Época

A riqueza dos políticos

Votar é um ato simples, mas requer um raciocínio prévio que a cada dia fica menos simples. Os brasileiros nunca tiveram tantas informações para conhecer os candidatos antes de decidir em quem votar. Informações sobre a vida pregressa, a atuação dos políticos quando governaram, como eles votaram no parlamento, como gastaram suas verbas de custeio pessoal, se cometeram crimes, se são investigados por mau uso do dinheiro público e quanto dinheiro possuem. Desde 2002, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) obriga os candidatos a apresentar uma lista com seus bens. Apesar de algumas falhas, essa declaração abre aos eleitores a chance de ter uma noção da situação financeira dos candidatos.

ÉPOCA fez um levantamento baseado nas informações enviadas até a semana passada pelos mais de 20 mil candidatos inscritos para a eleição de outubro. Foram usados dados disponíveis no TSE e nos sites Políticos do Brasil e Transparência Brasil. A pesquisa permite medir quem são os políticos mais ricos do país, aqueles que mais enriqueceram durante seus mandatos – e o grau de transparência de cada um com a própria riqueza.

Para medir o enriquecimento, a pesquisa feita por ÉPOCA levou em conta os candidatos que exercem mandato desde 2006, no caso de governadores, senadores e deputados federais, ou desde 2002, para o caso de parte dos senadores. Dos 499 candidatos examinados, 365 têm patrimônio maior neste ano do que tinham antes. O TSE ainda está alimentando a lista com dados de candidatos. Mas os números permitem dizer que a política enriquece. “Há uma correlação positiva entre o número de mandatos e o aumento do patrimônio declarado dos políticos”, diz o cientista político Leôncio Martins Rodrigues. “Ninguém entra para a política para ficar mais pobre.” Em seu livro Mudanças na classe política brasileira, Rodrigues examinou o perfil profissional dos parlamentares em legislaturas anteriores. Entre outras coisas, descobriu que a carreira política é um bom negócio. Pouquíssima gente fica mais pobre depois que entra na política.

Ser rico, sempre é bom lembrar, não é nenhum crime. Ao contrário. Quanto mais gente rica um país tem, melhor. A prosperidade de cada vez mais cidadãos é uma das conquistas mais desejadas, mais necessárias e mais importantes para o futuro do Brasil. É dessa riqueza que vêm o investimento em novos negócios, novos empregos e o crescimento econômico que beneficia todo o país. E, em boa parte, é fato que a riqueza de muitos políticos apenas espelha a evolução do país e o tino empresarial dos homens de negócio bem-sucedidos. É o caso do candidato mais rico de todos: Guilherme Leal, presidente da empresa de cosméticos Natura e postulante ao cargo de vice-presidente na chapa de Marina Silva (PV), declarou ter um patrimônio de R$ 1,2 bilhão. Ou de políticos como o ex-governador de Mato Grosso e candidato ao Senado Blairo Maggi (PR) e de parlamentares que também são empresários do agronegócio, um dos setores que mais têm crescido na economia nacional.

Mas há casos que chamam a atenção por razões menos nobres. A má fama dos políticos brasileiros, corroborada por seguidas denúncias de desvio de recursos públicos e conduta ética condenável, deixa dúvidas sobre o crescimento de muitos patrimônios. Certas dúvidas podem até ser sanadas por explicações técnicas, como erros de digitação ou de omissão. Alguns políticos desprezaram as declarações anteriores e afirmam ter fornecido dados incompletos. Outros eram muito pobres ou de classe média baixa e, com o salário de parlamentar ou governador, melhoraram de vida. E há, evidentemente, aqueles cujas explicações não são convincentes.
Istoé

Um país de promessas

A corrida eleitoral só começou oficialmente no dia 6 de julho, data a partir da qual o Tribunal Superior Eleitoral permitiu que os partidos fizessem propaganda política. Mas antes disso, apesar do impedimento legal, as campanhas já largaram com um considerável estoque de promessas feitas pelos candidatos. Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) tagarelaram bastante antes do permitido e seguiram na mesma toada de intenções generosas nas semanas seguintes. Atrás da simpatia dos eleitores, eles prometeram mundos e fundos. Se resolverem cumprir todas as propostas que já estão lançadas, é seguro que o Brasil será um país bem diferente: mais rico, justo e atencioso com seus cidadãos.

Impostos, por exemplo. O contribuinte e as empresas devem ter vida mais folgada, pois os três candidatos prometeram uma reforma tributária para valer. Marina disse que tem esse compromisso “firme, sem falsas expectativas”. Serra afirmou que vai baixar as taxas sobre manteiga, pasta e escova de dentes, além de outros produtos da cesta básica. Dilma fará o mesmo nos setores de energia, edificações, exportações e medicamentos. Serra também adiantou que acabará com a cobrança do PIS/Cofins nas empresas de saneamento. Dilma, que vai “reduzir a zero” tributos sobre investimentos e eliminar as cobranças “em cascata”. Esses compromissos foram firmados a partir do mês de março, quando ISTOÉ deu início a um levantamento diário das promessas dos candidatos.

Os três candidatos estão compromissados com uma reforma administrativa que diminuirá o peso da máquina estatal, tornará as repartições públicas modelos de eficiência e irá aniquilar o vício da distribuição de cargos por motivação política ou parentesco. Com eles não haverá nada disso. Mesmo se forem inventados novos ministérios. Serra, por exemplo, sugeriu a criação de mais dois: o Ministério do Deficiente Físico e o da Segurança Pública.

Os QGs das campanhas

A dez semanas do primeiro turno das eleições, os três principais presidenciáveis colocam os QGs de suas campanhas em ação. A candidata do PT, Dilma Rousseff, saiu na frente ao inaugurar seu comitê em Brasília na terça-feira 13. Ocupa três andares de um edifício chamado Vitória, mas o nome não pesou na escolha do imóvel. “Não foi superstição, foi coincidência”, diz o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT). O presidenciável José Serra, do PSDB, instalou o comando da campanha no antigo Edifício Joelma, no centro de São Paulo, prédio do qual saiu vitorioso para a prefeitura paulistana, em 2004, e para o governo do Estado, dois anos depois. Por causa das tragédias do passado, o edifício tem fama de ser mal-assombrado, mas o tucano acredita que azares antigos não influenciam disputas eleitorais. A candidata do PV, Marina Silva, está abrigada em um espaço charmoso, antes dedicado à música alternativa de qualidade, cedido pela historiadora Gisela Moreau, na Vila Madalena, em São Paulo.

Receita para quebrar sigilo

Em meio à acalorada disputa eleitoral, tanto o PT como a oposição passaram a última semana à procura de um personagem misterioso que poderá ter um forte peso nas eleições presidenciais de outubro. Trata-se de um funcionário da Receita Federal que violou o sigilo do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Os dados varejados acabaram repassados a uma equipe de velhos arapongas especializados em produzir dossiês. Na manhã da sexta-feira 16, o corregedor-geral da Receita, Antônio Carlos Costa D’Ávila, confirmou em entrevista exclusiva à ISTOÉ que a Receita se concentra em apenas um único suspeito de acessar os dados fiscais do tucano, sem motivação comprovada. No dia 1º, a Corregedoria instaurou um processo administrativo disciplinar para investigar somente este servidor, que agora terá de dar explicações. “Os indícios levam a crer que apenas um servidor praticou irregularidades administrativas”, disse D’Ávila. A expectativa da Receita é de concluir o processo administrativo em, no máximo, 60 dias.

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