Evandro Matos/ Tribuna da Bahia

 O governador Jaques Wagner fez um forte discurso ontem, no início da tarde, durante o encerramento do Congresso Estadual do PT, que aprovou por unanimidade a sua indicação para disputar a reeleição ao Palácio de Ondina. Centrado na ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do partido à Presidência da República, e com recados à militância, Wagner deu o tom de como será a campanha e o mote do seu discurso.

 Numa forma de deixar a ex-ministra à vontade, o governador dedicou o encontro a ela e fez elogios sobre o tempo em que trabalharam juntos no Planalto, destacando a capacidade técnica da presidenciável. “O presidente Lula tem muita vontade para resolver os problemas desse país. Mas era preciso que a vontade se materializasse em programas e projetos”, disse Wagner, referindo-se à escolha do nome de Dilma pelo presidente. “A Dilma é candidata porque cada tarefa entregue a ela até hoje foi devolvida sempre 100% concluída”, elogiou.

 Wagner também falou do seu início de luta junto ao PT e elogiou Lula, sobretudo, na condução da última crise econômica. “Nós começamos como uns loucos há 30 anos e hoje somos um partido que comanda o Brasil”, lembrou. O petista destacou a não privatização da Petrobras, Caixa Econômica e Embasa como exemplos para ajudar o País a vencer a crise. “A gente tem que ir em cada canto de Salvador e nas cidades do interior defender o nosso projeto, que não tem nada a ver com o deles  do PSDB ou do DEM”, ressaltou, dirigindo-se à militância dos partidos aliados.

 

 O governador também desafiou a oposição a discutir sobre segurança pública, considerado como o calcanhar de Aquiles do seu governo. “Eu não tenho medo desse debate. Não é à toa que a Bahia era campeã em vários indicadores sociais”, colocou, negativamente, referindo-se ao período governado pela oposição. “Agora, o crack é uma peste social. Se nós vivemos uma crise de segurança, é porque o mundo vive uma crise de valores”, acrescentou, admitindo a gravidade do tema.
“Não quero plagiar o presidente Lula, mas nunca se geriu o Estado como está sendo gerido agora”, frisou.O governador também agradeceu aos presidentes dos partidos aliados que estavam presentes, citando os nomes de Jonas Paulo (PT), Alexandre Brust (PDT), Daniel Almeida (PCdoB), Lídice da Mata (PSB) e Mario Negromonte (PP). Para a militância, Wagner mandou recados citando uma frase de Che Guevara para se fazer entender.

 “Ao que nos une e não ao que nos separa”, filosofou. “Temos que ter capacidade de incorporar novas forças”, disse, para logo em seguida se dirigir ao ex-conselheiro Otto Alencar: “Queria dizer que você, Otto, que foi uma escolha pessoal, eu não tenho dúvida do seu papel na minha chapa”. Num afago a Lídice, Wagner disse que ela “vai ser a primeira senadora da Bahia no cenário nacional”.

Buscando estimular os aliados, o governador encerrou o discurso prometendo ganhar a eleição, dirigindo-se à ex-ministra Dilma Rousseff e à militância. “Vamos aquecer as baterias para fazer uma grande campanha. A gente vai ganhar esta eleição, ou no primeiro ou no segundo turnos. Vamos eleger os dois senadores e fazer uma forte bancada na Assembleia Legislativa e na Câmara”, concluiu. 

Meta é criar novo Ministério

Antes de entrar no local onde acontecia o congresso, a pré-candidata à Presidência da República pelo PT, Dilma Rousseff, e o governador Jaques Wagner falaram à imprensa. Num contraponto ao seu rival na disputa presidencial, o tucano José Serra, que prometeu criar dois ministérios, a petista respondeu que não pretende ampliar nem reduzir a atual estrutura do governo, mas admitiu que estuda a possibilidade de criar o ministério do Empreendedorismo.

“O objetivo é disseminar micro e pequenas empresas pelo Brasil e incentivar o empreendedorismo e dar sustentação creditícia, ou seja, linhas de crédito especial e tributária”, disse a petista. No encerramento do congresso, Dilma procurou destacar os feitos do governo federal, numa estratégia clara de colar a sua imagem nos projetos bem-sucedidos do presidente Lula.

Assim como Wagner, Dilma também ressaltou o papel da militância, agradeceu ao governador e à primeira-dama Fátima Mendonça pelo convite para passar o carnaval em Salvador e ter conhecido o Ilê a Aiyê. A presidenciável aproveitou para retribuir os elogios feitos por Wagner, destacando a importância do baiano quando esteve no governo federal. Numa resposta às criticas, Dilma disse que: “Apostaram que o Brasil não seria um país que estava em desenvolvimento. Erraram. Nós rompemos com o modelo de estagnação e do desemprego que estava sendo implantado”.

Pinheiro mantém preferência

Os petistas bem que tentaram, mas não conseguiram anunciar ontem o nome do outro integrante do PT que vai compor a chapa majoritária a ser encabeçada pelo governador Jaques Wagner. Contudo, uma influente fonte do partido garantiu no final do encontro que “já está tudo definido” para o nome do deputado federal Walter Pinheiro ser sacramentado. “Não fizemos isso em respeito (ao outro postulante), mas não tem como (não ser Pinheiro)”, garantiu a fonte.

Apesar disso, durante o seu discurso, o governador Jaques Wagner fez questão de mencionar os nomes do deputado federal Walter Pinheiro e do ex-ministro Waldir Pires como os dois únicos nomes ainda colocados na disputa para o Senado, omitindo o do deputado federal Nelson Pelegrino, como fizera na coletiva, minutos antes. Assim que mencionou os nomes dos dois petistas, a militância gritou fortemente o nome de Waldir. “Nós estamos com um bom problema. Apostei num projeto que não deu certo, mas Deus escreve certo por linhas tortas”, disse, referindo-se à tentativa frustrada de trazer o senador César Borges (PR) para compor a sua chapa. “Eu tenho uma posição, mas respeitarei a posição da militância e a decisão do partido”, ponderou.

O deputado Walter Pinheiro disse que não via como um problema o fato de o partido não ter anunciado o nome que comporia a outra vaga ao lado da deputada federal Lídice da Mata (PSB). “Não vejo problema. O partido vai definir isso tranquilamente. Estamos preparados para qualquer circunstância”, disse Pinheiro, sem esboçar que haja preferência pelo seu nome. Pelas palavras, o petista admitiu que o partido corria o risco de não sair unido, caso precipitasse os fatos. “Acho que foi a melhor decisão. O partido deve vir inteiro, mas não tem problema”, comentou.

Pinheiro negou que a disputa interna sobre o nome do PT que vai disputar a eleição de Salvador venha atrapalhando a definição, uma vez que é especulado que Pelegrino teria se afastado da disputa ao Senado mediante a garantia de que Pinheiro não pleitearia prefeitura em 2012. “Eu não estou discutindo 2012. Quem decide o que vai acontecer em 2012 não sou eu. O que vai acontecer, a competência é de quem vai decidir. Nós temos duas etapas a cumprir: primeiro, precisamos decidir o nome; segundo, disputar a eleição e ganhar”, concluiu. (EM)

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