A tatuagem tribal na região do cóccix e o cabelo trançado que a adolescente Érica dos Santos Calmon, 15 anos, ostentava com orgulho foram as marcas que agentes da 2ª Delegacia (Liberdade) usaram para identificar seu corpo em meio a galhos secos, lama e insetos na localidade de Machadinho, na Estrada da Cascalheira, em Camaçari.

O corpo da adolescente, que estava desaparecida desde a noite de quinta- feira após operação no Pero Vaz da Polícia Militar que culminou com a morte de quatro pessoas e no desaparecimento dela e mais três, foi encontrado na terça-feira (9) à tarde ainda trajando short jeans e com perfurações nas costas. “Meu Deus, pelo que você está dizendo é ela mesmo”, lamentou a mãe de Érica, a comerciante Natalice Fernandes, ao ser informada pela reportagem e confirmar os traços da filha como iguais à descrição do corpo.

Érica, sua amiga Alessandra de Jesus Santos, 17, Luiz Alberto Pereira Santos e um homem chamado de Itailton sumiram após a operação policial no bairro. Enterrado, em outra zona de matagal a um quilômetro de distância do corpo de Érica, a polícia localizou o corpo de um homem negro, com idade aproximada de 25 anos com a cabeça esfacelada. Junto ao corpo dele, foi encontrada uma fatura das lojas C&A em nome de Adaílton Cruz dos Santos, jovem que foi morto durante a operação – o que relaciona os casos.

Além dele, no alegado confronto com agentes da Rotamo e da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar morreram Gilberto André Matos Conceição, 31, Bruno Rafael Santana dos Santos, 25, que já tinha passagem na polícia por tráfico e homicídio, e Everaldo Rocha Guimarães, 26, foragido da Justiça por assalto a supermercados.

O delegado Miguel Cicarelli informou que, se confirmado pericialmente que os corpos localizados também foram mortos na operação, fica reforçada a denúncia de que a polícia teria os matado. Junto aos corpos foi encontrado um lençol e uma cortina usados para enrolar e transportar os os corpos das vítimas.

Desaparecimentos são apurados em três instâncias
O desaparecimento de quatro pessoas após a operação em Pero Vaz é alvo de três investigações paralelas: 2ª Delegacia (Liberdade), Ministério Público e Inquérito Policial Militar (IPM), que é presidido pelo capitão Érico Fernandes Pugliese Lessa, da mesma companhia dos policiais acusados da chacina.

Em função disso, segundo a promotora Isabel Adelaide, do Grupo de Atuação Especial para o Controle Externo da Atividade Policial, o IPM deve ser conduzido pela corregedoria geral da instituição. “O comandante da CIPM da Liberdade destacou que os familiares das vítimas podem se sentir intimidados em prestar depoimento no mesmo local onde os policiais são acusados”, destacou a promotora que nesta quarta-feira (10) acompanhará a perícia dos corpos localizados em Camaçari.

Na terça-feira (9), o delegado Miguel Cicarelli ouviu parentes das vítimas “que disseram ter sido informados que os desaparecidos foram colocados nos fundos de uma viatura da Rotamo”. “Foi feita perícia nas sete armas apresentadas pelos policiais. Com o laudo saberemos o que houve”.

CORREIO

Compartilhe