Osvaldo Lyra-Editor de política/Tribuna

 

Entusiasmado com as declarações do governador Jaques Wagner, que o lançou como candidato ao Thomé de Souza em 2012, o deputado Nelson Pelegrino prega a unidade das forças governistas para as eleições de Salvador. Para ele, “sem nenhum atropelo ou imposição”, será possível o PT liderar uma frente que represente todos os partidos da base do governador na capital baiana. Nesta entrevista à Tribuna, o parlamentar defende a parceria entre o prefeito João Henrique e o governador. Questionado, Pelegrino diz que ainda é cedo para saber se o prefeito terá fôlego para emplacar um sucessor. No entanto, ele disse que aceitará apoios, sobretudo, do prefeito e do seu novo partido, o PP. “Eu não descartarei um apoio”.

Tribuna da Bahia – A declaração do senador Walter Pinheiro de que o candidato de 2012, em Salvador, poderia não sair do PT lhe incomodou?
Nelson Pelegrino –
Em absoluto. Eu diria que é o ponto de vista dele, foi interpretado de diversas formas e ele já esclareceu. O meu ponto de vista é o mesmo do nosso governador Jaques Wagner: nós temos que ter um candidato, o PT terá candidato, o PT apresentará esse candidato que represente uma frente de partidos, pois o nosso esforço é unir os partidos que compõem a base do governador Jaques Wagner. Eu penso que é legítimo que o PT não só tenha um nome, como também apresente um nome à frente, evidentemente sem nenhuma imposição, sem nenhum atropelo. Mas eu vou trabalhar para que o PT tenha candidato, como apresente um candidato e que esse candidato possa liderar essa frente.

Tribuna – Qual a estratégia? O que levou o governador Jaques Wagner a se antecipar e decidir pelo seu nome?
Pelegrino –
Eu tenho dialogado muito com o governador Jaques Wagner sobre o processo sucessório de Salvador. Ele está convencido de que o meu nome é o mais bem posicionado. Quando ele fala, evidentemente que ele respeita a democracia partidária, ele sabe que há outras postulações dentro do PT. Mas é a sua opinião como militante. Eu acho que ele tem direito. O governador Jaques Wagner é a maior liderança do PT, é a maior liderança política do estado hoje, e, portanto a sua opinião tem um peso importante dentro do partido. E a sua opinião. Ele acha que o meu nome é o que está mais bem posicionado dentro do PT.      
 
Tribuna – Geralmente, o governador demonstra simpatia, mas manda o candidato se viabilizar, mas com o senhor foi o oposto. Ele lhe lançou e agora é que começa a construir a unidade…
Pelegrino –
Eu diria que quando o governador expressa a sua opinião, ele faz a partir de um conjunto de análises. O governador sabe que eu fui candidato a prefeito de Salvador por três vezes, que eu fui o deputado mais bem votado da cidade, sabe que eu tenho um peso político na cidade. Então, ao dar a sua opinião, ele fez com base em uma análise.

Tribuna – É favorável ao BRT. Aliados seus, de sua tendência, ao VLT. Como unir o PT se não consegue unir a própria base sobre decisões administrativas?
Pelegrino –
O PT é um partido democrático. Nós estamos fazendo um debate sobre o melhor modal para transporte de massa para Salvador. Eu não faço um debate apaixonado nem fundamentalista sobre qual é o modal que nós vamos adotar. Há outras propostas apresentadas que eu estou examinando. A minha opinião em relação a essa questão se dá em relação às duas propostas principais, nesse caso o BRT e o VLT. Eu levo em consideração que devemos adotar um modal que seja importante e viável para a Copa do Mundo, levo em consideração também os recursos disponibilizados pelo governo da presidente Dilma, que é de R$600 milhões. Com esse valor, nós fazemos o BRT na Paralela, mas não fazemos o VLT. O último estudo que eu tenho do valor para se fazer o VLT é de R$3 bilhões – R$1 bilhão do governo do estado – só para o trecho da Paralela e ainda acarretaria uma discussão maior na cidade, pois teria que entegrar o terreno do Parque de Exposições e da Rodoviária. Eu penso que os dois transportam o mesmo número de passageiros e o BRT tem algumas vantagens como o fato de ser mais barato, não envolve subsídios, todo o material rodante é fabricado no Brasil, é mais fácil integrar o BRT com o sistema de transporte da cidade.

Tribuna – Essa integração então deve pautar a escolha
Pelegrino –
Nós temos que ter uma fórmula que integre o BRT e o metrô também, tendo uma diminuição de tarifa. Por ora eu penso que o BRT é o mais viável, mas se eu for convencido de que o VLT é melhor, não terei nenhum problema em mudar minha opinião. Eu estudei, estive na Colômbia, conheci o sistema e vejo que o BRT atende a realidade de Salvador. Toda infraestrutura que for feita para o BRT, no futuro, se quisermos mudar para outro modal, a infraestrutura possibilita isso. Faço esse debate tendo como pressuposto o que é melhor para Salvador.

