Lucas Frasão Do Globo Amazônia, em São Paulo

 Foto: Tabajara Moreno/Inpa/Divulgação

Foto: Tabajara Moreno/Inpa/Divulgação

Pesquisadores coletam mosquitos em área próxima ao gasoduto Urucu-Coari-Manaus (Foto: Tabajara Moreno /Inpa /Divulgação)

 

Um verão amazônico fora de época, em 2007, foi suficiente para cientistas verificarem que o aquecimento global pode multiplicar o número de casos de malária na Amazônia.

 Naquele ano, o verão deveria começar só em junho ou julho, como usual, mas ocorreu já em janeiro. E o número de mosquitos transmissores da doença saltou de cerca de 20 para mais de 1.000 em um ponto específico da floresta.

 A análise de incidência do Anopheles darlingi, vetor para a malária, foi feita em um trecho do corredor florestal que recebeu os 661 quilômetros de extensão do gasoduto Urucu-Coari-Manaus, inaugurado no fim do ano passado. De 2006 a 2009, enquanto a obra avançava, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) coletaram mosquitos com o objetivo de monitorar a incidência da doença entre os operários.

 “Não registramos nenhum caso nas áreas de trabalho. Mas a construção passou por regiões com alta incidência de malária”, diz o pesquisador Wanderli Pedro Tadei, vice-diretor do instituto.

 “Quando houve o verão fora de época, em 2007, os rios já estavam mais cheios do que o normal. A alteração do ciclo hidrológico na Amazônia altera a reprodução do mosquito da malária, fazendo com que a população fique mais exposta à doença.”
Ao terminar os cálculos para o período em que o clima estava incomum, os cientistas puderam constatar que locais com 15 a 20 mosquitos da malária, em média, registravam mais de 1.000 em fevereiro e 1.600 em março de 2007. “Foi a primeira vez em que pudemos medir isso. A malária já mostrou sua cara caso as mudancas climáticas interfiram no ciclo hidrológico da Amazônia”, diz Tadei.

Foto: Inpa/Divulgação

Com mais luz do sol, Anopheles darling tem ciclo de reprodução acelerado (Foto: Inpa/Divulgação)

 

A Amazônia possui uma rotina regular na variação do nível de água de seus rios.  Rios mais altos significam o surgimento de criadouros para o mosquito se reproduzir, já que a água invade grandes áreas nas margens, formando igapós.

Com o sol fora de época cresce a reprodução de algas nos rios por meio da fotossíntese, que servem de alimento para as larvas do Anopheles. Por isso, caso alguma alteração climática influencie esse equilíbrio, a reprodução do mosquito é acelerada.

 O clima alterado também pode afetar outras espécies, como no caso do mosquito da dengue e do carapanã, como é chamado o mosquito comum na Amazônia.

 O impacto de uma mudança no clima ainda pode influenciar a incidência de casos de doença de Chagas, febre amarela e outros males provenientes de vírus e vermes. Segundo Tadei, conhecer melhor essa interação do clima com a biodiversidade amazônica ajuda a prevenir possível epidemias, principalmente entre populações ribeirinhas, mais próximas dos focos do mosquito da malária. 

 Mudanças climáticas

 De acordo com Tadei, ainda não é possível falar de mudanças climáticas na Amazônia de forma geral. “Existem mudanças extremadas, alterações de clima”, diz ele. São exemplos pontuais que permitem prever o que ocorreria com a floresta se o problema se agravar no futuro.

 O pesquisador lembra fenômenos climáticos na Amazônia como a enchente de 2009, a maior que se tem conhecimento até agora. Além da grande seca de 2005 e da alteração no ciclo hidrológico, em 2007. “Isso pode pode ter a ver com o El Niño, quando o Oceano Pacífico aquece”, diz Tadei.

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