Almir Leite – O Estado de S.Paulo

A cidade de São Paulo é a favorita para receber a abertura da Copa do Mundo de 2014. Tem a preferência, às vezes clara, noutras veladas, de autoridades políticas e esportivas. Como ainda não tem o principal, um estádio – nem ao menos a construção de um está em andamento -, dá fôlego às outras candidatas. Belo Horizonte, Brasília e Salvador acreditam estarem fortalecidas. Tocam as obras de suas arenas de acordo com o cronograma estabelecido e garantem que todas as outras ações de infraestrutura necessárias para habilitar uma cidade serão realizadas a tempo.

Divulgação/DDG
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Estádio do Corinthians receberá os jogos da Copa em São Paulo

 

A Fifa protela a decisão, mas claramente espera por São Paulo, embora seu presidente, Joseph Blatter, tenha dito recentemente que “a escolha do local de abertura da Copa será técnica”. Difícil de acreditar, partindo de uma entidade que não raras vezes coloca o interesse político à frente do esportivo. Mas é na fala de Blatter que os concorrentes de São Paulo alimentam o desejo de ser agraciados na abertura.

“Vamos entregar à Fifa tudo que ela nos pediu e dentro do prazo adequado. Esperamos da Fifa o mesmo tratamento que vamos dar””, disse Sergio Barroso, secretário extraordinário da Copa do Mundo de Minas. Ele garante que o Mineirão, cujas obras entram na fase das fundações, será entregue em dezembro de 2012.

O Mineirão, por sinal, é um dos estádios com as obras mais avançadas, segundo especialistas em engenharia, assim como o Estádio Nacional (Brasília, antigo Mané Garrincha) e a Fonte Nova (Salvador).

Os baianos também confiam na fidelidade aos prazos e na efetividade da escolha técnica como alguns dos trunfos para vencer a concorrência. “Estamos observando rigorosamente o calendário da Fifa””, afirma Ney Campello, secretário estadual para assuntos da Copa que, precavido, alerta. “Vamos respeitar a decisão (da Fifa). Só não podem existir regras diferentes.””

Depois da implosão da antiga Fonte Nova, Salvador só vai aumentar a capacidade da nova arena – de 50 para até 70 mil pessoas -, se ganhar a abertura ou uma semifinal. A ampliação será feita com arquibancadas modulares.

Brasília considera que está bem no páreo. “Estamos praticamente refazendo o Mané Garrincha. Posso garantir que é um projeto mais bonito e mais completo. Teremos o estádio mais moderno do País””, assegura Cláudio Monteiro, chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz.

Atraso. Mas e São Paulo? A mais importante cidade do País, e a de melhor infraestrutura, a rigor ainda não tem estádio. Até agora, o Itaquerão não saiu do papel. Falta obter algumas licenças municipais e também definir como será o financiamento dos R$ 600 milhões que, estima-se, serão necessários para a construção da arena para 65 mil pessoas. Então, as obras finalmente começarão – fala-se na segunda quinzena de abril.

“Com todo respeito às outras cidades, e elas merecem, não vejo uma abertura de Copa no Brasil que não seja em São Paulo””, diz o secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude e integrante do Comitê Organizador do Estado, Jorge Pagura.

O ministro do Esporte, Orlando Silva, procura não demonstrar preocupação com o atraso paulista. Mas franze a testa quando confrontado com o assunto. “Há duas semanas, o governo Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab foram muito firmes ao comunicar à presidente Dilma Rousseff que em Itaquera existe plano para estruturar o estádio do Corinthians. Eu confio na palavra e na convicção deles””, disse durante a semana.

Ele não admite a preferência por São Paulo, mas lembra que se trata da maior cidade e a mais bem estruturada. “Não se trata de preferência. É uma questão objetiva, não de desejo.””

Alerta. Os representantes das outras concorrentes à abertura garantem que não se perturbam com a “complacência”” com a capital paulista. Mas, pelo tom de voz, percebe-se alguma irritação. “Respeitamos a legitimidade de São Paulo, não queremos tensão nessa questão. O que não aceitamos é a ideia de haver critérios diferentes por parte da Fifa. Tem de decidir por critério técnico””, diz Ney Campello, de Salvador. “São Paulo é fortíssima, mas até agora não tem estádio. Só fala. Se tiver (estádio) vai ser um grande concorrente””, afirma o mineiro Sérgio Barroso.

Cláudio Monteiro não parece se abalar. “Não é desagradável, pois o Ricardo Teixeira (presidente da CBF e do Comitê Organizador Local – COL) desde o início disse que, se São Paulo tiver estádio, abrirá a Copa””, diz. “E eu não estou competindo com São Paulo e sim fazendo um estádio que Brasília merece.””

 

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