se aproveitam de posições de poder não para agir em benefício de todos, mas para agir em benefício privado, e isso é extremamente frustrante”, afirmou. “Sempre existem aqueles que viveram desse sistema (corrupto), e essas pessoas se sentem assustadas se há uma perspectiva de que o sistema mude. Há pessoas que vão ter a ousadia de tentar evitar essas transformações no sistema”, continuou o juiz. “Aqueles que adotam a postura de tentar frear os processos contra a corrução têm uma postura vergonhosa. Não obstante, até o momento nada de muito efetivo foi conseguido por essas pessoas. Esses trabalhos contra a corrupção, em que pesem sombras de retrocesso, ainda contam com o apoio esmagador da opinião pública e da sociedade civil”, afirmou Moro. O juiz é contra mudanças na regra que permite a prisão após julgamento em segunda instância: “No início de 2016 houve uma percepção por parte do Supremo Tribunal Federal de que a impunidade e a corrupção sistêmica andavam juntas. Não que a impunidade seja a única causa da corrupção, mas o fato de graves casos de corrupção não encontrarem uma resposta da Justiça acaba servindo como estímulo ao comportamento criminoso. Os riscos de ter a prisão de inocentes após um julgamento em primeira e segunda instância são diminutos. A regra anterior, em que se esperava até o final (do rol de recursos para prender o condenado), favorecia apenas criminosos poderosos, que tinham condições de contratar advogados habilidosos e que conseguiam manipular o sistema para prevenir a efetiva responsabilização. É fundamental essa mudança (ocorrida em 2016). Essa movimentação para rever esse precedente eu espero que não aconteça. Acredito que os ministros (do STF) serão sensíveis a essa percepção”. Fonte: Estadão

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