Anne Warth e André Mascarenhas

O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, evitou nesta segunda-feira, 26, entrar em confronto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e enfatizou que vai disputar o cargo com a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, e com a senadora Marina Silva (PV).

JF Diório/AE

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Serra participa do Brasil Urgente, da Band

Em entrevista ao programa Brasil Urgente, apresentado por José Luiz Datena, Serra afirmou que nem Lula nem Fernando Henrique Cardoso são candidatos e destacou que o debate entre as propostas dos presidenciáveis será feito com base no presente e no futuro, e não no passado. “A disputa nessa eleição não é com o Lula, é com a Dilma”, disse ele, destacando que tem uma relação muito boa com o presidente, dono dos maiores níveis de popularidade no País. “Lula não é candidato, nem FHC”, declarou.

Esta é a segunda passagem de Serra pelo programa popular em menos de dois meses. Na última quarta-feira, 21, foi Dilma quem participou do programa apresentado por Datena. No dia, a média de audiência do programa foi de 5 pontos no Ibope. Os dois postulantes mais bem colocados na corrida presidencial têm como estratégia de início de campanha participar de programas populares de TV e de rádio. Oitenta e seis por cento do público do Brasil Urgente é formado pelas classes ABC, sendo 49% pela classe C. Sessenta por cento da audiência é feminina, e 68% formada pelo público com mais de 35 anos.

A estratégia de não confrontar Lula, entretanto, não se aplicou ao postulante do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, que no lançamento de sua pré-candidatura, no último sábado, criticou a gestão Serra à frente do Estado. “Responder ao Mercadante é um atraso de vida. Ele vai ficar falando, falando, falando e falando”, disse Serra.

Embora tenha negado que esteja utilizando o discurso de que Dilma é inexperiente politicamente, Serra disse que “espera” ter mais experiência do que a petista em debates televisivos e radiofônicos. “Eu não bati nessa tecla. Não sou eu que vou julgar se tenho mais experiência que ela”, afirmou. “Eu não estou diminuindo ninguém, cada um tem as suas virtudes, as suas experiências”, amenizou.

Questionado, Serra também não quis se alongar sobre as últimas declarações dadas pelo presidenciável do PSB, o deputado Ciro Gomes (CE), que considerou o tucano mais preparado que Dilma para ser presidente do País. “Sapo de fora não chia”, sintetizou. “Como eu estou fora da aliança entre PT e PSB, eu não posso falar”, acrescentou. O tucano reconheceu, contudo, que prefere Ciro o elogiando do que lhe tecendo críticas. “Claro que prefiro que o Ciro fale bem de mim, mas não opino.”

Aposentadorias

Focado na estratégia de não bater num bem avaliado Lula, Serra procurou não polemizar na questão do aumento das aposentadorias, dizendo que apoia a posição do Planalto. “Uma coisa é certa, o aposentado tem que ir melhorando aos poucos. Nesse sentido sou a favor, mas tem que ter dinheiro. Ficarei com a posição que o governo assumir porque acho que o governo vai trabalhar com responsabilidade. Eu apoiarei a posição do governo, que tem os números na mão”, afirmou. Para o governo, o reajuste deve ser de 6,14%, mas no Congresso há discussões para que o aumento chegue a 7%.

Ele rebateu a opinião de Datena, que considerou sua posição “cômoda”. “Não é cômodo não, eu quero que o governo atue com responsabilidade”, disse. “Mantega é um homem responsável. Confio em Lula, que decidirá pelo melhor”, afirmou, em referência ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Serra procurou dizer que pretende aumentar o alcance do programa Bolsa Família, uma das maiores vitrines do governo Lula. “Eu não sou trouxa, eu sei governar”, afirmou. Sua intenção, disse, seria ligar o Bolsa Família a políticas de incentivo ao emprego, formação profissional e saúde.

Violência

Aproveitando a principal temática do programa, a policial, Serra utilizou um discurso duro contra a violência e prometeu a criação de um Ministério da Segurança Pública para combater o crime organizado. O presidenciável tucano usou o jargão policial para dizer que “bandido tem de ser enfrentado com dureza” e “engaiolado”.

Serra citou casos de notoriedade pública, como o de Champinha, que matou Liana Friedenbach e Felipe Caffe, em 2003. “Nós impedimos que o Champinha fosse solto”, disse, lembrando que o adolescente seria solto depois de cumprir pena na Fundação Casa (antiga Febem) e completar maioridade, mas acabou sendo internado por tempo indeterminado na clínica psiquiátrica do Hospital de Tratamento e Custódia, por interferência do Estado.

Ao falar sobre o pedreiro Admar de Jesus, de Luziânia, que voltou a cometer crimes depois de ser solto, ele criticou o fim da lei que exigia exame criminológico. “Essa lei foi revogada em 2003. O presidente não era Fernando Henrique Cardoso. Foi uma decisão do Congresso Nacional e precisou de apoio do governo.”

De acordo com Serra, é falso o dilema entre construir escolas e prisões. “É um dilema falso, tem de fazer as duas”, afirmou. “O governo federal tem de entrar como coordenador na questão da segurança. Tem de entrar a todo vapor nisso, a situação no Brasil é gravíssima.”

O tucano defendeu a criação de um novo ministério, pois o Ministério da Justiça “não foi feito diretamente” para combater o crime. Para Serra, o Ministério da Segurança Pública cuidaria da

reorganização de “todo o sistema de segurança do País”.

 

Críticas à saúde

O presidenciável tucano aproveitou a entrevista para promover suas ações na área da Saúde, tanto como governador, quanto como ministro de FHC. Serra disse que o setor não avançou durante o governo Lula,reclamou do fim dos mutirões e disse que a população precisa receber remédios de forma gratuita.

“Na saúde você não pode ficar parado, a demanda está sempre crescendo. Acabaram os mutirões, diminuíram os investimentos, faltam consultas. Falta mais remédio de graça. Metade população brasileira não tem dinheiro para comprar remédio”, declarou. “A saúde é o típico setor em que o Brasil pode mais. Pode ir muito mais”, afirmou, usando o slogan que tem marcado sua pré-campanha.

Chega de saudade

Para encerrar, Datena provocou Serra ao dizer que o tucano afirmou, antes do início da gravação, que Dilma escolhera mal o tango El dia en que me queiras, de Gardel, para cantar no último bloco do programa. Ao vivo, Serra elogiou o gosto musical da adversária, mas disse que a canção era difícil. Constrangido, o tucano não teve outra escapatória a não ser cantar: Chega de saudades, de Vinicius, foi a música escolhida.

Com informações Patrícia Villalba e Alline Dauroiz, de o Estado de S.Paulo

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