Afirmação foi feita durante seu depoimento; júri chega ao 4º dia.
Ele diz ter sido ‘humilhado’ em delegacia durante investigações.

Foto: Editoria de Arte/G1

Alexandre Nardoni, acusado de matar a própria filha, Isabella, em 2008, afirmou nesta quinta-feira (25) no Fórum de Santana, na Zona Norte de São Paulo, que o delegado responsável pelo caso propôs que ele assumisse a culpa pela morte da garota. Ele disse ainda que foi “humilhado” na delegacia durante as investigações da morte dela. Nardoni chorou três vezes e negou o crime.

De acordo com seu depoimento, o delegado Calixto Kalil Filho falou em “homicídio culposo” (sem intenção de matar) ao sugerir que ele assumisse o crime. Nardoni se disse “indignado”, porque, para ele, isso demonstrou que a “a polícia não queria descobrir” o que de fato ocorreu no edifício London, onde Isabella morreu.

Vestindo uma camisa verde listrada, calça jeans e tênis preto, Nardoni se mostrou seguro na descrição dos detalhes do dia em que Isabella morreu e negou novamente a autoria do crime. 

  • AspasA polícia não queria descobrir”

O réu começou a ser ouvido por volta das 10h45. Anna Carolina Jatobá foi retirada da sala do Tribunal do Júri durante o depoimento de seu marido. Depois dele, ela será questionada a respeito da morte da menina.

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  • Nardoni chorou três vezes enquanto era interrogado. “Foi o pior dia da minha vida. Eu perdi tudo de mais valioso. Perdi a noção do que estava acontecendo.” 

    Antes de relatar como foi o último dia de vida da filha, ele pediu ao juiz que preside o julgamento, Maurício Fossen, para olhar na direção dos jurados. Com o pedido concedido, ele se virou e, olhando para as sete pessoas que decidirão seu destino, lembrou que, na noite de 29 de março de 2008, Isabella estava muito feliz.

    Ao lembrar que a menina havia ensinado aos irmãos como nadar, chorou. Chorou também ao ver sentada no plenário sua mãe, Maria Aparecida Nardoni. Esta foi a primeira vez desde segunda-feira (22), data do início do julgamento, que a mulher foi ao fórum. 


    Alexandre chorou três vezes enquanto era interrogado


    A mãe de Alexandre se levantou e foi até a frente do público, olhou para o filho, chorando, com a mãe no peito, e disse: “meu filho!” Ele tirou os óculos e chorou também. Maria Aparecida voltou, então, para seu lugar, mas não conseguiu ficar e foi retirada do plenário amparada pelo marido, Antonio Nardoni. Os dois não voltaram mais para o plenário.

    A emoção de Nardoni durante o interrogatório sensibilizou os sete jurados. Ele afirmou que lutou para que Isabella nascesse. Segundo ele, a avó materna não queria que Ana Carolina Oliveira tivesse a criança. “Minha princesinha estava ali. E logo eu que lutei por ela desde o começo”, disse. Neste momento, três jurados abaixaram a cabeça e uma jurada se emocionou.

    Terceira pessoa

    • AspasO senhor não sabe tudo da minha vida? Sem os óculos meus olhos ficam irritados “

    Alexandre afirmou também que não se recorda mais de ter falado em depoimento sobre uma terceira pessoa presente em seu apartamento no dia em que Isabella foi morta.

    A defesa do casal chegou a afirmar que uma terceira pessoa tinha entrado no apartamento e jogado a menina pela janela. “Eu não vi ninguém de preto, não vi ninguém armado, não saí e tranquei a porta do apartamento, como divulgado pela imprensa”, disse o réu.

    Durante todo o interrogatório, Alexandre repetiu frases como “eu perdi o chão” e “ela era minha princesinha.”

    Enquanto isso, a tensão aumentou entre o promotor Francisco Cembranelli e o advogado de defesa, Roberto Podval. O juiz Maurício Fossen teve de intervir para interromper uma discussão entre eles.


    Comentário irônico do promotor provocou uma nova discussão com o advogado de defesa do casal


     

    A discussão ocorreu porque a cada manifestação de Cembranelli, Podval insistia em ouvir do promotor o número da folha do processo a que ele se referia. Em determinado momento, Cembranelli se irritou com a cobrança e iniciou-se uma discussão, interrompida com uma advertência do juiz à Promotoria e à defesa.
    Nardoni também se irritou com o promotor. Questionado, ele respondeu ao promotor que sempre usou óculos e provocou: “O senhor não sabe tudo da minha vida? Sem os óculos meus olhos ficam irritados”, disse.

    • AspasA sua cabeça tem meio metro, por acaso?”

    Após a resposta de Nardoni, o promotor afirmou que o choro do pai de Isabella “não tem lágrimas”. O juiz Maurício Fossen mandou que os jurados não considerassem o comentário do promotor.

    O promotor se baseou nos depoimentos de Ana Carolina Oliveira e Anna Carolina Jatobá para tentar mostrar que Alexandre está mentindo em sua versão dos fatos, e, por algumas vezes, o acusado não conseguiu esclarecer detalhes questionados pela Promotoria.

    Por fim, um comentário irônico do promotor provocou uma nova discussão com o advogado de defesa do casal, obrigando o juiz Maurício Fossem a intervir e até a repreendê-los.

    O promotor questionou Alexandre se ele havia tentado passar a cabeça pelo buraco na tela da janela da qual Isabella caiu na noite de 29 de março de 2008. O pai da menina disse que “não dava”. “A sua cabeça tem meio metro, por acaso?”, perguntou de forma irônica, então, o promotor.

    A reação tanto do juiz quanto da defesa foi imediata. “O senhor faça a pergunta de forma objetiva, senão vou indeferi-la”, disse o juiz. “Faça o que é a sua obrigação”, afirmou Podval.

    O juiz então disse que se as partes – acusação e defesa – partissem para o xingamento, iria retirar a palavra de ambos. Em seguida, indeferiu a pergunta do promotor. “Pela ironia”, justificou. Em seguida, Alexandre foi questionado se tinha conhecimento de que o zelador continuava trabalhando no edifício London. “Estou preso há dois anos, não tenho essa informação”, declarou o réu.

    Às 13h34, o júri foi suspenso por uma hora. E foi retomado às 15h15.

    Foto: Editoria de Arte/G1

    Ilustração mostra Alexandre Nardoni durante julgamento; arte foi feita a partir de relato de jornalista (Foto: Editoria de Arte/G1)

    G1

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