Congresso em Foco

Enquanto o ministro do Esporte, Orlando Silva, depunha na Câmara dos Deputados, o policial militar João Dias Ferreira, delator do suposto esquema de desvio de verba do programa Segundo Tempo, estava no Senado reunido com parlamentares da oposição. Em seu depoimento, Orlando Silva disse que João Dias não tem “provas contra ele”. Não foi isso, no entanto, o que disse o PM. Ele revelou na tarde de hoje (18) ter mais provas contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, e que em breve todo mundo saberá quem é quem neste caso. Ele disse que existem mais de 300 caixas-pretas que precisam ser abertas para que todos conheçam a verdade. E afirmou ainda que está sofrendo ameaças há mais de dois anos por conta do que sabe.

No gabinete da Liderança do PSDB no Senado, João Dias reuniu-se com parlamentares tucanos, do PPS e do DEM. Sua intenção era pedir proteção.“Tenho percebido uma intensa movimentação ao redor da minha residência”, afirmou. O militar já pediu proteção ao Ministério da Justiça, que ainda analisa o caso.

Filiado ao PCdoB, mesmo partido de Orlando Silva, Ferreira é responsável pela Federação Brasiliense de Kung Fu e pela Associação João Dias de Kung Fu, organizações não governamentais (ONGs) com as quais o ministério firmou dois convênios.

João Dias classificou a presença do ministro como uma defesa sumária e ironizou o fato dele ter sido aplaudido, já que a audiência estava esvaziada, com presença majoritária de parlamentares governistas.

Ferreira alegou que entende a pressa de Orlando Silva em prestar esclarecimentos, mas afirmou que ainda “há muita água para rolar” sobre o caso. “Eu e minhas duas ONGs somos só as primeiras peças do dominó”, afirmou. Para ele, o ministro criou uma força-tarefa para defendê-lo, por isso teria que divulgar as informações aos poucos para surtirem efeito. Quanto a ele próprio, Ferreira afirmou não ter pressa para resolver a questão. “Eu não vivo da política, então preciso resguardar alguns trâmites legais. Estou à disposição da Polícia Federal, do Ministério Público e do Congresso. Não tenho nada a temer”, disse.

Enfatizando estar muito tranquilo em relação aos desdobramentos do caso, o PM também disse que sua intenção não é confrontar o ministro, muito menos constrangê-lo, e sim elucidar um problema que acontece “há muito tempo” no ministério. “Eu não estou acusando o governo de nada, eu estou denunciando situações específicas vinculadas ao Ministério do Esporte”, disse.

No entanto, mandou um recado direto ao ministro pedindo que ele meça suas palavras ao referir-se a ele. “Não é porque tem foro privilegiado que pode sair agredindo as pessoas”, afirmou, e fez questão de deixar claro: “A verdade é única”. Na audiência de hoje, o ministro classificou João Dias como um “desqualificado que não tem provas do que diz”. Em nenhum momento o delator fez menção ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ministro da pasta na época da criação do programa Segundo Tempo, também envolvido no caso.

Apesar do encontro, João Dias não apresentou nenhuma prova concreta contra o ministro, mas disse que em breve as informações virão à público. “Os áudios dos encontros estão sendo degravados. Nesta semana ainda, apresentarei mais informações. Estou respeitando os trâmites necessários”, revelou. Questionado sobre porque demorou dois anos para vir a público fazer as denúncias, ele explicou que esperou o momento midiático adequado, e fez referências à Copa do Mundo e às Olimpíadas. Ele afirmou também ter procurado deputados da base governista, mas ninguém quis atendê-lo, por isso recorreu à oposição.

Na audiência da Câmara, o deputado Duarte Nogueira apresentou um requerimento para convocar o militar a depor na Casa. Tal pedido deve ser votado amanhã.

Colaborou Mário Coelho

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