Fernanda Chagas e Lílian Machado/Tribuna da Bahia

 A largada do tão esperado palanque duplo no estado em prol da candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff à Presidência da República foi dada ontem, durante convenção do PMDB, onde o nome do deputado Geddel Vieira Lima foi confirmado para a disputa ao Palácio de Ondina. É certo que quem apostou em embaraço errou no palpite.

Surpreendendo, a petista lidou de forma bastante tranquila com a situação. Dilma manifestou apoio a seu antigo colega de governo, com quem teve estreita convivência, ambos como gestores de obras do PAC, sem melindrar o governador Jaques Wagner (PT), também ex-colega de ministério e amigo pessoal do presidente Lula. Aliado a isso, Geddel deu demonstrações à candidata petista que possui musculatura suficiente para bater de frente com o ex-governador Paulo Souto (candidato do DEM) e encarar Wagner num eventual segundo turno.

 

Dilma, que chegou ao Parque Aquático Wet’n Wild por volta das 11h30, acompanhada de Geddel e de seu vice, o também peemedebista Michel Temer, afirmou que não tem constrangimento de subir no palanque de Geddel, adversário e concorrente no pleito estadual de Wagner. “Os dois palanques estão no nosso campo político. O governador Jaques Wagner é militante do meu partido. O Geddel foi ministro do governo Lula. Não estamos em palanques opostos.

Fico feliz de ter, na Bahia, dois palanques. Subirei nos dois”, garantiu.
Em longo discurso, a presidenciável, por sua vez, não deixou de destacar a importância do ex-ministro, quando foram colegas no cenário nacional. Para ela, Geddel foi um dos melhores ministros do governo Lula. “Tanto que o presidente tem um carinho especial por ele. Na gestão de Lula, o destaque foi a inclusão da região Nordeste nas ações do governo federal. E o Geddel, enquanto ministro e nordestino, foi peça fundamental para que essa inclusão ocorresse. Ele é um político que tira obras do papel”, exaltou.

Por tabela, Dilma declarou ainda que “Geddel, mais do que ninguém, sabe que nós jamais tratamos de forma diferente, nem perguntamos para passar dinheiro para obra de prefeitura, ou de estado nenhum. Por isso, é esse o compromisso que eu tenho com todos aqueles que seguem o princípio que o governo Lula e que também terei”, prometeu. Para finalizar, a ex-ministra garantiu: “Geddel, você pode estar certo de que não haverá discriminação, seja quem seja eleito”, ponderou.

Quando o assunto foi experiência eleitoral, a pré-candidata admitiu que não possui, mas, de pronto, respondeu que sabe “governar” bem, destacando seus cargos públicos no Rio Grande do Sul e no governo Lula. “Eu tenho ótima experiência administrativa. Agora, há uma diferença entre experiência eleitoral e administrativa. Até lamento não ter experiência eleitoral… Porque esses contatos, em que as pessoas te fazem pedidos, sugestões, é bom… Mas governar eu sei”.

Candidato evita constrangimentos

Com a diplomacia de um “bom anfitrião”, que não queria constranger a convidada Dilma, o peemedebista Geddel Vieira Lima amenizou o discurso. No entanto, alfinetou Wagner, que é carioca, ao ressaltar que tem “sangue” e origem baianos. Lembrando o seu próprio jingle, tocado repetidamente na convenção, o candidato ao governo pelo PMDB destacou a sua natural baianidade e emendou com críticas indiretas ao setor de segurança pública do atual governo.

Geddel usou a referência de sua origem para sinalizar a existência de pontos frágeis no governo Wagner. “A primeira lição que meu pai e minha mãe deixaram para mim foi que o suposto problema, se não tratado com coragem e transparência, pode virar um grave problema”.

Sobre o constrangimento provocado pelo fato de ter dois palanques a favor da presidenciável petista, ele pediu que Dilma ficasse “tranquila”.  “Venha à Bahia quantas vezes quiser.

Não vou me apegar à pequenez de alguns comentários. Na sua última visita, me debrucei sobre os jornais do dia seguinte e li manchetes que diziam: ‘Dilma enfrenta saia justa’. Pois lhe digo que se sinta em casa e venha quando quiser à Bahia. Eu apenas quero a garantia de que, se governador, serei ouvido, independentemente do meu partido”, disse. Num claro recado ao rival petista, o ex-ministro afirmou que em sua caminhada ao Palácio de Ondina não esperará por carinho e afagos.

“Não é isso o que eu quero. Mas a certeza de que eu levarei os reclames da Bahia e serei atendido”.
O presidente da Câmara e candidato a vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), destacou o leque de forças em torno de Geddel e sua atuação no Ministério da Integração Nacional. “Estou vendo que 12 partidos estão com você, mas falta dizer que o povo da Bahia também está ao seu lado”, disse, ao transmitir confiança ao correligionário peemedebista.

Majoritária agora é oficial

O senador César Borges (PR), candidato à reeleição na chapa peemedebista, no clima de Copa do Mundo, classificou a chapa peemedebista como uma perfeita equipe de futebol. “O time está armado. Eu e Edvaldo Brito, candidatos ao Senado, somos o meio-de-campo, e Geddel é o centroavante”. Em total descontração, Borges não perdeu oportunidade de brincar com Dilma.

“Me permita revelar, mas tive a oportunidade de viajar com a senhora e Geddel e vi a forma que o tratava, o chamando de Geddelzinho querido”, disse o senador, complementando que a Bahia deixou de avançar, “pois não teve um governador com a garra de Geddel”. Por fim, ele assegurou que trabalhará para eleger Dilma no primeiro turno.

Já o candidato do PTB, Edvaldo Brito, cujo partido nacionalmente apoia o presidenciável tucano José Serra, esqueceu o compromisso que seu partido, dirigido por Roberto Jefferson, assumiu com o PSDB, e afirmou que a convenção peemedebista era também uma festa das mulheres.

Brito dedicou boa parte do seu discurso a exaltar a figura feminina representada no evento por Dilma. “Esse candidato aqui, que tem a cara do povo da Bahia, vai lhe defender no Senado da República, independentemente do que andam dizendo por aí”, afirmou Brito a Dilma. O atual vice-governador e candidato ao Senado, Edmundo Pereira (PMDB), reiterou que aceitou o desafio de participar da chapa de Geddel porque acredita no projeto político do ex-ministro. Segundo ele, o líder peemedebista é um homem de palavra, que sempre honra seus compromissos.

Lúcio compara evento com o do DEM-PSDB

Bem no seu estilo irreverente, o presidente estadual da sigla, Lúcio Vieira Lima, ironizou a presença de pessoas na convenção do presidenciável tucano José Serra, realizada em Salvador, no último dia 12. “Eu achei que ia me surpreender, mas tive todas as expectativas superadas.

Temos aqui uma festa muito maior do que a própria convenção que oficializou uma candidatura à Presidência da República há poucos dias”, disse, referindo-se à convenção tucana. Na sequência, o líder do PMDB na Câmara dos deputados, Henrique Eduardo Alves, levou o ex-ministro às lágrimas, ao relembrar que a “política de Geddel vem do sangue. De seu pai que o soube educar.” E ainda assinalou: “Dilma não está aqui por esse ou por aquele candidato. Ela está com o melhor para a Bahia”.

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