A briga para obter uma vaga em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é realidade além do Maranhão, onde nas últimas semanas estourou uma crise de falta de leitos infantis. Censo de 2009 da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), que reúne médicos das UTIs, aponta que 51,9% dos Estados brasileiros têm uma quantidade de leitos aquém da necessidade, considerando os disponíveis nas redes pública e privada.

 

O Ministério da Saúde contesta a análise e utiliza critérios diferentes, mas também aponta má distribuição dos leitos e situação preocupante em três Estados: Maranhão, Acre e Roraima ? apesar de o Amazonas também estar em situação muito próxima da crítica (mais informações nesta página).

A falta de profissionais habilitados para trabalhar nas unidades é considerada a dificuldade mais grave das UTIs brasileiras. Mas a carência de recursos para Estados e municípios construírem ou contratarem leitos na iniciativa privada, além da ausência de verbas para sua manutenção e problemas de gestão, também explicam a situação. Isso além de desorganização da gestão das vagas. O resultado são brigas judiciais para a obtenção de vagas até onde a relação leitos por habitantes é a melhor do País, caso do Distrito Federal.

Segundo o defensor público Celestino Chupel, apesar de a situação ter melhorado, no DF o órgão ingressa em média com cinco pedidos judiciais diários para a obtenção de vagas em UTIs de hospitais privados para a população carente. “É rotina”, afirmou.

“Há cinco anos, a situação no País era pior. No Estado da Bahia, por exemplo, o número de leitos dobrou, mas os que existem ainda são aquém da necessidade”, resume o presidente da Amib, Ederlon Rezende.

Segundo o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, investimentos em qualificação de profissionais, expansão e melhoria dos leitos deverão mudar o quadro, pior onde há menos leitos do SUS. “A grande dificuldade é a distribuição dos intensivistas no País.”

Intervenção. Nas últimas semanas, uma crise de falta de vagas na segunda maior cidade maranhense, Imperatriz, voltou a chamar atenção para o problema, que ciclicamente ganha e perde atenção da opinião pública desde 2005. Segundo o Ministério Público do Estado, pelo menos 59 crianças morreram nos últimos 15 meses esperando leitos.

Na quinta-feira, uma equipe do Ministério da Saúde chegou ao município para auxiliar prefeitura e Estado a solucionar o problema, após pedido de intervenção do Ministério Público. A pasta aponta a carência de leitos para o SUS como explicação da crise, marcada por desentendimentos entre Estado e prefeitura.

Há cinco anos, por exemplo, a crise que ganhou destaque foi em Fortaleza, relacionada segundo o ministério a um problema de gestão das vagas. Também houve desentendimentos entre Estado e prefeitura e atuação do ministério. Depois, houve problemas em Boa Vista. O Norte e o Nordeste do País têm a pior situação de leitos por habitante (veja quadro).

O vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, Alex Mont”Alverne, destaca que muitos profissionais não veem o trabalho nas UTIs como objetivo, mas como passagem na carreira.

“No Hospital Estadual de Fortaleza estamos há três anos sem candidatos para a residência. Eles não querem ficar a vida nesse trabalho. É preciso discutir isso diante do envelhecimento da população, que deverá demandar cada vez mais leitos de UTI”, afirma MONT”ALVERNE.

Estadão

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