Um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subir no palanque de Jaques Wagner (PT), candidato ao governo da Bahia, o adversário do atual governador e também candidato Geddel Vieira Lima (PMDB) se dizia abalado. Por volta das 23h30 da última quinta-feira, homens armados invadiram a sede estadual do partido e levaram computadores que continham informações estratégicas de sua campanha.

“É um absurdo”, disse o ex-ministro ao receber o iG na produtora da sua campanha, em Salvador. Antes de seguir para o interior do Estado, onde cumpriria agenda de candidato, ele resolvia as burocracias do incidente da véspera. Entre um telefonema e outro, falou à reportagem sobre o megacomício que reunira na véspera o rival, seu antigo chefe no governo, e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, para o qual não foi convidado.

 Apesar de considerar a presença de Lula “normal” no comício de Wagner, líder nas pesquisas, Geddel disse que foi surpreendido pela visita do presidente ao seu Estado. Por isso, recorreu a Michel Temer, presidente do PMDB. Ainda assim, ele diz que não passam de “especulações” as notícias de que teria pedido ao vice de Dilma para pressionar Lula e a presidenciável a não comparecerem em eventos públicos com Wagner.

Nos bastidores, houve apelo dos peemedebistas para Lula evitar novas aparições ao lado do governador petista, mas o pedido foi ignorado. O presidente já havia deixado claro meses atrás seu descontentamento com o fato de que Geddel sair candidato e inviabilizar um palanque único para Dilma na Bahia.

A seguir, os principais trechos da entrevista ao iG:

iG: A ex-ministra Dilma Rousseff disse, durante visita a Salvador, que precisaria consultar sua agenda ao ser questionada se subiria no palanque do senhor. Como o senhor recebeu essa declaração da candidata?

Geddel: É lógica essa declaração dela. É evidente que ela precisa olhar a agenda dela, assim como eu vou olhar a minha para ver em que momento posso convidá-la para alguma comício na Bahia.

iG: O senhor fará um convite a ela?

Geddel: Certamente, se tivermos algum comício que seja do porte de uma candidata à Presidência convidaremos. Ela já esteve na convenção, foi um grande evento, é natural que ela condicione a vinda dela com a sua agenda. Precisamos discutir datas coincidentes.

iG: Wagner também comentou um eventual palanque duplo de Dilma . O governador disse que não pediria aos dois que evitassem um comício do senhor, mas disse que existe uma situação eleitoral que precisa ser considerada, referindo-se à vantagem dele nas pesquisas.

Geddel: Se tem uma pessoa que não tem autoridade política nenhuma para sustentar discurso em pesquisa é Wagner. Quando eu o apoiei, ele tinha 4,5% de intenção de voto e não era levado a sério por ninguém. Nesse momento, em 2006, Paulo Souto (candidato do DEM) tinha 56% e Wagner aparecia com 10, 12%, uma coisa assim. Então, se pesquisa definisse eleição, você estaria entrevistando Paulo Souto e não Wagner.

iG: E a presença do Lula no palanque de Wagner?

Geddel: Absolutamente normal. Claro que eu queria tê-lo aqui, mas acho natural que ele tenha vindo aqui se manifestar sobre um partido, sua preferência. O que eu precisava é da palavra do presidente e eu a tenho, que são inúmeros elogios a minha atuação como ministro, que permitiu que ele inaugurasse inúmeras obras. Quer um exemplo? Transposição do rio São Francisco. Quando Lula quis fazer no primeiro mandato o ministro da articulação política era Jacques Wagner. Um bispo (d.Cappio) da minha igreja iniciou uma greve e foi designado que ele resolvesse o problema. O resultado, qual foi? Ele encerrou a greve, mas a obra parou. Comigo, Lula quis começar de novo. O mesmo bispo entrou em greve, me foi delegado buscar a solução. Abri diálogo, a greve acabou e o primeiro trecho da obra esta na hora de ser inaugurado. A Bahia vai julgar. Eu não tenho o direito de fazer críticas em relação presidente Lula, porque foi sua generosidade que me deu a grande oportunidade de servir a minha pátria.

iG: O PMDB estaria pressionando o presidente Lula para não vir ao palanque de Jaques Wagner. Antes desta visita de Lula, o senhor não fez nenhum tipo de pressão, nem recorreu ao Michel Temer?

Geddel: São especulações. O Michel Temer é candidato a vice-presidente da República. Eu converso e relato a Michel Temer coisas que acontecem na Bahia. Em momento algum eu pedi e nem Michel Temer se prestaria a fazer qualquer tipo de pressão para cercear o presidente de ir e vir. Conversas políticas existirão sempre, mas o presidente sabe que em momento algum foi abordado para abortar sua vinda à Bahia.

iG: Mas o senhor se queixou a Temer?

Geddel: Absolutamente. Eu registrei fatos e registrarei sempre.

iG: O que seriam esses fatos?

Geddel: A vinda do presidente Lula à Bahia para que Michel fique informado. Mas isso não é queixa. Isso é informação, troca de idéias.

iG: O senhor informou Temer e ele respondeu..?

Geddel: Nada. Vamos torcer para que não haja nenhum atrito, troca de farpas, que não induza o presidente a entrar em nenhuma bola dividida.

iG: O presidente Lula gravou para o senhor?

Geddel: Não gravou e eu também não pedi. Mas ele aparece na propaganda com declarações públicas fazendo aquilo que me orgulha muito. Não falando de uma amizade que não construí com ele há 30 anos, mas como gestor que tira as obras do papel.

 iG: O senhor é o terceiro colocado nas pesquisas na Bahia. Já foi ministro do governo Lula. Caso não vença a eleição no Estado, estaria aberto a um convite de um eventual governo Dilma para compor o quadro de ministros?

Geddel: Acho até um desrespeito especular sobre esse assunto. Estou focado no Estado. Vamos seguir o preceito bíblico: cada dia com a sua agonia.

IG

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