Osvaldo Lyra / Tribuna

Considerado uma das fortes lideranças políticas do Estado, o deputado Marcelo Nilo (PDT), apesar da cautela, deixa claro que tentará viabilizar um posto majoritário em 2014, sendo a cadeira ao Palácio de Ondina a meta mais sonhada. Segundo ele, assim como outros partidos da base aliada ao governador Jaques Wagner, o PDT também sonha com a vaga de governador.
O pedetista ressalta a construção de uma relação pessoal com Wagner, definida como “fraternal e leal”, mas não esconde a ponta de constrangimento por não ter visto seu nome na relação de prováveis sucessores apontada pelo chefe do Executivo baiano.

Tribuna da Bahia – O presidente do PDT, Alexandre Brust, lançou-o para a disputa ao governo em 2014. Já existe articulação sobre isso?
Marcelo Nilo –
Acho que é muito cedo pra falar em sucessão de 2014. Primeiro devemos falar em 2012, pois todos os partidos estão lutando em plenas condições pelo crescimento. Depois disso é que falaremos sobre 2014. Como o governador não pode ir para a reeleição, todos os partidos sonham em ter candidato ao cargo máximo na Bahia. O PT sonha em continuar, o PSB provavelmente sonha; o PSD provavelmente sonha; o PP provavelmente e o PDT não é diferente, também está sonhando.

Tribuna – Ficou algum sentimento de mágoa pelo fato de seu nome não
ter sido lembrado pelo governador Jaques Wagner como candidato natural à sua
sucessão?
Nilo –
O governador Jaques Wagner é meu amigo fraternal.
Nós criamos relações pessoais e políticas. Agora ele lançou apenas candidato do
PT e eu acho que vários nomes dentro dos partidos aliados podem ser candidatos a
governador. Você tem a senadora Lídice da Mata pelo PSB, você tem o
vice-governador Otto Alencar do PSD, tem o ministro Mário Negromonte do PP, tem
o deputado federal Daniel Almeida pelo PCdoB e muitos falam no nome do deputado
Marcelo Nilo pelo PDT. Pelo que eu conheço do governador, ele não vai tirar
candidato do bolso. Aquele que criar as condições políticas pode ter certeza que
terá apoio de todos os partidos aliados. A base aliada unida será amplamente
favorita.

Tribuna – O lançamento de uma possível
pré-candidatura sua ao governo pode ter sido mal recebido pelo PT, já que Brust
chegou a pregar o consenso em torno do seu nome?
Nilo –
Eu sempre
tive uma relação muito próxima com o PT. Eu sou um deputado, na história da
Bahia, que fiquei 16 anos na oposição e sempre fui aliado dos deputados do PT
nesta Casa. Além disso, todas as três vezes em que fui eleito à presidência
desta Casa, eu tive o apoio do PT.  É óbvio que na política você para ser
candidato máximo, ou seja, para ser presidente da Assembleia, ser governador, ou
um presidente da República tem que construir uma aliança com os partidos
políticos que defendem a sua tese. Acho que a preferência é do PT, mas não será
exclusivo do PT. Todos os partidos que formam a sustentação do governador têm o
direito de sonhar, e o PDT não poderia ser diferente.

Tribuna – O desejo do PT em construir uma hegemonia no Estado pode
estremecer em algum momento a relação com o PDT?
Nilo –
O
governador Jaques Wagner, que é governador do PT, sempre pesquisou os valores.
Tanto é que eu fui presidente da Assembleia três vezes e sempre tive o apoio do
governador Jaques Wagner.  Otto Alencar, que é vice-governador pelo PSD, teve o
apoio do governador Jaques Wagner. O ministro Mário Negromonte foi indicado pelo
partido, mas também contou com a força do governador Jaques Wagner. A senadora
Lídice da Mata é senadora com o apoio do governador. O governador Jaques Wagner
é do PT, mas ele também prestigia muito os seus aliados. O governador trabalha
sempre para unir a base. Claro que ele tem a preferência pelo seu partido, mas
ele ajuda muito os seus aliados a crescerem.

