Com tendência cada vez mais clara à neutralidade, o Partido Verde se reúne neste domingo com a senadora Marina Silva (AC) para definir a posição da legenda neste segundo turno das eleições presidenciais. Cerca de 160 delegados da legenda e outros 15 representantes dos núcleos sociais que apoiaram Marina no primeiro turno vão se reunir na zona oeste de São Paulo para deliberar sobre como os verdes devem se posicionar neste final de campanha.

Foto: AFP

Rindo a toa com 20 milhões de votos conquistados em 03 de outubro, Marina deve optar pela neutralidade no segundo turno da eleição presidencial

Apesar da forte ofensiva do PT e do PSDB em tentar conquistar o apoio da legenda e da própria Marina Silva nos últimos dois dias, a tendência atual é que o partido opte pela neutralidade – ou “independência”, como eles preferem classificar a decisão.

Diversos representantes do PV ouvidos pelo iG afirmaram que as sinalizações dadas pela campanha de Dilma e Serra para conquistar o apoio dos verdes não foram suficientes para levar o partido para um dos dois lados.

Mesmo arrancando promessas de Dilma e Serra em relação a maioria dos 10 itens da “Agenda por um Brasil justo e Sustentável” elaborada pelo PV, o deputado federal Zequinha Sarney (PV-MA) disse que as promessas não serão suficientes para conquistar o apoio da maioria dos diretórios regionais da sigla.

O deputado maranhense não descartou que a tendência possa mudar, já que PT e PSDB continuaram negociando com caciques da sigla verde até altas horas da noite deste sábado. Zequinha Sarney afirmou, porém, que o PV está muito dividido. “Os votos do PV e de Marina vieram de diversos segmentos e de diversos grupos de interesse. A independência vai fazer com que cada diretório possa, dentro da sua realidade, se posicionar. É a melhor forma de garantir a unidade do partido para o futuro”, disse Sarney.
O presidente do PV de São Paulo, Maurício Brusadin, também sinalizou que a “independência” é a melhor forma de preservar o patrimônio de 20 milhões de votos conquistados por Marina no pleito de 3 de outubro. Segundo ele, Marina sem sido influenciada pelos chamados “núcleos vivos da sociedade” (ONGs e organizações civis) a se manter alheia à guerra religiosa travada por PSDB e PT e uma posição contrária do partido pode “constranger a candidata” diante do eleitor. “O PV se esforça neste momento para manter a unidade partidária e a mobilização conquistada nesta campanha. Como existem várias alas dentro do Partido, qualquer resultado pode acontecer. Acho, porém, que Marina é o nosso maior patrimônio nesse momento”, avalia Brusadin.

Com direito a cinco dos 15 votos que as entidades civis sem filiação com o PV terão na convenção deste domingo, o líder do “Movimento Marina Silva”, Eduardo Rombauer van den Bosch, reafirma a posição de independência que defenderá na plenária de hoje. Ele criticou a “lambança religiosa” que está sendo conduzida pelas campanhas de Serra e Dilma. “A ausência de debate programático nesse segundo turno mostra que os dois candidatos não têm compromisso com a nova forma de fazer política que Marina simboliza”, argumentou.

Guerra de cargos
Embora os principais líderes do partido não reconheçam publicamente, a posição de independência é a forma encontrada pelas várias alas do PV para conter a fúria por cargos que algumas integrantes do partido têm. Nas conversas reservadas que integrantes da sigla mantiveram com representantes de PT e PSDB, a oferta de cargos e ministérios não foi excluída.

Logo após o primeiro turno, o PSDB chegou a oferecer quatro ministérios ao partido, segundo informações de bastidores. A informação foi negada veementemente pelo PV e também pelos tucanos. Nas conversas reservadas, porém, falava-se que a negociação já estaria acontecendo antes mesmo do fechamento das urnas no primeiro turno.

Foto: Rodrigo Rodrigues/iG

Integrantes do PV dão entrevista coletiva em SP. No centro, José Luiz Penna, presidente nacional da sigla, que tenta construir apoio à Serra mesmo com independência do PV

A oferta dos tucanos agradou muito às alas do partido que já são alinhadas ao PSDB em São Paulo, Rio e Minas, onde os verdes fazem parte da base de apoio dos governos comandados pelos tucanos. Porém, Marina teria se queixado da oferta e disse várias vezes em público que estava mais preocupada com “discussões programáticas” e não com a “velha prática política do fisiologismo e da troca de cargos”.

Amigos da senadora acriana afirmam que o apoio de Marina a qualquer um dos lados desmobilizaria os movimentos ambientais e civis apartidários que ajudaram a construir a candidatura dela à Presidência. Com a sede de cargo dos aliados, o maior temor de Marina é que o “novo PV” seja abatido pela ambição de algumas alas.

Apoios regionais

O processo de independência do PV deve liberar o voto dos integrantes do partido nos vários Estados. Os partidários não poderão, contudo, usar o nome da sigla nem qualquer imagem que remeta à sigla. Com isso, integrantes da sigla no Rio, São Paulo e Minas já preparam um ato de apoio a Serra ainda para essa semana, na tentativa de ajudar o tucano a crescer nas pesquisas. O apoio a Serra esta sendo costurado por Fernando Gabeira, que concorreu ao governo do Estado já em aliança com o PSDB, e José Luiz Penna, presidente nacional do partido e vereador da base do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).

Outra ala do partido representada por Zequinha Sarney, no Maranhão, e pelas regionais da Bahia e do Rio Grande do Sul deve firmar apoio em Dilma Rousseff (PT). A tentativa de Serra e Dilma é atrair os votos de Marina. Mas a própria senadora, por sua vez, não deve subir no palanque de nenhum dos dois candidatos. Do IG

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