Murilo Rocha

Brasília. Os temas educação e emprego têm dominado pelo menos até agora a pré-campanha dos dois principais candidatos à Presidência – Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Mesmo assim, Dilma e Serra ainda não apresentaram programas detalhados para os setores e, por enquanto, adotam apenas discursos genéricos e promessas de melhorias sobre projetos em andamento.

No lançamento de seu site, em meados de abril, Dilma enfatizou o investimento em educação como prioridade, mas na página de propostas da candidata na internet o tema é abordado de forma ampla, repetindo projetos da atual administração federal. São citadas medidas como treinamento de professores, bolsa de estudo para evitar a evasão escolar e salas de aula informatizadas.

O discurso de Dilma também não fala de cifras nem de números de beneficiados. “A educação é fundamental para romper o ciclo de desigualdade que existe no Brasil. Demos os primeiros passos para tirá-la da inércia”, disse a petista, se referindo mais uma vez ao governo Lula. Ainda relacionado ao tema, Dilma tem mencionado de forma específica a relação de jovens com o crack, porém, sem aprofundar em políticas de combate. Ela prega uma mobilização nacional para “evitar a destruição da juventude”.

Tucanos. Na campanha do PSDB a estratégia tem sido a mesma. Além da educação, Serra tem investido em seus discursos, principalmente, na criação de novos empregos e programas de qualificação da mão de obra para jovens. “Vamos turbinar o ensino técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é castigada pela falta de oportunidades de subir na vida”, enfatiza.

Em relação à educação, Serra, assim como Dilma, destaca na pré-campanha a necessidade de melhorar o aprendizado. No entanto, o tucano tem aproveitado o debate para fazer críticas à administração do PT. Segundo Serra, o tema é “um propósito bem declarado pelo governo (Lula), mas praticamente não saiu do papel”. “Serão necessários ainda mais recursos”, defende o pré-candidato do PSDB.

Projetos
Na internet. Apesar dos embates públicos e das trocas de farpas, Serra e Dilma têm usado o Twitter para tratar de propostas. Nos últimos dias a petista comentou sobre a criação de emprego; já o tucano falou sobre taxa de juros.

Estatísticas. Conforme levantamento feito pelo jornalista José Roberto de Toledo em cima dos discursos de Serra e Dilma no lançamento das candidaturas, os dois se referiram de alguma forma aos temas trabalho, emprego e renda mais de 25 vezes. “Educação, escola e professores”, cada um citou entre 15 e 20 vezes. Questões relacionadas ao meio ambiente e à segurança tiveram espaço reduzido, com menos de cinco citações. O pronunciamento de Serra teve 3.962 palavras e, o de Dilma Rousseff, 4.001.


 

Propostas

PAC, Bolsa Família e criação de pastas estão em pauta
Brasília. A manutenção das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e dos benefícios do Bolsa Família, maior vitrine do governo do presidente Lula na região Nordeste, estão na lista de propostas comuns dos presidenciáveis de PT e PSDB. No entanto, a estratégia dos tucanos é desvincular a imagem das duas ações à administração do PT – da qual a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff fez parte.

Dentro dessa tática, José Serra se referiu ao PAC como uma “lista de obras” em visita a Belo Horizonte há duas semanas e, mesmo defendendo os investimentos previstos pelo programa em projetos como a ampliação do metrô da capital mineira e do aeroporto internacional de Confins, criticou o andamento lento das obras. “Desde quando Eduardo Azeredo (PSDB) ainda era o governador de Minas (1994 a 1998), o metrô continua do mesmo jeito”, criticou. Sobre o Bolsa Família, Serra prometeu ampliar o número de beneficiados.

Na mais recente proposta apresentada, Serra disse que pretende criar dois novos ministérios, mas extinguirá pelo menos outros dois. Os que deverão deixar de existir, segundo ele, são o de Assuntos Estratégicos e o Portos, para dar lugar ao Ministério do Deficiente e o da Segurança Pública. Governistas criticaram as propostas feitas pelo tucano.

Farpas. A pré-candidata do PT, batizada por Lula como “mãe do PAC”, irá apresentar como uma de suas principais propostas a execução da segunda fase do programa, já lançada, mas prevista para ser executada até 2014. A petista também promete ampliar o Bolsa Família. Na última semana, ao tomar conhecimento das críticas de Serra ao PAC, Dilma Rousseff comparou o tucano a uma “biruta de aeroporto”. Cada dia está de um jeito”, disse ela. Serra não retrucou à provocação. (MR)


 

Para Figueira Leal, similaridade de ideias é normal neste momento

FOTO: Site/Josué Nogueira
Para Figueira Leal, similaridade de ideias é normal neste momento

Análise

Embate se dará a partir de julho

Brasília. O cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, considera normal a postura similar, neste momento, dos dois principais pré-candidatos. Na opinião do especialista, a partir de julho, quando as candidaturas estarão oficialmente registradas, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) serão obrigados a se expor mais – durante a campanha.

“Essa postura Serrinha paz e amor não será sustentável o tempo inteiro”, diz o professor, para quem a situação de Serra, hoje líder nas pesquisas de intenção de voto, é mais desconfortável por ter que enfrentar a candidata de um governo bem sucedido. O tucano, na visão de Figueira, terá de apresentar soluções para problemas do país, sem falar em ruptura, mas também não poderá descartar a necessidade de mudanças. “Não será bom ele manter um discurso muito agressivo. O PSDB deve falar do inchaço da máquina pública e também atacar os escândalos do governo do PT”, avalia Leal.

Em relação à ex-ministra, o cientista política acredita no aumento da associação da imagem de Dilma com Lula. “A candidatura da Dilma vai enfatizar na questão econômica, com a inclusão social de classes mais pobres da sociedade, e no sucesso econômico do Brasil nos últimos anos em comparação com outros países”, aposta. Para o professor, atualmente, apenas uma minoria do eleitorado percebe o processo eleitoral de forma clara. “O processo foi muito antecipado, mas a campanha ainda estar por vir”, argumentou. (MR) O Tempo

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