Silvana Blesa/Tribuna

 

Acerto de contas é o principal motivo apontado pela polícia para a chacina com quatro mortos, ocorrida no final da tarde de anteontem, no bairro de Cosme de Farias.
Quatro homens chegaram em um carro modelo Gol de cor azul, que foi estacionado na frente da casa alugada por Paulo Carvalho Lima, de 24 anos, mais conhecido como “Paulo Seda”, que era o alvo dos matadores. A residência fica situada no primeiro andar da casa, onde existe um salão de beleza no qual a mulher de Paulo atendia os clientes.
O dono da casa resolveu reunir uns amigos para fazer um churrasco na tarde de domingo. O presidiário Eberson Lima, 34 anos, foi convidado por Paulo para participar do churrasco e levou sua esposa, Lília Lucimária Ferreira de Oliveira, 32 anos, que estava grávida de seis meses.
Estavam presentes no churrasco também a filha de Lília, Beatriz, de 12 anos; seu sobrinho, que passava férias em Salvador; o deficiente mental Jéferson Lima Rocha, 17 anos; e um amigo, Wellington de Jesus Rodrigues, de 25 anos. Além de Paulo, na residência estavam a sua esposa, Luciana Rocha Santos, e o amigo, Bruno Santos de Oliveira, 17 anos.

Todos estavam reunidos, com o som ligado, quando os quatro homens aproveitaram que o portão e a porta estavam abertos, invadiram o local e promoveram o ataque. “Eles atiraram contra todos para não deixar testemunhas”, afirmou a titular da Delegacia de Homicídios, Francineide Moura.

A casa não tinha saída para os fundos. Bruno, que se encontrava na sala, foi o primeiro a ser morto. As demais pessoas se encontravam na cozinha, uns acendendo o fogo da churrasqueira, e as mulheres conversavam, quando foram surpreendidas pelos homens armados.

“Eles gritavam: mata Paulo Seda. Ele está se bulindo, atira novamente. Verifique se ele está morto. Só escutei os tiros e as vozes deles e não deu para visualizar se estavam encapuzados, pois consegui me esconder atrás do fogão e fingir de morto.

Quando percebi que eles saíram, só tinha estrago dentro de casa e vi que minha esposa estava atingida com um tiro na cabeça, mas ainda respirava. Saí pela casa e vi que tinha três mortos. Liguei para a polícia e pedi socorro, queria salvar, pelo menos, a minha filha que Lílian esperava”, disse Ebson, um dos sobreviventes que responde por homicídio e estava no regime semiaberto.

Menina vê mãe ser executada

A filha de Lílian, Beatriz, também se salvou por pouco. Ela foi atingida na mão e contou para sua avó que estava perto da mãe quando os homens entraram atirando.

“Ela caiu no chão e ficou deitada ao lado de Wellington. Ele pediu para ela ficar quieta e fingir de morta, pois ele também estava baleado e precisava se salvar. Beatriz seguiu o conselho dele e foi levada para o Hospital Geral do Estado (GHE), onde passou por uma cirurgia na mão e recebeu alta ontem. Ela está transtornada e pede para ver a mãe”, contou a avó da menina.

SOCORRO – Lílian foi levada para o HGE, mas morreu assim que deu entrada na unidade. Os médicos tentaram salvar o bebê, mas não tiveram êxito. O estado mais grave é o de Jéferson, que tomou três tiros na barriga e outros dois em outras partes do corpo.

Enquanto que Wellington foi atingido nas nádegas. Até às 17h47 de ontem, os corpos das quatro vítimas continuavam no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.

“Os corpos já foram necropsiados, mas, por falta de documentos, ainda não foram liberados”, informou a assessoria de comunicação do Departamento de Polícia Técnica. “Precisamos ouvir familiares, as pessoas têm que se dispor a colaborar. O crime aconteceu às 17h, tinha muita gente na rua”, comentou a delegada Fancineide Moura sobre a investigação.

Seda seria o padrinho

A polícia suspeita que o ataque tenha sido promovido por traficantes do bairro de Pau da Lima, onde Seda tinha escapado de um atentado há dois meses. “Ele estava morando há pouco tempo em Cosme de Farias. Como apresenta uma vasta fixa criminal, acreditamos que o alvo seria ele. Ainda estamos iniciando as investigações e ainda não temos autoria definida”, disse a delegada Francineide Moura.

Ebson disse que estava cumprindo pena na casa dos albergados e que no domingo pela manhã chegou a trabalhar no Moinho, no Comércio. Ebson responde por um homicídio ocorrido após briga no bairro de Jardim Cruzeiro. “Apesar de responder por esse crime, eu não sou marginal. Não usei arma para matar meu desafeto, apenas entramos em luta corporal e depois de quatro dias, ele morreu no hospital.

Se soubesse que Paulo era envolvido com essas coisas erradas, jamais iria expor a minha família. Ele era uma pessoa legal, me tratava bem. Eu tinha até escolhido ele para ser o padrinho da minha filha que Lílian esperava”, desabafou Ebson, que diz ter conhecido Seda há quatro meses. 

Compartilhe