Tribuna – E quanto à já declarada candidatura de aliados, como o PP, PDT e PCdoB? Considera uma ameaça?
Pelegrino –
 Em absoluto. Eu acho que é legítimo que os partidos se posicionem e coloquem suas pretensões. Como diz o ditado popular: quem não é visto não é lembrado. Agora, eu tenho conversado com todos os partidos e tenho manifestado que nós devemos deixar a porta aberta para o futuro, temos que conversar entre nós e admitir a possibilidade de que podemos marchar juntos. E vamos fazer uma grande conversação entre os partidos da base aliada, vamos ver os nomes que estão colocados, e vamos ter que ter a maturidade para escolher uma chapa, com um candidato a prefeito  e um a vice-prefeito que representem esse projeto.    
 
Tribuna – E se houver bate chapa e isso chegar a ameaçar seu projeto como ocorreu nas eleições passadas?
Pelegrino –
Não. O debate que estamos fazendo é qual é a melhor estratégia para ganhar as eleições em Salvador, se no primeiro ou no segundo turno. Eu defendo a estratégia de que possamos ganhar a eleição no primeiro turno. Se unirmos todos os partidos da base do governador a possibilidade é grande de ganharmos no primeiro turno. Se não for possível, uma boa parte se reunir e a outra parte quiser lançar candidatura no primeiro turno, aí será a estratégia para se ganhar no segundo turno, e nesse caso cada um vai tentar se viabilizar para chegar na segunda fase do pleito.    
 
Tribuna – O prefeito João Henrique se filiou ao PP. O senhor considera que a gestão melhorou ou ainda há dificuldades?
Pelegrino –
É muito curto o espaço de tempo para afirmarmos que já melhorou e que houve uma mudança de rumo na administração municipal. O fato de ele ter se filiado ao PP deu mais estabilidade política, abre uma janela para administração, incorpora novos quadros para contribuir na gestão, mas é muito cedo para dizermos que houve uma mudança de rumos, até mesmo porque isso é uma questão mais profunda. O que a gente deseja é o melhor para a cidade, não apostamos no caos administrativo, não apostamos no caos político. O governador Jaques Wagner deu a mão ao prefeito muito antes de sua filiação ao PP, porque nos interessa a estabilidade política, administrativa e financeira da cidade. Salvador precisa cumprir com seus compromissos e obrigações com seus munícipes, mas, acima de tudo, porque podemos criar uma parceria que só é benéfica para cidade. Nós temos uma janela de oportunidade que se abre com a Copa, e que é preciso que haja uma sinergia entre o governo do estado, federal e a prefeitura para que as coisas possam acontecer.

Tribuna – O prefeito terá fôlego pra tentar emplacar um sucessor?
Pelegrino –
Eu penso que a sucessão do prefeito João Henrique passa pelo governo do estado, passa pelo governador Jaques Wagner. E eu tenho pelo menos ouvido da parte dele e da parte do PP a verbalização nesse sentido. Agora, se ele terá um candidato ou não, é outra discussão. É algo que a gente só vai perceber no futuro. Mas eu penso que o grande condutor do processo sucessório é o governador Jaques Wagner. 
 
Tribuna – O senhor vai querer o PP e o prefeito João Henrique como seus cabos eleitorais, na sua base de apoio em 2012?
Pelegrino –
Eu não descartarei um apoio. Todos os apoios são bem-vindos. Se o prefeito João Henrique e o PP manifestarem apoio a uma possível candidatura minha, com muita honra receberei esse apoio. 

Tribuna – Concorda com a postura do PT municipal em se recusar a apoiar João Henrique?
Pelegrino –
Eu diria que houve avanços na posição no PT municipal. Diria que eles estão numa posição independente em relação ao prefeito João Henrique. Nós disputamos a prefeitura com o perfeito e a história nos colocou no papel de oposição. Essa movimentação que ele fez com alguns gestos também operou de certa forma uma mudança de postura do PT, ou seja, independente. O que significa isso? O que for bom para a cidade nós vamos votar e aprovar, o que não for bom vamos discordar. Não é uma oposição mais raivosa, é uma oposição que quer o bem da cidade, agora temos a independência em discordarmos e não votarmos naquilo que não consideramos bom. A posição é a de não participação na administração e isso é uma unanimidade hoje no partido.    

