G1

Sérgio Alves, sócio da empresa TO – Tecnologia Organizacional, afirmou em entrevista coletiva realizada no fim da tarde desta sexta-feira (27) que as obras que estavam sendo realizadas no 3º e no 9º andares do edifício Liberdade, um dos três prédios que desabaram na última quarta-feira (25), no Centro do Rio, não provocaram a queda.

“Tenho certeza de que as obras não abalaram as estruturas. Era uma reforma interna, para adequação do espaço. Trocamos o piso, removemos as divisórias e as paredes do banheiro, que não eram estruturais, pois eram feitas de tijolo”, destacou o empresário, reforçando que este tipo de obra não precisa de autorização da prefeitura.

Alves acrescentou que as plantas das obras de ambos os andares, por serem semelhantes às reformas anteriores, não foram feitas por um arquiteto. Segundo ele, uma gerente da TO teria feito um curso de AutoCad (software utilizado por arquitetos) e ela mesmo feito as plantas.

Laudo
Segundo ele, um engenheiro havia sido contratado para fazer o laudo na obra do 3º andar, mas o documento teria se perdido com o desabamento. O mesmo engenheiro faria ainda um outro laudo sobre a reforma do 9º andar, mas, por um problema de família, teria atrasado a visita.

“Dissemos ao síndico que atrasaríamos a obra por 15 dias, mas ele disse que poderíamos entregar o laudo depois”, revelou Sérgio.

Sobre as janelas construídas de forma irregular na lateral do prédio, Sérgio Alves disse que apenas uma delas foi aberta pela empresa. “É uma irregularidade estética. Já que muitos no prédio faziam, também fizemos”, afirmou o empresário, citando a sala do síndico como exemplo e reafirmando que a colocação das mesmas não altera a estrutura do prédio.

O empresário falou com os jornalistas na companhia do advogado Jorge Willians.

O advogado declarou que a obra no 9º andar, que havia começado oito dias antes do desabamento, não necessitariam de autorização do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea). “O Crea não autoriza nada, só fiscaliza. E o presidente do Crea terá uma resposta através da perícia”, disse o advogado.

Na quinta (26), um representante do Crea disse que considerava as obras ilegais por não ter registro delas (saiba mais).

Corpos
Chega a 14 o número de corpos localizados por equipes dos bombeiros nos escombros do desabamento. “Finalmente, entramos na parte onde nós acreditávamos que houvesse o maior número de corpos”, disse o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, nesta tarde.

Segundo a Polícia Civil, seis vítimas haviam sido identificadas até as 17h: Elenice Maria Consani Quedas, de 64 anos, Alessandra Alves Lima, de 29 anos, Celso Renato Braga Cabral, de 46 anos, Margarida Vieira de Carvalho, de 65, Nilson de Assunção Ferreira, de 50 anos, e Cornélio Ribeiro Lopes, de 73.

O acidente deixou seis feridos. De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, o quadro mais grave é o da única pessoa que segue internada. Ela é uma mulher que teve lesão no couro cabeludo, passou por cirurgia e foi transferida para um hospital particular.

Buscas continuam
Não foi divulgada uma lista oficial ou até mesmo o número exato de pessoas procuradas. O secretário municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, disse que representantes de 26 famílias procuraram notícias de desaparecidos.  “Pode haver gente sendo procurada que não esteja aqui nos escombros”, afirma.

O subcomandante geral do Corpo de Bombeiros, Ronaldo de Alcântara, chegou a afirmar na manhã desta sexta que as equipes trabalham com a possibilidade de haver 23 desaparecidos. Ele disse acreditar que os procurados possam estar concentrados em pontos próximos nos escombros.

Na madrugada desta sexta, o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, informou que as buscas vão continuar por mais 48 horas. “Esse é um prazo que eu estou me impondo para encerrar as buscas”, disse o coronel. Segundo ele, após esse prazo, o trabalho de retirada dos escombros será de competência da prefeitura.

Para Simões, o modo como o desabamento parece ter ocorrido dificulta ainda mais as buscas. “O volume de material é muito grande. A essa altura já era para nós termos encontrado mais corpos, mas a sobreposição das lajes efetivamente é um dificultador”, avaliou.

Polícia abre inquérito
A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as responsabilidades do desabamento. Na quinta-feira (26), o titular da 5ª DP (Mem de Sá), delegado Alcides Alves Pereira, ouviu sete testemunhas e dois policiais que prestaram socorro às vítimas logo após o colapso das estruturas.

O desabamento ocorreu por volta das 20h30 de quarta. Um prédio de 20 andares, outro de 10 e um imóvel de cinco pavimentos ficaram em ruínas. O trânsito nas ruas situadas nas imediações do Theatro Municipal permanece interditado.

No momento da tragédia, testemunhas disseram ter ouvido a estrutura do edifício estalar antes de ir ao chão. Sobreviventes relataram momentos de desespero. Um vídeo de câmera de segurança mostrou correria na avenida antes de a poeira do desabamento tomar a região.

Para o prefeito Eduardo Paes, a principal hipótese é que o desabamento tenha sido causado por um dano estrutural, já que não há informações sobre explosão ou vazamento de gás. O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) informou que obras “ilegais”, sem registro no conselho ou na prefeitura, eram realizadas no prédio de 20 andares.

Reforma questionada
O advogado Gerlado Beire Simões, que representa o síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, o maior dos três prédios que desabaram, afirmou que seu cliente recentemente havia pedido documentos sobre as reformas em dois andares. Conforme o advogado, duas reformas eram realizadas no prédio, uma no 3º e uma no 9º andar, pela maior empresa do prédio, a TO – Tecnologia Organizacional.

O engenheiro Paulo Sérgio Brasil, que acompanhou uma obra da TO no 3º andar do prédio, negou alterações estruturais na reforma. “Não tinha viga. Já vi muita gente falar, mas não conhecem a estrutura do prédio. Todos os pilares são externos. No meio, não tem pilar, não tem viga”, argumenta.

Luto de três dias
O governador Sérgio Cabral decretou luto oficial de três dias no estado do Rio de Janeiro em memória dos mortos. De acordo com o governo do estado, o decreto será publicado no Diário Oficial do Estado desta sexta. A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que o município fará o mesmo.

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