Rafael Moraes Moura – O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA

 Uma comissão formada por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) aprovou o livro Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver e Aprender.

O livro, que chegou a 484.1.195 alunos de todo o País, defende que a forma de falar não precisa necessariamente seguir a norma culta. “Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar os livro?”. Claro que pode”, diz um trecho.

Por uma Vida Melhor, de autoria de Heloísa Ramos, afirma que o uso da língua popular – ainda que com seus erros gramaticais – é válido na tentativa de estabelecer comunicação. O livro lembra que, caso deixem de usar a norma culta, os alunos podem sofrer “preconceito linguístico”. “Fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas.”

O livro foi escolhido por um total de 4.236 escolas, que definiram a obra “mais apropriada a cada contexto”, considerando as “propostas pedagógicas e curriculares desenvolvidas”, informou o Ministério da Educação (MEC). O MEC não comenta o mérito do livro – ressalta que coube a docentes da UFRN aprovar a obra e a cada escola a decisão de adotá-la ou não nas salas.

Padrões. Em nota divulgada pelo MEC, a autora defendeu que a ideia de “correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa”.

Cercado pela polêmica que o livro levantou, o MEC observa que a seleção do conteúdo didático não coube ao ministério. Os livros do Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA) são encaminhados para uma comissão, responsável pela avaliação e seleção das coleções didáticas.

No caso de Por uma Vida Melhor, o debate ficou entre um grupo de docentes da UFRN. Depois de aprovadas, as obras são colocadas à disposição no Guia do Livro Didático, que funciona como uma ferramenta de orientação na definição dos títulos. O ministério arca com as despesas dos livros.

Programa. Ao tratar dos componentes curriculares, o edital do programa do Ministério da Educação previa que os alunos do segundo segmento – do 6.º ao 9.º ano do ensino fundamental, que receberam a obra – “demandam novos tipos de reflexão sobre o funcionamento e as propriedades da linguagem em uso” e “a sistematização dos conhecimentos linguísticos correlatos mais relevantes”.

O edital também diz que “cabe ao ensino de língua materna, nesse nível de ensino-aprendizagem, aprofundar o processo de inserção qualificada do aluno na cultura da escrita”.

O MEC afirmou que até ontem não havia pedidos de devolução dos exemplares. A Editora Global informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que é responsável pela comercialização e pela produção do livro, mas não pelo seu conteúdo. Procurada, a assessoria da UFRN disse que não se pronunciaria.

Compartilhe