Tribuna/Fernanda Chagas

 Após vitória com folga no último dia 3, o governador reeleito Jaques Wagner (PT) se mantém focado na campanha da “companheira” Dilma Rousseff e nada havia adiantado sobre sua nova gestão, muito menos sobre possíveis alianças.

 No entanto, em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura, o governador acabou por surpreender ao declarar que uma recomposição com o PMDB, do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, não está descartada.  Segundo ele, seria uma tarefa difícil, mas não impossível. Em agosto do ano passado, o PMDB abriu mão de inúmeros cargos no governo e desfez a aliança feita em 2006 em prol de candidatura própria.

 

“No caso do PMDB baiano, a volta não será fácil. Uma coisa é você convidar e outra é reconvidar. Afinal, na primeira traição a culpa é do traidor. Na segunda, a culpa é do traído porque deu outra chance”, considerou.

Wagner avaliou ainda que a legenda de Geddel construiu um governo paralelo ainda no início da administração. “Com menos de um ano de governo, o PMDB foi construindo um outro governo. E não posso negar que o governo melhorou muito depois da saída do PMDB, porque o partido era um foco de tensão interna”.

Um jornalista chegou a caracterizar o rompimento como “sangrento”, o que foi minimizado por Wagner, que tratou de dizer que na disputa os candidatos do PMDB e do DEM, leia-se Geddel e Paulo Souto, conseguiram manter o padrão do não às ofensas.

Geddel, por sua vez, ao contrário de Wagner, rejeita qualquer probabilidade de reconciliação. De acordo com ele, que ficou em terceiro lugar na briga pelo Palácio de Ondina, essa é a hora de os vitoriosos falarem. “O momento para quem, como eu, perdeu a eleição é de assuntar o quadro político, mas posso adiantar que meu partido perdeu a disputa nas urnas por buscar um projeto novo e é na oposição que deve ficar”.

O líder peemedebista reiterou ainda que é preciso ficar claro que ele não é inimigo de Wagner, mas sim adversário político. “Se algum dia precisarmos conversar sobre os interesses da Bahia, conversaremos”, admitiu.

Contudo, quando o assunto foi a citação de traição por parte do governador, Geddel, bem ao seu estilo franco atirador, disparou que: “quem se sente traído é o PMDB, por ele (Wagner), inclusive. Toda traição começou pelo PT, partido do governador, ainda quando era aliado do prefeito João Henrique, que abandonou o barco aos 45 minutos do segundo tempo para lançar candidato. Ao contrário de nós, que fizemos as coisas às claras”.  Complementando o bombardeio, o ex-ministro disse que “Wagner precisa tirar a pele de cordeiro para passar sinceridade. Isso já não convence mais”.

Palocci também foi tema

Em meio a muitos assuntos polêmicos, o governador admitiu que Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda no governo Lula, afastado por causa do caso envolvendo o caseiro Francenildo Pereira, poderá ser o articulador político do futuro governo, caso Dilma, vença a eleição. “Olha, eu acho que é uma boa aposta. Ele se aproximou bastante dela (Dilma) nesses meses e pode ser que ela dê a ele um cargo como esse, mesmo”, afirmou.

Sobre a implementação do Conselho Estadual de Comunicação, assegurou que “o PT já nasceu com o DNA contestador, de liberdade. Portanto, isso está muito longe dos nossos ideais, de fazer a bobagem de controlar o incontrolável”, frisou, referindo à imprensa.

Sobre a crise que liga a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra com Dilma, o governador foi sucinto: “Claro que a Dilma confiava na Erenice e é por isso que ela a colocou lá na Casa Civil. Mas, infelizmente, Dilma levou uma pancada. As pessoas às vezes perdem a cabeça quando chegam ao poder”, colocou.

Por fim, mais uma vez surpreendendo, o governador reeleito condenou a reação do presidente Lula de chamar a agressão ao candidato tucano, José Serra, de tentativa de posar como vítima no episódio em que foi agredido em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, na quarta-feira da semana passada.

Wagner disse que a baixaria na política é indesejável para a democracia, e que Lula não precisava ter chamado a reação do tucano de farsa. “Não precisava ter dito daquela forma. Acho condenável, independente do tamanho da bola, qualquer tipo de agressão. Acho abominável. Devemos investir na palavra para ganhar no argumento.

Detesto ofensa pessoal. Qualquer agressão verbal ou material é extremamente mal-vinda para a democracia”, declarou. O governador também criticou Lula por ter dito em comício, ao lado de Dilma, em Joinville, Santa Catarina, durante o primeiro turno, que era preciso “extirpar o DEM da política brasileira”. (FC)

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