Do G1

O governo do Egito anunciou nesta sexta-feira (28) um toque de recolher nas cidades do Cairo, de Suez e de Alexandria, depois de quatro dias de violentos protestos contra o governo de Hosni Mubarak.

A medida, segundo a TV estatal, vale de 18h até 7h do dia seguinte. Ela foi definida pelo próprio Mubarak, na qualidade de chefe das Forças Armadas.

Um manifestante foi morto em Suez nos protestos desta sexta. Hamada Labib el-Sayed, um motorista de 30 anos, morreu com uma bala na cabeça quando a polícia tentava dispersar milhares de manifestantes que atacaram  delegacia da cidade. Os manifestantes incendiaram oito carros da polícia e um posto policial do bairro de Arbayine.

Pelo menos sete pessoas morreram desde o início dos protestos.

Manifestantes voltaram entrar em confronto com a polícia no centro do Cairo depois das orações semanais. A sede do Partido Democrático Nacional, de Mubarak, estava em chamas, segundo imagens mostradas ao vivo pela TV Al Jazeera.

Carros militares foram vistos circulando nas ruas do Cairo, de acordo com testemunhas e a rede CNN. Fumaça erguia-se de vários pontos da cidade durante o anoitecer.

Em Alexandria, o edifício sede do governo foi incendiado por manifestantes.

Mais cedo no Cairo, políciais usaram gás e jatos d´água contra manifestantes. Há relatos de muitos feridos e de muitas prisões.

ElBaradei
Os milhares de manifestantes pressionam pela renúncia de Mubarak, há 30 anos no poder.

O opositor Mohamed ElBaradei, que recém retornou ao país e se ofereceu a conduzir uma suposta transição de governo, estaria sob prisão domiciar, segundo a CNN. Ainda não havia confirmação oficial.

ElBaradei participou de uma oração com 2.000 pessoas numa mesquita de Guiza, na capital.

A polícia cercou o local. A rede de TV Al Jazeera chegou a relatar que ele havia sido preso, mas depois desmentiu. Segundo a TV, ele teria sido apenas impedido de deixar o local.

Depois, ele e seu grupo se uniram aos protestos, em uma marcha pacífica pela cidade, segundo testemunhas.

Internet e celulares
A internet e o sinal de telefones celulares seguiam fora do ar no país, segundo vários relatos. O governo negou intervenção.

O Departamento de Estado dos EUA pediu que o país garanta o acesso às comunicações e respeite direitos inidividuais durante os protestos.

Usuários e hotéis em vários pontos do país informavam que o acesso à web estava interrompido.

Um dos maiores provedores da rede no país, o Seabone, baseado na Itália, informou mais cedo que não havia transmissão de dados para dentro ou fora do Egito desde 0h30 no horário local (20h30 de Brasília), segundo a Associated Press.

Repórteres de diversos meios de comunicação do país e blogueiros também relatam sobre o corte no serviço.

As redes sociais têm sido um dos principais meios usados pelos manifestantes para convocar os protestos.

A informação também tem se espalhado pela rede por meio de sites dedicados ao mundo árabe ao redor do mundo. O blog “The Arabist”, citado pelo americano “Huffington Post”, afirma que diversos servidores teriam sido afetados.

Manifestante joga pedra na polícia nesta sexta-feira (28) no Cairo; ao fundo, um carro policial em chamas
Manifestante joga pedra na polícia nesta sexta (28)
no Cairo; ao fundo, um carro policial em
chamas (Foto: AP)

“Acabei de receber uma ligação de um amigo no Cairo (do qual não posso citar o nome porque é um importante ativista) me dizendo que nenhum dos seus serviços de internet está funcionando. Chequei com outros dois amigos em diferentes partes da cidades, que confirmaram que a rede não está funcionando”, relata o autor.

O relato também é confirmado por outro blog, “Mondoweiss”. Ambos os relatos dizem que a internet foi cortada minutos depois de a agência de notícias Associated Press ter publicado um vídeo de um manifestante sendo baleado durante os protestos no Sinai.

Pelo Twitter, repórteres que estão no país também relataram a interrupção na rede. “Sem internet, sem SMS, qual será o próximo? Celulares e telefones fixos? É demais para a estabilidade”, postou o reporter da rede CNN, Ben Wedeman.

O também americano “Los Angeles Times” também relata que o serviço de internet via BlackBerry foi cortado no Egito.

Também havia relatos de que os telefones celulares estavam mudos.

Mapa do Egito mostra as cidades em que ocorreram os principais protestos
Mapa do Egito mostra as cidades em que vigora o
toque de recolher (Foto: Arte G1)

Pedido de reformas
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia, também membro do governista Partido Nacional Democrata no poder, pediu ao presidente egípcio Hosni Mubarak “reformas sem precedentes” para evitar uma revolução no Egito.

“Em nenhuma parte do mundo a segurança é capaz de pôr fim à revolução”, afirmou Mostapha al Fekki, à TV Al Jazeera. “O presidente é a única pessoa que pode pôr fim a esses acontecimentos”, disse, para depois pedir “reformas sem precedentes”.

Jornalistas presos
Quatro jornalistas franceses foram detidos no Cairo, segundo o porta-voz do ministério francês das Relações Exteriores, Bernard Valero. Eles teriam sido libertados poucas horas depois.

Segundo uma fonte diplomática, eles trabalham para o “Journal du Dimanche” e o “Le Figaro”, a agência de foto “Sipa” e a revista “Paris-Match”.

Manifestante beija policial durante protesto no Cairo
Manifestante beija policial durante protesto no
Cairo (Foto: AP)

Inspiração na Tunísia
A exemplo dos tunisianos, os egípcios se queixam do desemprego, da corrupção e do autoritarismo.

Um funcionário do governo norte-americano disse que os protestos são ‘uma grande oportunidade’ para que Mubarak, um dos principais aliados dos EUA na região, promova reformas políticas.

O presidente Barack Obama afirmou em entrevista divulgada no site de vídeos YouTube nesta quinta-feira que a violência não é uma solução para o Egito, fazendo um apelo a governo e manifestantes à contenção.

Obama reiterou o pedido das autoridades americanas a que os manifestantes possam se exprimir livremente.

“O Egito é um dos nossos aliados sobre numerosas questões de importância”, disse o presidente, lembrando que falou numerosas vezes com Hosni Moubarak sobre a importância extrema de realizar reformas no governo.

Brasil
O Itamaraty divulgou nota oficial em que afirma que o governo brasileiro acompanha com atenção o desenrolar dos acontecimentos no Egito, na Tunísia e no Iêmen.

Leia a íntegra:

O Governo brasileiro acompanha com atenção o desenrolar dos acontecimentos no Egito, na Tunísia e no Iêmen.

O Governo brasileiro expressa sua expectativa de que as nações amigas encontrarão o caminho de uma evolução política capaz de atender às aspirações da população em ambiente pacífico e sem interferências externas, de modo a dar suporte ao desenvolvimento econômico e social em curso.

O Brasil e os países da América do Sul desenvolvem cooperação crescente com os países árabes. Em 16 de fevereiro, em Lima, terá lugar a III Cúpula América do Sul – Países Árabes (ASPA). Será uma oportunidade de renovação do diálogo com lideranças da região.

O Egito é um importante parceiro do Mercosul (em 2010, foi assinado acordo de livre comércio). O bloco tem ampliado seu relacionamento com os países árabes, como se verifica nas negociações em curso com Jordânia, Síria e Palestina.

Compartilhe