Tribuna – E quanto à união do PMDB, DEM, PR e PSDB para derrotar o PT? É uma ameaça?
Pelegrino –
Eu penso que esse é o caminho natural da oposição. Principalmente o DEM e o PSDB, até por uma questão de sobrevivência política, terão que lançar um candidato na cidade. Penso que as forças que compõem a base do governo são favoritas. Tem uma nuance que é o problema do PMDB, que é oposição ao governo Wagner aqui no estado, mas faz parte da base de sustentação do governo Dilma. Então, uma movimentação ostensiva do PMDB de apoio a um candidato do PSDB ou do DEM – partidos que estão na oposição ao governo federal – deixará o PMDB numa posição desconfortável, mas isso é o jogo da política e nós vamos ver como isso vai se desenvolver no ano que vem.     
 
Tribuna – Persistente como o ex-presidente Lula. Agora será a sua vez de assumir o Thomé de Souza?
Pelegrino –
É um sonho que eu venho acalentando há muitos anos. Eu tenho uma paixão por essa cidade, eu sou um apaixonado. Ontem (quinta) eu participei de um debate e um companheiro colocou: ‘Quem quer ser prefeito de Salvador hoje ou é maluco ou é um apaixonado pela cidade, diante dos grandes problemas e grandes desafios’. Eu diria que estou na segunda categoria, e essa paixão é o que me motiva a me colocar para a disputa e a querer encarar esse desafio e mudar o rumo da cidade de São Salvador.    
 
Tribuna – Vai ser possível ainda preparar a cidade para a Copa do Mundo?
Pelegrino –
Esse é um desafio que temos que dar as mãos para vencê-lo. E quando eu digo isso não me refiro apenas a nós que fazemos parte da base do governo Wagner, mas todo mundo. Desde o primeiro momento, quando o prefeito João Henrique fez menção de se aproximar do governo, eu fui favorável porque isso permitiria uma sinergia para que as coisas acontecessem para 2013 e 2014. Neste momento, eu como deputado, como coordenador da bancada baiana, meu esforço principal é dar a minha contribuição para viabilizar as coisas para Salvador. Ainda essa semana eu tive duas reuniões com o pessoal da Sedur e da Conder na Caixa Econômica Federal, tentando salvar as emendas e os recursos que estão disponibilizados do governo federal para a cidade, a exemplo da Feira de São Joaquim, as obras do PAC.

Tribuna – Não é muita coisa por fazer e pouco tempo pra executar?
Pelegrino –
Olha, o próximo prefeito assume no dia 1º de janeiro de 2013 e terá um ano e meio para a Copa. Por isso, precisamos fazer todos os esforços para que os projetos sejam viabilizados. Nós temos que trabalhar já para qualificar nossa cidade para 2014. Algumas coisas estão embrionárias, mas outras não, como por exemplo, a arena Fonte Nova, que está bem adiantada. O modal para transporte de massa, o governo está bastante envolvido. Nós estamos discutindo neste momento e eu sou favorável à estadualização do metrô. O governo tem que encampar as obras do metrô, terminando os trechos e integrando aos demais sistemas de transporte. Toda a discussão de requalificação do porto, do entorno da Fonte Nova e do Centro Histórico está sendo feita. Tem as intervenções na área de segurança pública, e eu fui um dos que apoiaram a criação das unidades de polícia pacificadora nas comunidades. Salvador vai ser mostrada para o mundo todo e é preciso que haja um envolvimento coletivo para que as coisas possam acontecer para 2014.  

Tribuna – Caso tenha êxito em sua caminhada e assuma a prefeitura de Salvador, o que faria diferente da atual gestão do prefeito João Henrique?
Pelegrino –
Os orientais têm uma frase que eu considero muito sábia: ‘Toda grande caminhada começa com o primeiro passo’. O que nós temos que fazer agora é projetar o primeiro passo para uma grande caminhada, planejar Salvador para o futuro não para os próximos quatro anos, mas para os próximos 30 anos.  É fazer o que o presidente Lula fez, que alterou a estrutura socioeconômica do país, alterou o modelo do país e o projetou para o futuro. Nós temos que ter instrumentos que planejem a cidade para os próximos 30 anos para que ela cresça para onde nós queremos que ela cresça, tem que ter instrumentos que alterem a estrutura socioeconômica da cidade, pois Salvador não pode mais ser uma cidade que concentre pobreza e miséria e a população tenha uma baixa renda, com pouca capacidade de contribuir e financiar a cidade. Portanto, nós temos que mudar a relação da administração pública com a sociedade, nós temos que ter a transparência, temos que ter a participação popular e o envolvimento da sociedade na solução dos problemas da cidade. O próximo prefeito terá que fazer um ajuste profundo nas finanças municipais, ou seja, terá que arrumar a casa para que, a partir daí, possa se planejar e dotar a prefeitura de instrumentos de intervenção e de captação de recursos.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lílian Machado

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