As Damas de Branco, grupo de mães e mulheres de presos políticos cubanos, entraram ontem no quarto dia de protestos contra o regime de Fidel e Raúl Castro e, apesar de serem fortemente repudiadas por partidários do governo, prometeram continuar as manifestações.

 “Estamos pedindo a liberdade de nossos homens de maneira pacífica e vamos continuar até que eles sejam libertados ou que o regime cubano nos mate e derrame nosso sangue pelas ruas de Havana”, afirmou ao Estado, por telefone, Bertha Soler, integrante do grupo. “Queremos que o mundo inteiro veja que este é um governo ditador.”

Bertha é casada com Ángel Moya Acosta, preso desde 2003 e condenado a 20 anos de prisão por “atentar contra a independência e a integridade territorial do Estado”. “Conversei com meu marido por telefone e ele me disse que não era para eu ter medo, que devemos continuar protestando.”

As manifestações das Damas de Branco têm como objetivo marcar os sete anos da chamada “primavera negra”, ofensiva do regime contra a oposição iniciada em 18 de março de 2003, que resultou na prisão e condenação de 75 dissidentes.

Nas primeiras horas de ontem, cerca de 30 integrantes das Damas de Branco reuniram-se para assistir a uma missa na igreja de La Merced, em Havana Velha. De lá, saíram em marcha silenciosa, carregando flores e vestidas de branco, enquanto cerca de 800 partidários de Fidel gritavam insultos contra elas.

Policiais à paisana formaram um cordão de proteção em torno das mulheres para evitar o confronto entre os dois grupos. No entanto, diferentemente do que ocorreu na quarta-feira ? quando as mulheres foram arrastadas pelos cabelos e obrigadas a entrar em ônibus do governo ?, as forças de segurança não interferiram na manifestação.

O protesto seguiu por mais 90 minutos e terminou na casa de Laura Pollán, líder das Damas de Branco. Durante a manifestação, ela exibia o braço engessado, que teria machucado depois da repressão ao protesto de quarta-feira.

“Falei com Laura e ela me disse que sente muita dor depois de ter fraturado um dedo durante a marcha de ontem”, disse a blogueira opositora Yoani Sánchez. “A presença de tantos partidários do governo faz parte de uma estratégia do regime, que organiza e orienta essas pessoas para fazer agressões verbais contra quem está protestando de maneira pacífica na rua.”

Pedido. O grupo de direitos humanos Anistia Internacional pediu ontem ao presidente cubano, Raúl Castro, que ponha um fim à perseguição às integrantes das Damas de Branco.

“As autoridades cubanas devem frear a repressão aos dissidentes e deixar de perseguir aqueles que só estão pedindo justiça e exercendo sua liberdade de expressão”, afirmou, em comunicado, Kerrie Howard, vice-presidente da entidade para as Américas.

Ela ainda ressaltou que o governo cubano deveria examinar sua “legislação repressiva e libertar aqueles que estão presos há anos por ter sido sentenciados em julgamentos por acusações que, com frequência, não têm nenhum fundamento”.

O confronto entre as dissidentes e as forças do governo ocorre em um momento complicado, no qual o regime é duramente criticado pela má situação dos direitos humanos no país. Havana rejeita as críticas, afirmando que os dissidentes não passam de “mercenários a serviço dos EUA”.

Estadão

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