Tribuna – O PT deu sinais de que brigará para que o senhor não
emplaque um quarto mandato na presidência da AL. O senhor já se articula para
evitar essa avalanche de candidatos?
Nilo –
Todos os 63
parlamentares têm condições políticas de serem presidentes da Assembleia. Aquele
que chegar à reta de chegada com as melhores condições políticas pode ter
certeza que terá o apoio da base do governo ou da base da oposição.  Aquele que
construir as condições políticas pode ter certeza que será presidente. Eu não
estou pensando em quarto mandato porque está muito cedo. Pra ter quarto mandato
você, primeiro, tem que ter vontade; segundo, ter o apoio da sociedade; e,
terceiro, ter apoio dos pares. Eu só vou pensar sobre o assunto depois das
eleições de 2012.

Tribuna – Existe a possibilidade de buscar a
renovação do mandato ou vai priorizar a participação numa chapa majoritária?

Nilo – Eu fui convidado para ser candidato a senador na chapa do
governador Jaques Wagner no ano passado e não quis. Naquele momento, eu preferi
ser candidato a deputado estadual para chegar à presidência da Assembleia,
conforme aconteceu, mas em 2014 eu vou trabalhar para participar da chapa
majoritária.

Tribuna – O PSD já sinaliza que entrará na
disputa pela presidência da AL lançando candidato ou apoiando Rosemberg Pinto.
Considera essa possibilidade uma ameaça?
Nilo –
Eu não faço política
pensando em ameaças, mas pensando em unir. Se qualquer companheiro do PSD ou de
qualquer partido criar as condições políticas, pode ter certeza que terá o meu
apoio.

Tribuna – Por falar em PSD, como vê a criação da nova sigla e o
movimento de aglutinação em torno desse partido na Bahia?
Nilo –
Eu
acho que houve muita habilidade e competência do vice-governador Otto Alencar.
Ele criou todas as condições políticas com o apoio do governador Jaques Wagner e
começou o partido de maneira forte, ou seja, ele subiu não pela escada, mas sim
pelo elevador. Foi muita competência e habilidade.

Tribuna – O
PDT perderá importância junto ao governo com a solidificação do PSD?
Nilo
Não. Pelo contrário. O PDT fica feliz quando vê um aliado crescer. O
compromisso que eu tenho é o de apoiar o candidato a governo do governador
Jaques Wagner e eu tenho certeza que esse será também o compromisso do PDT. Nós
ficamos felizes com o crescimento de qualquer partido aliado e principalmente do
vice-governador Otto Alencar, já que foi Marcelo Nilo quem realmente aproximou
ele do governador Jaques Wagner. Fui eu quem iniciou o namoro. Posteriormente
teve o noivado, o casamento, e um casamento que parece
eterno.

Tribuna – O governador Jaques Wagner (PT) sancionou a
privatização dos cartórios e mudanças no Planserv. Como observou a polêmica em
torno dos assuntos?
Nilo –
Acho que foi um momento ímpar nesta Casa
porque eu sou presidente dos iguais, mas os iguais aqui são diferentes. Aqui
existe uma base do governo muito consolidada e uma base da oposição muita
aguerrida. Foram dois projetos importantes, polêmicos, mas a Assembleia mostrou
sua autonomia e sua altivez quando aprovou a privatização dos cartórios à
unanimidade, sancionada inclusive pelo governador Jaques Wagner, quando o
Tribunal de Justiça queria que o processo fosse gradual e nós aprovamos de forma
total. No projeto do Planserv nós também mostramos nossa autonomia, quando o
governador enviou a proposição para esta Casa e nós melhoramos o projeto,
diga-se de passagem, com o apoio do próprio governo. No caso dos cartórios, o
relator do projeto, deputado José Raimundo (PT), foi feliz quando fez a
privatização total; e no caso do Planserv, o deputado Nelson Leal (PSL) foi
feliz por ter conseguido junto ao governo melhorias substanciais no
projeto.

Tribuna – Acredita que o ato de ter mandado retirar os
servidores da galeria foi antipático? Ou acha que a oposição incitou a confusão
ao jogar para a galera?
Nilo –
Cada um aqui cumpriu com seu papel.
O deputado de governo é pra votar, já o deputado de oposição é pra protestar e
obstruir, e eu, como presidente, pedir 12 vezes que eles, na galeria, não se
manifestassem porque no regimento é proibido aquele tipo de manifestação.
Infelizmente, eles passaram do limite do tolerável e eu fui obrigado, mesmo
contrariando a minha própria vontade e ficando triste ao adotar essa posição
mais correta naquele momento, sendo inclusive depois apoiado pelos deputados,
até os de oposição que consideraram que eu cumpri o meu papel, enquanto
presidente, de manter a ordem.

