A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, encerrou seu discurso na cerimônia de inauguração da segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), nesta segunda-feira, 29, com a voz embargada. Ao se referir ao novo papel do Estado que, segundo ela, foi definido no governo Lula, e às perspectivas de crescimento do País com o PAC 2, Dilma, dirigindo-se ao presidente e disse que “este é o Brasil que o senhor, presidente Lula, recuperou e construiu para todos nós e que os brasileiros não deixarão mais escapar e que eu espero vai continuar crescendo com o PAC 2”.

A ministra voltou a criticar o governo anterior. Segundo ela, no Brasil existiram três modelos de Estado. O primeiro, na década de 50, era o estado produtor, que atuava diretamente na economia e às vezes era autoritário. O segundo “foi o estado mínimo do neoliberalismo que nos antecedeu”. O “estado do não”, enfatizou. “Não havia Planejamento estratégico, não havia crescimento de investimento público e não havia parceria com a iniciativa privada”. “Foi um estado omisso”, acrescentou.

O terceiro modelo do Estado brasileiro, segundo a ministra, foi implantado durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. “É o do Estado indutor, regulador, que cria condições para que os investimentos sejam feitos e cobra”. Segundo a ministra, esse modelo respeita a iniciativa privada, não abre mão do desenvolvimento, mas garante a estabilidade macroeconômica. A regra central, segundo a ministra é que o desenvolvimento ocorra com distribuição de renda. “Três expressões renasceram no governo Lula: Planejamento, investimento e desenvolvimento com inclusão social. Deixamos para trás décadas de improvisação”.

A exposição de Dilma sobre o PAC, a última como ministra da Casa Civil, teve um caráter mais político do que técnico. Diferentemente das apresentações anteriores Dilma não se prendeu aos números e às tabelas exibidas para a plateia. Em vez disso preferiu uma abordagem mais qualitativa sobre o impacto das obras e o motivo de cada investimento. Ao falar sobre novos investimentos de geração de energia elétrica, por exemplo, Dilma não listou quais usinas serão construídas e quantos megawatts serão produzidos. Em vez disso, preferiu garantir mais uma vez que não faltará energia ao País e que a expansão da geração se dará por meio de fontes menos poluentes, como usinas hidrelétricas e de biomassas.

    A chegada da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para o lançamento deu o tom político-eleitoral do evento. Pré-candidata do PT à Presidência da República, o nome de Dilma só foi anunciado depois que ministros, governadores e prefeitos já estavam presentes e perfilados no palco ou próximo dele. A ministra foi a única a ser aplaudida ao ter o seu nome anunciado por duas vezes. Na segunda vez, foi ovacionada de pé pela maioria dos participantes do evento.

Em seu discurso, Dilma descreveu o PAC como uma forma de garantir bem-estar para a população. “Não é uma sigla, uma cifra ou uma lista de obras. Não é um canteiro de obras. É uma realização humana”, disse, para arrematar em seguida: “é uma parceria do Estado com a sociedade para gerar felicidade para as pessoas”

Seguindo as orientações do PT para aproximar o discurso ao cotidiano dos cidadãos comuns, Dilma, que normalmente faz apresentações técnicas dos balanços do PAC, usou uma abordagem mais simples, citando números, mas frisando muitos aspectos emotivos e qualitativos sobre o efeito da PAC na vida das pessoas.

A plateia de convidados, sentada bem em frente ao palco, aplaudiu a ministra até mesmo quando ela fez confusão com os números que apresentava. Em um dado momento, por exemplo, ela teve dificuldade para ler a quantidade de quadras poliesportivas cobertas que serão construídas em escolas. Quando ela acertou o número (6.116), a plateia aplaudiu. Dilma fez até piada, perguntando se alguém poderia trazer os óculos para ela. Os óculos já estão com ela, mas ela o segura na mão enquanto discursa

A ministra também elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que “enxerga o País muito além do seu governo”, e disse que PAC será “herança bendita” para o próximo presidente. A ministra da Casa Civil afirmou que o “PAC 2 incorpora, complementa e faz avançar o PAC 1”.

