A agência Associated Press afirmou nesta sexta-feira ter obtido uma carta de 1985, assinada pelo hoje papa Bento 16, na qual ele resiste a um pedido de afastamento do padre americano Stephen Kiesle, envolvido em um escândalo de pedofilia.
Segundo a AP, o Vaticano confirmou que a assinatura é de Bento 16, que na época era o cardeal Joseph Ratzinger. Mas o porta-voz Federico Lombardi disse que o Vaticano “não acredita ser necessário responder sobre todos os documentos tirados de contexto referentes à situações legais”.
A carta, escrita em latim, é parte de uma série de correspondências entre o Vaticano e a diocese de Oakland, que pediu a exoneração de Kiesle em 1981 – o que só ocorreu em 1987.
A AP afirmou que o padre Stephen Kiesle foi condenado à três anos de liberdade condicional em 1978, pelo abuso de dois meninos em São Francisco. Ratzinger assumiu a Congregação de Doutrina da Fé, que lida com casos de abuso sexual, em 1981.
Segundo a AP, na carta o então cardeal Ratzinger afirma que os argumentos pela exoneração de Kiesle tinham “grande significado, mas que esse tipo de ação precisaria ser revista com mais cuidado e mais tempo. Além disso, diz que qualquer decisão sobre o caso precisaria levar em conta o bem da Igreja Católica.
Ciro Benedittini, vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, minimizou a importância do documento. “O então cardeal Joseph Raztinger não encobriu o caso, mas, como se evidencia claramente na carta, fez presente a necessidade de se estudar o caso com maior atenção, pelo bem de todos os envolvidos”, disse.
Em 2004, Kiesle foi condenado a seis anos de prisão, após admitir ter abusado sexualmente de uma menina em 1995. Hoje ele tem 63 anos e está registrado na lista de infratores da Califórnia.
A nova acusação sobre o trabalho do Papa se soma aos recentes casos denunciados pela imprensa mundial. Em março, o “The New York Times” já havia questionado o papel de Bento 16 quando ele chefiava a Arquidiocese de Munique e Freising (1977-1982), na Alemanha.
Nas últimas semanas, o NYT também publicou que o então prefeito do dicastério teria decidido não punir o padre norte-americano Lawrence Murphy, acusado de ter molestado ao menos 200 crianças surdas. Ambas as acusações também foram refutadas pelo Vaticano.
Com AP, Ansa e BBC