Tribuna – O governador
Jaques Wagner (PT) disse que vai processar o deputado Targino Machado (PSC). O
senhor assina embaixo? Acha que ele passou dos limites, durante a sessão em que
foi votado o projeto do Planserv?
Nilo –
Com relação ao processo do
governador Jaques Wagner, é um problema do governador. Com relação à Casa,
quando o deputado Targino Machado levou moedas para seu discurso se os deputados
entrarem com uma representação podem ter certeza que na minha gaveta não dorme.
Pode ter certeza que tomarei as providências, dentro das condições do regimento.
Eu tenho uma relação pessoal muito boa com o deputado Targino. Ele é um
deputado, diga-se de passagem, muito atuante, mas às vezes ele se empolga e
passa do ponto. Apesar dos conselhos de todos aqueles que fazem política nesta
Casa, ele às vezes passa do limite. Posteriormente, ele chegou até a pedir
desculpas ao presidente na sessão. Aqui é a Casa do contraditório, da
divergência, mas tem que ser tudo dentro do limite da ética e do
respeito.

Tribuna – A oposição conseguiu se unir e ficar
mais aguerrida ou ainda continua fragilizada?
Nilo –
Eles estão
fragilizados em termos de quantidade, mas em termos de qualidade estão
aguerridos. Bons deputados fazem oposição nesta Casa. A melhor oposição já feita
nesta Casa tinha dezesseis deputados e eles estão hoje em cargos importantes. Eu
sou presidente da Assembleia, Caetano é prefeito de Camaçari, Moema de Lauro de
Freitas, João Henrique prefeito de Salvador, Lídice da Mata que hoje é senadora,
Alice Portugal que é deputada federal – pessoas que naquela época sustentavam a
oposição e que sobreviveram na política por um projeto, um ideal. Os deputados
que fazem oposição atualmente, apesar da quantidade ser pequena, mas a qualidade
também é muito boa.

Tribuna – Como observa a polêmica em torno da expulsão dos deputados
do PMDB?
Nilo –
Eu prefiro não opinar porque não gosto de
interferir em assuntos de outros partidos, principalmente quando se trata de
parlamentares da Casa. Acho que é um problema do PMDB com os três deputados. Eu,
como presidente da Casa, prefiro não opinar.

Tribuna – O PDT
anunciou Marcos Medrado como candidato a prefeito em 2012. A escolha foi a mais
acertada ou vão desistir da candidatura em prol do PT?
Nilo –
A
política é muito dinâmica, mas o candidato do PDT em 2012 será o deputado
federal Marcos Medrado. Ele já foi vice-prefeito duas vezes, tem uma liderança
muito forte no subúrbio de Salvador, é um deputado federal atuante e eu vou
acompanhar o candidato do meu partido.

Tribuna – Como ficará a situação do prefeito João Henrique (PP) nas
eleições de 2012?  Ele vai apoiar o candidato do PT ou terá fôlego para
construir o próprio sucessor?
Nilo –
Acho que essa pergunta deve ser
feita ao prefeito João Henrique porque eu não posso responder sobre o que ele
vai fazer. O que eu acho importante é que a base do governo possa reduzir ao
máximo a quantidade de candidatos porque se a base do governo sair unida isso
será amplamente favorável.

Tribuna – A Assembleia Legislativa ficará de fora da discussão em
torno da mobilidade urbana de Salvador para preparação da Copa?
Nilo –
Acho que esse é um assunto que envolve o Executivo estadual e o
Executivo municipal. Acho que não é função da Assembleia participar do debate da
mobilidade. Foi função da Assembleia criar a Secretaria da Copa (Secopa),
projeto enviado pelo governador e aprovado nesta Casa porque naquele momento
considerávamos correto ter uma secretaria exclusiva para tratar dos assuntos da
Copa. Com relação aos detalhes da mobilidade, acho que devem ficar com governo e
prefeitura.

Tribuna – A Assembleia não seguiria a mesma lógica da Câmara em
querer ser envolvida no processo ?
Nilo –
Eu jamais aceitarei
interferências no nosso poder e jamais vou interferir em outros poderes. Nós
somos independentes e, portanto, harmônicos. Eu tenho uma relação política e
pessoal fraternal com o governador Jaques Wagner.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lílian
Machado

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