Lílian Machado/Tribuna da Bahia

 A presidenciável Dilma Rousseff (PT), que possui dois palanques no estado (PT e PMDB), mesmo sem pedir votos, deixou claro ontem na convenção do Partido dos Trabalhadores sua preferência natural pelo governador Jaques Wagner, candidato petista à reeleição no estado. Num dos pontos mais altos do discurso, onde a ex-ministra destacava a “parceria de continuidade” do governador baiano com o governo federal, Dilma não hesitou em declarar que ela, Wagner e o presidente Lula são “irmãos de alma, no mesmo projeto de transformação da Bahia e do Brasil”.

 Mais uma vez a candidata petista ao Planalto trouxe um recado do presidente Lula ao governador “galego”. De acordo com ela, num diálogo por telefone, o presidente, além de enviar um abraço, disse: “Vê se ele se elege governador na Bahia”. Conforme a presidenciável, ela e Wagner foram importantes nos momentos de crise, sobretudo, no episódio do Mensalão. “Nas horas mais difíceis, Jaques Wagner e eu nos encontramos e enfrentamos uma luta da adversidade e da oposição que queria destruir o presidente Lula”.

 

O ato que homologou a chapa comandada pelo PT no estado ocorreu sob clima de festa da militância, influenciado pelas recentes pesquisas que colocaram Dilma na liderança da corrida presidencial no país. Na largada que oficializou os nomes de Wagner ao governo, Otto Alencar (PP) na vice, Lídice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT) ao Senado, o ambiente era de otimismo, diante da possibilidade de vitória em primeiro turno. Juntos, o PT e outros seis partidos também homologaram as candidaturas a deputado estadual e federal.

Considerada uma das maiores estrelas do evento, a candidata à Presidência, ao citar o governador, lembrou ainda da vitória de 2006, “que com a força do povo derrotou uma oligarquia”. “Por isso, meu amigo, é importante estar aqui neste dia na luta de reafirmação de uma parceria”, acrescentou.  Ela citou ainda a alegria de estar na Bahia, “estado especial no Brasil porque aqui tem início e o fim da nossa nacionalidade, onde começou a luta pela independência e onde tem um povo altivo”. 

Apesar da atmosfera de empolgação, Dilma disse em entrevista coletiva, antes de iniciar a convenção, que prefere não datar o “dia da vitória” e que é preciso esperar até a eleição. “Não é prudente subir no salto alto, nem sentar antes na cadeira. O negócio é disputar primeiro a eleição”, ponderou. A petista fez questão de destacar que esteve em solo baiano antes do resultado das últimas pesquisas que a colocaram na frente de seu principal adversário, José Serra (PSDB). “A Bahia dá sorte e protege”, disse, mostrando uma pulseira com o símbolo do olho grego, presente da primeira-dama Fátima Mendonça.

Palanque duplo não intimida

Ao ser questionada sobre o palanque duplo na Bahia, liderado por Wagner e pelo candidato do PMDB ao governo, Geddel Vieira Lima, a ex-ministra da Casa Civil mais uma vez tentou transmitir tranquilidade. “Aqui na Bahia gostaria de ter uma única chapa, mas, como não é possível, espero ter o apoio de ambos”. Ainda na entrevista, ao ser questionada sobre a própria escolha, ela, ao contrário do que sinalizou em pronunciamento, desconversou: “Como eu não voto aqui, não se pode perguntar em quem eu votaria”, afirmou.

A candidata do presidente Lula defendeu a permanência da união entre os partidos no plano nacional. “É prudente governar com coalizão. Isso não significa perder a governança e o presidente Lula demonstrou muito bem isso promovendo a transformação no país junto a outros partidos.

Um partido apenas não representa toda a diversidade que existe no país”.  Ela também ratificou a necessidade de se manter o programa Bolsa Família, enquanto houver pobreza no país. “Não se trata de um programa eleitoral, mas tem objetivo de diminuir a desigualdade social”, disse, lembrando que 24 milhões saíram da linha da pobreza no Brasil, nos últimos anos. Segundo a presidenciável, sua intenção é a de ampliar os programas sociais, inclusive com a exploração da agricultura familiar. “Continuar não é repetir, mas avançar mais”.

Sobre o futuro, Dilma ressaltou também a importância das reformas política e tributária. “Reforma política significa financiamento público de campanha, garantia de fidelidade partidária e melhoria dos partidos políticos. Falo isso porque acredito na instituição partido”, afirmou. Apesar do esforço, o discurso da candidata não refletiu em euforia no público que distribuiu aplausos em poucos momentos. Em um dos raros momentos de descontração, ela associou o sugestivo número de empregos 13.013.131 milhões, que seria “interessante” por lembrar o número do PT e de sua candidatura.

Na entrevista, Dilma respondeu à polêmica sobre as críticas de feministas e do candidato José Serra, de que ela estaria sendo comandada por Lula. “Já fui acusada de tudo. Quando era ministra, era chamada de forte. Agora dizem que sou frágil e comandada por um homem. A mulher está sempre sendo vista como dura demais ou frágil demais. Sou uma mulher com capacidade de decidir, bem igualzinha a qualquer mulher”, disse. Ela ainda provocou ao dizer que, quando era pequena, queria ser bailarina, alfinetando o candidato tucano, que em entrevista a uma revista de circulação nacional declarou que sempre quis ser presidente.

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