“Vamos celebrar os resultados do PAC lançando o PAC 2. É a continuidade do programa que mudou a forma de governar o Brasil, colocando o investimento na ordem do dia”, afirmou. Dilma disse ainda que o programa mobiliza todos os ministérios e “firmou um sólida parceria entre os setores público e privado permitindo um trabalho harmonioso entre as três esferas da federação”. “Nenhum outro governo estabeleceu relação mais produtiva com Estados e municípios nas ultimas décadas”, concluiu.

A ministra também centrou seu discurso na associação entre o programa de investimento em infraestrutura e o bem-estar das pessoas. “Esse dinheiro será transformado em qualidade de vida, em um futuro melhor para brasileiros e brasileiras”, disse. Segundo ela, o PAC amplia metas e revigora os compromissos assumidos pelo governo Lula com o desenvolvimento do País e com o bem estar do povo brasileiro, além de manter o caráter de urgência, previsto no PAC 1.

“As metas estão ainda mais sólidas com ações de médio e longo prazo. O PAC é a prova, também, da profunda função de estadista do presidente Lula, que se preocupa com o destino das novas gerações”, disse a ministra, acrescentando que o programa pode ser visto como uma “herança bendita” para o sucessor do presidente.

Tom político

Os políticos que falaram antes da ministra também contribuíram para o tom eleitoral do evento. Dilma foi o foco dos principais discursos da cerimônia. Antes de elogiar a ministra, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), afagou o presidente pela forma de condução do País e atuação na política externa. Segundo Wagner, o presidente “é uma das maiores lideranças mundiais da política”.

Para o governador baiano, Lula tem uma visão de longo prazo, de estadista, que defende a continuidade das ações, mas não de uma maneira mesquinha. “O presidente quer a continuidade, mas não tem a mesquinharia de achar que a continuidade é feita exclusivamente para os seus”, afirmou Wagner.

O governador também fez elogios diretos à ministra. Disse que ela tem conduzido a implantação do PAC com serenidade, fazendo com que o programa tenha um direcionamento adequado.

Programa suprapartidário

O prefieto do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), também elogiou Dilma durante seu discurso. O prefeito comemorou a “capacidade de diálogo e gerenciamento” da ministra, disse que ela agora vai “partir para novas missões”, referindo-se à candidatura à Presidência da República, e ressaltou que o sucesso da ministra no PAC 1 inaugurou uma nova forma de “continuidade” da política pública no Brasil. “Há continuidade de políticas públicas que têm transformado a vida das pessoas. A vida nas cidades melhorou, doa a quem doer. A vida no campo melhorou, doa a quem doer. Essas ações continuam porque melhoraram a vida”, afirmou.

Eduardo Paes foi bastante aplaudido quando afirmou que “o PAC não olha a cor partidária”. Disse também que governadores e prefeitos da oposição e da base aliada recebem verbas sem distinção. Conforme o prefeito do Rio de Janeiro, os bilhões direcionados à construção de creches, postos de atendimento à saúde, e infraestrutura esportiva nas escolas vão tratar de melhorar a qualidade de vida da população. “Não tenho dúvida de que o PAC é algo histórico”.

Paes afirmou ainda que o momento é de festa porque as duas versões do PAC tratam de “algo que não é usual no Brasil, que é olhar para o futuro com planos”. Segundo ele, a lógica do investimento urbano mudou nos últimos anos no Brasil, com o início da execução do PAC 1. Deu como exemplo a destinação de quase RS$ 2 bilhões para a urbanização de favelas. “São intervenções que mudam a vida das pessoas”, disse.

Protesto

Do lado de fora do Centro de Convenções Brasil 21, onde ocorre a cerimônia, cerca de 50 manifestantes se reuniram para protestar contra a indefinição no plano de carreiras dos funcionários do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Eles prometem fazer uma greve geral na área ambiental e prejudicar, assim, o andamento do PAC, com o atraso na liberação de licenças ambientais.

“Ah, ah, ah, o PAC vai parar”, gritam, em tom de ameaça.

Estadão

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