Ao que tudo indica, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não quer se candidatar para um cargo público sob a pecha de freio do crescimento econômico. Em uma decisão conturbada tanto no mercado quanto no próprio Comitê de Política Econômica, o Copom, o BC manteve a taxa básica de juros da economia em 8,75% ao ano. Foi a quinta reunião consecutiva de manutenção da taxa.

Segundo a nota divulgada pelo Banco Central, o Copom ainda está atento as perspectivas para a inflação. “O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”, afirma a nota.

O placar da reunião, no entanto, aponta que a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 27 e 28 de abril, deverá decidir por um aumento na Selic. Os três votos contrários à manutenção foram de diretores que preferiam ver a taxa de juros ser aumentada em 0,5 ponto percentual – bem acima do comum em momentos tranqüilos, quando a definição é pelo 0,25 ponto percentual.
 
O Ibovespa chegou a cravar essa tendência no fechamento, registrando uma baixa de 0,31% mesmo com os mercados externos operando no azul ao longo do dia. O dólar também foi outro que sentiu com as dúvidas alimentadas pelos analistas e fechou cotada a R$ 1,766, em desvalorização de 0,11%.

“Com a expectativa da decisão do Copom, a moeda americana não conseguiu desenvolver ganhos em relação ao real e ficou sem força para firmar tendência”, avalia Marcelo Oliveira, operador de câmbio da corretora BGC Liquidez. “Apesar de a decisão sobre a taxa básica de juros ser divulgada após o fechamento dos mercados, os investidores não buscaram posição no dólar para evitar surpresas.”

Análise

Para o economista Roberto Padovani, do WestLB, a decisão do Copom foi acertada. Em primeiro lugar, o adiamento no aumento da Selic serve para pôr fim aos exageros do mercado sobre os rumos da inflação. Além disso, a espera permitirá ao BC ver o real ritmo da atividade econômica e identificar o que realmente é inflação ou apenas reajustes sazonais de preços, como nas tarifas públicas e em produtos agrícolas cujas safras foram prejudicadas pelo clima.

“A clareza maior dos indicadores permitirá ganhos”, afirma Padovani.

Dos três votos pela alta na Selic, ao menos dois são claramente identificados pelo mercado. São de Mário Mesquita, atual diretor de Política Econômica e possivelmente demissionário, e de Carlos Hamilton, diretor de Assuntos Internacionais.

Segundo analistas, são votos já combinados que deverão mostrar ao mercado que, em abril, o aumento dos juros será líquido e certo.

Trajetória

Por conta da crise economia mundial, o BC iniciou um movimento de queda na taxa de juros em dezembro de 2008, quando a Selic estava em 13,75%. Na reunião de julho de 2009, a taxa chegou aos atuais 8,75% ao ano.

Segundo dados do último Boletim Focus, do Banco Central, o mercado espera que a Selic feche 2010 em 11,25% ao ano.

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